Pastoral integra comunidade surda a celebrações e movimentos da Igreja

A missão da Pastoral do Surdo é levar a Palavra de Deus a todos que têm problemas de audição e proporcionar a inclusão social e espiritual. O trabalho é realizado com muita dedicação por voluntários e pelo capelão do Curato Nossa Senhora do Silêncio, padre Wagner Douglas. Além das celebrações semanais em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, a Pastoral proporciona à comunidade surda a oportunidade de participar dos momentos especiais da Igreja, compreendendo cada palavra dita e auxiliando na liturgia, a exemplo do que ocorreu recentemente na Semana Santa e na Páscoa. A Pastoral do Surdo também possibilita a integração da Comunidade Surda aos movimentos da Igreja. Neste mês de abril foi realizado o Encontro de Casais Surdos com Cristo. O evento, totalmente realizado em Libras, reuniu diversos casais.

Um trabalho silencioso que ajuda muita gente. Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que no Brasil existe um total de 28 milhões de pessoas com surdez, que representam 14% da população brasileira. Além disso, 10% da população mundial tem alguma perda auditiva. Segundo a mesma organização, cerca de 466 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem com problemas auditivos. Dessas, 34 milhões são crianças. O relatório ainda mostra que o número total de surdos pode ser 900 milhões até 2050.

O curso de Libras é oferecido em quatro modalidades. Há o curso para surdos; o curso para familiares de surdos e para profissionais que atuam na educação, saúde e justiça; o curso de libras Tátil (ministrado por Surdos usuários da Língua de Sinais), com o objetivo de formar intérpretes para acompanhamento dos surdos em todas suas necessidades de acessibilidade; e o curso de formação de intérpretes para acompanhamento dos surdos em celebrações eucarísticas, casamentos, batizados, primeira comunhão e crisma.

O curso de formação de intérpretes possui carga horária de 180 horas, com aulas duas vezes por semana. Os alunos participam de aulas práticas e teóricas com músicas e contação de histórias. O grupo também realiza viagens culturais. Há ainda o curso de formação de catequistas para atuação com crianças, jovens e adultos.

No escopo de atividades da Pastoral do surdo encontra-se ainda o atendimento a pessoas surdas como o objetivo de solucionar problemas relacionados a bancos, Cemig, Copasa e operadores telefônicos. Além de agendamento e acompanhamento para exames e consultas com médicos, dentistas, psicólogos e advogados. A Pastoral também auxilia pessoas surdas em questões relacionadas ao INSS e à cidadania de modo geral.

O padre Wagner Douglas  se sente pastor de um rebanho especial. “São pessoas que têm um jeito de interagir com o mundo diferente de nós, ouvintes. É um trabalho desafiador, mas estimulante. Podemos já ver os frutos quando ultrapassamos as barreiras da comunicação e vemos a força do Evangelho chegar a cada pessoa surda. São pessoas que precisam ser muito amadas, incluídas na sociedade e, sobretudo, sentir, a misericórdia divina”, declara o padre Wagner Douglas. Além de exercer a dimensão sacramental, o capelão cuida da gestão de toda a pastoral.

Transformando vidas

A costureira e artesã Leísa Maria Aléssio Gardini de Castro trabalha há 11 anos na Pastoral do Surdo. Aos 70 anos, com criatividade, ela faz aproximadamente 30 bolsas de lona com apliques de tecidos por mês. As estampas incluem animais, como coruja e papagaio, e são multicoloridas. O trabalho muito bem aceito pelos clientes é comercializado em feiras e eventos, e as receitas contribuem para a sustentabilidade da Pastoral do Surdo.

Surda, ao lado do esposo Cícero de Castro, ela participou, como voluntária, da criação da Pastoral do Surdo em Belo Horizonte em 1992. Cícero, que também era surdo, morreu há 11 anos. Leísa ainda teve que conviver com a perda precoce do único filho, o jovem surdo Fabrizzio, que morreu há oito anos. “Na Pastoral, sinto-me útil e consigo reunir forças para superar todos esses problemas. Procuro sempre trabalhar com criatividade”, diz a artesã. As encomendas estão se multiplicando na avaliação da coordenação da Pastoral.

Também surdos, os irmãos Daivisson Marçal, 25 anos, e Juliana Marçal, 23 anos, frequentam duas vezes por semana o curso de Língua Brasileira de Sinais (Libras) fornecido pela Pastoral do Surdo e participam das atividades com extrema dedicação, transbordando felicidade.

Daivisson diz que há dois anos a Pastoral do Surdo contribuiu para transformar a vida dele e da irmã. “Não tínhamos contato com outras pessoas surdas, vivíamos reclusos em nossa residência e em um mundo irreal. A Pastoral do Surdo nos permitiu vislumbrar uma nova perspectiva de vida”, afirma.

Ele conta que, por não ter contato com outras pessoas surdas, aprendeu primeiro o português e não possuía nenhum conhecimento de Libras, que considera hoje a sua principal língua. “Ao expressar somente por meio do português nos sentíamos excluídos da sociedade. A Pastoral nos fez descobrir um novo mundo”, confirma Juliana Marçal. Os irmãos pretendem agora se formar no curso Formação de Instrutores Surdos, realizado pela Pastoral do Surdo em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro e prosseguir o trabalho na Pastoral contribuindo para a inclusão social de outras pessoas surdas.

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