O Lar frei Leopoldo ampara meninas em situação de risco. Entre as muitas atividades que contribuem para o desenvolvimento das pequeninas estão as oficinas de capoeira
Todas as terças-feiras, o som ritmado e vibrante do berimbau toma conta de um salão no Lar Frei Leopoldo. O gingado do grupo de meninas é acompanhado por um instrutor. Ele as ensina as técnicas da capoeira. No grupo, encontram-se as irmãs Ana, 17 anos, e Daniele, 16. Seus nomes serão preservados, pois as crianças amparadas no Lar Frei Leopoldo estão sob a proteção da Justiça. Cada menina confecciona o próprio berimbau e mostra destreza na “roda” de capoeira. Prendada, Ana fez recentemente um curso de cabeleireiro no Centro de Formação Profissional Divina Providência. E atualmente é a responsável por deixar ainda mais bonitas as crianças acolhidas no Lar Frei Leopoldo. “Aprendi o corte, a escova e estou me especializando em cabelo afro”, conta sorridente. Desde 2008, no Lar Frei Leopoldo, Ana também aprendeu a tocar flauta e violino e fez aulas de balé. Ela trabalha ainda em uma instituição do poder público, por meio da Associação Profissionalizante do Menor (Aspprom), que é uma entidade sem fins lucrativos, beneficente, com o objetivo principal de promover a inclusão social e inserção de adolescentes no mercado de trabalho.
Como só pode ficar no abrigo até os 18 anos, Ana, que deve deixar o Lar Frei Leopoldo no início do próximo ano, já faz planos para conquistar a autonomia. Ela e o namorado Lucas, que conheceu há um ano, pretendem constituir uma família.
De acordo com a psicóloga e pedagoga Maria Aparecida de Souza, o Lar Frei Leopoldo prepara as jovens para o momento em que elas não mais viverão na Instituição. “Nós orientamos e mostramos exemplos de como essa transição pode ser feita de maneira madura e tranquila”, diz Maria Aparecida, que também é coordenadora do Lar. Segundo Ana, o desligamento não será fácil. “Aqui é a nossa casa e somos uma grande família”, diz. Para compensar a saudade, ela pretende visitar o abrigo para rever as várias amigas e principalmente a irmã Daniele, que deve permanecer mais um tempo por lá.
O Lar Frei Leopoldo é uma das instituições que abrigam meninas encaminhadas por medidas socioprotetivas e provisórias, pelos conselhos tutelares regionais de Belo Horizonte e da Vara da Infância e Juventude. Essas crianças, por estarem ameaçadas, não podem mais conviver com suas famílias de origem. A dependência química dos pais, as ameaças do tráfico de drogas e tantos outros males impedem que as pequeninas vivam e cresçam com segurança no lar onde nasceram. Assim, o Lar Frei Leopoldo acolhe as meninas até que ocorra a reestruturação de suas famílias.
A missão do Lar Frei Leopoldo, que integra a Providens, instituição da Arquidiocese de Belo Horizonte, é contribuir para o desenvolvimento físico e mental, psicológico, intelectual e social, oferecendo alimentação, acompanhamento educacional, moradia, saúde e cultura para as assistidas. A coordenadora ressalta que a solidariedade é a principal força que permite ao Lar Frei Leopoldo tornar-se, cada vez mais, uma instituição de referência na promoção de qualidade de vida para meninas afastadas de suas famílias.