Durante a pandemia, as visitas regulares aos centros de internação de menores que cometeram atos infracionais foram suspensas, mas os agentes da Pastoral do Menor continuaram a manter contato por meio de cartas. As mensagens continham poemas autorais dos agentes, trechos de músicas, orações e desenhos. O adolescente Paulo (nome fictício), 17 anos, interno do Centro Socioeducativo Santa Helena (CSESH), ficou emocionado com as cartas que recebeu nesse período. “Os agentes da Pastoral mostraram consideração comigo, por isso gostei muito de receber as cartas. Pretendo conhecê-los pessoalmente assim que for possível”, diz Paulo.
No Centro, entre as atividades, Paulo frequenta o curso que consolida aprendizados dos anos finais do ensino fundamental, etapa 1, referente ao 6º e ao 7º ano. Ele diz que se destaca nas aulas de matemática e tem esforçado para recuperar a ausência nos estudos tradicionais, que deixou de frequentar há alguns anos. Com as orientações dos agentes da Pastoral do Menor, Paulo conta que pretende conseguir um emprego formal e ajudar os seus familiares. “Também não quero dar mais desgosto para minha mãe, porque ela sofre muito por eu estar aqui no centro”, planeja Paulo.
De acordo com a analista Executivo da Defesa Social, a pedagoga Cíntia Cristina Silva, que atua no CSESH, o trabalho da Pastoral do Menor tem sido fundamental para a recuperação dos internos. “A sociedade geralmente os enxerga de maneira discriminatória. Diferentemente, os integrantes da Pastoral do Menor os tratam com muito carinho, atenção e respeito. Os agentes ainda ajudam os internos a refletirem sobre as consequências de seus atos, de suas escolhas, para que se reconheçam protagonistas da própria vida”, explica Cíntia, que trabalha na instituição há mais de oito anos.
Há um ano e oito meses, o agente e membro da coordenação da Pastoral do Menor, Aldeman A. de Carvalho Neto, 28 anos, desenvolve trabalho com adolescentes, homens e mulheres, internos em três dos nove centros de internação existentes em Belo Horizonte. Em todo o Estado de Minas Gerais há 25 centros. Antes da Pandemia de Covid-19, ele realizava uma visita mensal aos centros promovendo atividades com grupos de até dez adolescentes com duração entre uma e duas horas. Eram realizadas dinâmicas e conversas sobre juventude, religião e família. No período da pandemia, com a suspensão das visitas, além as cartas, os agentes da Pastoral do Menor também enviaram filmes que retratam histórias de adolescentes capazes de retomar o protagonismo da própria vida, explica Aldeman Neto, que é religioso da Companhia de Jesus, psicólogo e estudante de filosofia.
A proposta da Pastoral do Menor, assim que terminar o período restritivo, é fazer um trabalho preventivo com adolescentes que residem em comunidades pobres. “Estamos em contato com sacerdotes dessas regiões para que possam nos ajudar a dialogar com os adolescentes dessas comunidades”, diz Aldeman Neto.