No início da manhã do dia 30 de maio de 2020, em Três Pontas (MG), uma operação policial jamais vista nessa cidade do interior prendeu 18 pessoas que estariam associadas ao tráfico de drogas. Entre elas, encontrava-se a psicóloga Louise Costa Veloso, 41 anos. Ela foi acusada pela polícia de ser a gerente do tráfico na região. Por ter trabalhado no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), ela teria mantido contato rotineiro com pessoas associadas ao crime e obtido informações privilegiadas. A operação Aliado, que reuniu policiais civis e militares, foi exibida em rede nacional pelas principais emissoras de canal aberto. “Ganhei uma superexposição, sem poder me defender”, diz Louise. Os primeiros quatro meses ela esteve presa no complexo Penitenciário Estevão Pinto, em Belo Horizonte, na mesma unidade prisional em que fez estágio em psicologia no início dos anos 2000. “Nessa época eu chorava compulsivamente e só sabia perguntar a Deus por qual motivo eu estava passando por essa privação”, conta Louise que, no período mais crítico, começou a receber visitas regulares de agentes da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Belo Horizonte e se sentiu bastante acolhida. “Eles me ensinaram que mais importante do que saber por que estava presa, era refletir e tentar compreender o que eu poderia fazer para superar esse trauma e conseguir melhorar a minha vida”, recorda-se.
Louise diz que vivia o melhor momento profissional quando foi presa. Ela mantinha contrato com 12 empresas de Três Corações, entre elas restaurante, pizzaria, curso de inglês, academia, supermercado, para treinar a equipe de profissionais desses empreendimentos. Todos os contratos foram anulados. No cárcere, incentivada por agentes da Pastoral Carcerária, ela escreveu um livro que ajuda mulheres a superarem relacionamentos abusivos. A obra ainda não foi publicada.
A coordenadora da Pastoral Carcerária, Ana Lúcia de Souza, diz que houve suspensão de visitas regulares aos presos, pois parte da população carcerária e um número significativo de agentes de Pastoral integram o grupo mais vulnerável à Covid-19. Por meio de contatos com familiares de presos, a Pastoral Carcerária levou aos presídios material de higiene, máscaras e roupas, que eram acompanhadas de mensagens de fé, esperança, coragem, com vídeos e áudios gravados pelos agentes da Pastoral. Além disso, os agentes da Pastoral responderam a 150 cartas enviadas pelos detentos no período da pandemia. Em 2020, a Pastoral Carcerária celebrou 40 anos e planeja publicar um livro, em parceria com a PUC minas, sobre suas quatro décadas de história, a serviço da ressocialização de presos.