Pastoral dos Sem-Casa contribui para que famílias exerçam a cidadania e conquistem moradia digna

A ex-cantineira municipal Neusa da Purificação, 65 anos, hoje vive em uma casa de doze cômodos, com duas áreas privativas, cinco quartos, quatro banheiros, duas salas espaçosas, copa, cozinha e garagem para dois veículos no bairro Jardim Felicidade (antigo Conjunto Felicidade). Há sete anos, ela conseguiu o título de escritura de posse do terreno fornecido pela Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). Hoje sobra espaço, porque a maioria de seus dez filhos, oito homens e duas mulheres, casaram e se mudaram para residências próprias.

Mas nem sempre foi assim. Quem hoje vê a casa ampla, mas construída com muita dificuldade, não imagina como era a sua moradia na década de 1980. Naquela época, ela vivia em condições precárias em um barraco de aluguel de três cômodos, com sete filhos, sendo um deles deficiente. “Naquela época, às vezes faltava até comida, porque o dinheiro não dava para arcar com quase nada”, conta Neusa.

A mudança de vida se deu depois que ela resolveu se unir, ainda na década de 1980, ao trabalho desenvolvido pela Pastoral dos Sem-Casa, ao lado do padre Pier Luigi Bernareggi, mais conhecido como Padre Pigi, que sempre vislumbrou e foi abnegado defensor do direito à moradia digna em Belo Horizonte e região metropolitana. O trabalho da Pastoral contribuiu para que famílias fossem respeitadas no direito à moradia. Hoje, 54 mil famílias residem em um local que já foi considerado ocupação urbana, sem reconhecimento do Estado, onde atualmente estão os bairros Jardim Felicidade, Capitão Eduardo, Primeiro de Maio, Providência e Araão Reis. Neuza da Purificação conta que, mesmo depois de conseguir a propriedade, continuou solidária aos que buscam conquistar uma moradia digna. “A gente não se esquece do passado”. O grupo do qual Neuza é integrante, vinculado à Pastoral, presta apoio a 60 famílias que não possuem residência.

Líder da Pastoral dos Sem-Casa, Carlos Alberto Santos da Silva afirma que as reuniões semanais continuaram virtualmente, por meios eletrônicos, durante a pandemia. “Todos nós nos preocupamos bastante com o déficit habitacional e temos que lutar para que cada vez mais famílias possam ter a sua casa própria. Nosso objetivo é que as Leis de Ocupação do Solo de Belo Horizonte e de cidades da Região Metropolitana sejam revistas”, explica Carlos Silva.  A Pastoral dos Sem-Casa estima que, atualmente, 275 mil famílias são privadas do direito de viver em uma habitação digna. Muitas dessas famílias poderiam ser atendidas por doações de terras devolutas (terras públicas sem destinação, mesmo que em posse irregular de particulares).

Adeus a Padre Pigi

Em janeiro deste ano de 2021, a Igreja se despediu de padre Pigi, que faleceu aos 81 anos, depois de cumprir exemplarmente a sua missão. Muitos, especialmente os mais pobres, têm histórias e relatos de gratidão sobre o sacerdote, grande líder da Pastoral dos Sem Casa. A frase do padre Raphael do Carmo, mestrando em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, sintetiza, redigida em homenagem póstuma, sintetiza a percepção de cada pessoa acolhida por padre Pigi: “Eu vi um santo”.

 

 

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