A casa modesta de Ronaldo Geraldo de Oliveira (42 anos) e Sabrina Luana Dias Rodrigues (28 anos) no bairro São Thomaz, em Belo Horizonte, foi reformada com extremo cuidado para receber seus quatro filhos, com idade entre 2 e 9 anos. O uso frequente de álcool e outras drogas, a baixa frequência escolar das crianças e os poucos cuidados com a higiene, entre outros motivos, levaram à destituição do poder familiar. Os quatro filhos foram encaminhados pela Justiça ao serviço Famílias Acolhedoras, uma parceria da Providens – Ação Social Arquidiocesana com o Poder Público. O objetivo do serviço é que famílias voluntárias acolham provisoriamente crianças e adolescentes afastados de suas famílias por decisão da Justiça.
Os quatro filhos do casal Ronaldo e Sabrina, desde abril de 2018, foram acolhidos por dois casais integrantes do serviço. Como a família superou o vício e está procurando se organizar, o parecer dos técnicos do Famílias Acolhedoras é pela reintegração das crianças à sua família de origem. Os pais, Ronaldo e Sabrina, não veem a hora de estar novamente com os filhos. “Além da reforma da casa, a gente já providenciou a matrícula deles em uma escola próxima”, diz Ronaldo, que é lavador de carros. Sabrina, que faz faxinas, diz que o casal já conseguiu se reestruturar para receber os pequeninos. “Essa família é um grande exemplo de superação e sucesso do nosso serviço. Com o acompanhamento de nossa equipe, eles conseguiram uma evolução enorme em pouco tempo”, confirma a coordenadora do Família Acolhedoras, Maria Margareth Pereira.
Durante os últimos meses, uma vez por semana, Ronaldo e Sabrina foram à sede do Famílias Acolhedoras e tiveram contato com os filhos. “Nesses encontros, observamos um grande progresso na interação família de origem e filhos”, explica a coordenadora. “Agradeço muito às famílias que acolheram os nossos filhos com muito carinho nesse momento tão difícil da vida da gente”, reconhece Ronaldo.
O processo de habilitação das famílias acolhedoras contempla entrevista para explicar o serviço, visita familiar, documentação, capacitação e assinatura de termos, em que é manifestado o comprometimento da família com as diretrizes do serviço. Atualmente a equipe do Famílias Acolhedoras é formada por três assistentes sociais, três psicólogas e quatro estagiárias dos cursos de Serviço Social e Psicologia da PUC Minas.
O serviço Famílias Acolhedoras promove duas modalidades de acolhimento. A primeira é de curta duração, até 18 meses (um ano e meio). A segunda modalidade é necessária quando há destituição do poder familiar da família de origem, e a criança ou adolescente não deve retornar a viver com seus pais. Nessa segunda modalidade, em alguns casos, as famílias acolhedoras podem reivindicar a adoção. A família de Ronaldo e Sabrina representa a primeira modalidade, quando há chance real de reintegração dos menores à família.
Entre os critérios para se tornar uma família acolhedora, encontram-se: residir em Belo Horizonte há pelo menos dois anos; ter, no mínimo, 21 anos; não ter antecedentes criminais; existir concordância explícita de todos os membros da família para o acolhimento; estar disposto a receber as crianças temporariamente e não ter a intenção de adotar; não ter dependentes químicos na família; aceitar e se comprometer com as diretrizes do serviço. “O nosso objetivo é o de sempre incentivar o retorno à família de origem. Temos que fazer os pais compreenderem a importância de seu papel na educação dos filhos e a se reencantar com essa maravilhosa missão. E à família acolhedora cabe planejar a acolhida de uma pessoa que se encontra no momento vulnerável, talvez no mais difícil período da vida”, ressalta Marcília Neves.