A busca dessa unidade foi um dos objetivos centrais do Concílio Vaticano II. Ainda incomoda muito constatar que os princípios cristãos ainda não livraram a sociedade dos esquemas de corrupção, dos desmazelos sociais e das indiferenças que comprometem a paz. Essa realidade é uma vergonha para quem crê em Jesus, pois os processos de transformação social e político precisam ser fecundados pela força da fé. Falta a consciência clara de que se está caminhando para o Reino definitivo. A unidade dos cristãos como força de articulação que pode colaborar nessa caminhada, pela singularidade dos valores do Evangelho, é uma meta que, lamentavelmente, ainda não conquistou a necessária mobilização. Isso pode ser percebido quando se observa a participação das pessoas nos momentos que integram a programação proposta pela Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos. Poucas confissões religiosas se interessam e colaboram.
Na contramão desse caminho, o tecido cristão subjacente na sociedade brasileira vai recebendo matizes e direcionamentos que se distanciam do sentido e do compromisso da unidade. Está se verificando um fenômeno que urge a atenção do Estado, com seus governantes, bem como das Igrejas, com seus líderes, no sentido de parar um preocupante processo de deterioração da essencialidade do viver cristão. A fé cristã pode contribuir de maneira determinante e transformadora para o bem da sociedade. Porém, é uma aberração fazer da fé uma prática para sustentar partidarismos, bancadas nos âmbitos parlamentares, apoios em troca de interesses específicos, sombreando o horizonte de uma política que busca, acima de tudo, o bem comum.
Não menos preocupante é a realidade que se configura com a facilidade para se autodenominar “igreja cristã” e, assim, conseguir isenções de taxas e impostos, almejando negócios e enriquecimento ilícito. Esse problema merece atenção das confissões religiosas cristãs, particularmente pede a abertura para se rever os tratamentos recebidos, em razão de legislações que favorecem também práticas na contramão do bem comum. A força que impulsiona a construção e a vivência da unidade dos cristãos deve ser cultivada a partir da autenticidade e da coerência no âmbito das práticas religiosas, sem medo, sem proselitismos, sem disputa para arrebanhar mais gente. Assim, os cristãos, em unidade, poderão enfrentar problemas, a exemplo do que incide sobre a população jovem, cada vez mais indiferente em relação à vivência da religiosidade. É oportuno lembrar que a construção de um caminho sem o horizonte dos valores e princípios cristãos reforça o ciclo de crises existenciais e sociopolíticas. Também não se pode deixar de pensar na urgência do fortalecimento do tecido da unidade entre os cristãos para que todos possam melhor cuidar da “casa comum”.
Essa tarefa, é verdade, envolve prioritariamente as instâncias governamentais e os detentores do poder de decisão. As autoridades que representam o povo precisam trabalhar para deter as desarvoradas ganâncias que levam a um desenvolvimento questionável. Mas os cristãos todos também têm um insubstituível compromisso com a “casa comum”. Pela força da fidelidade ao Evangelho, devem cultivar hábitos novos, participação cidadã qualificada e, assim, colaborar na reconstrução da sociedade.
Diante da obra da Criação, a partir da redenção conquistada pela morte e ressurreição de Jesus, os cristãos são chamados, pois, a construir sua unidade, enriquecida pelas diferenças. Assim, poderão protagonizar a cidadania, com o perfil próprio de quem crê em Cristo, dando as mãos em torno de programas e projetos que balizem o caminho da sociedade sempre no horizonte da verdade, da justiça e da solidariedade. A Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos, embora tão frágil em publicidade e em participação das igrejas, das várias confissões denominadas cristãs, é um broto de esperança. Trata-se de alerta que mostra a importância dos cristãos se unirem para defender a vida. Deixar para depois o momento dessa união pode ser prenúncio de um futuro triste, conforme sinaliza significativa parte da juventude de hoje, indiferente à fonte inesgotável de vida plena: o Evangelho de Jesus Cristo. Que a Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos contribua para que todos, como discípulos de Jesus, caminhem de mãos unidas.