Igreja ajuda na prevenção e recuperação da dependência química

A Pastoral da Sobriedade da Arquidiocese de Belo Horizonte é um importante apoio para as pessoas que desejam superar a dependência química e suas famílias. São 25 grupos que se reúnem semanalmente nas paróquias e comunidades de fé e que no último ano realizaram mais de 14 mil atendimentos.

O trabalho segue a terapia do amor proposta pelo Papa João Paulo II, que compreende 12 passos: admitir, confiar, entregar, arrepender-se, renascer, reparar, professar a fé, orar, vigiar, servir, celebrar e festejar.

A Pastoral da Sobriedade atua ainda estruturada em cinco pilares: prevenção, internação, recuperação, reinserção familiar e social e atuação política. A atuação política consiste na participação dos coordenadores na criação e aprovação de políticas públicas específicas para dependentes químicos e seus familiares.

Os trabalhos incluem também o encaminhamento de usuários para comunidades terapêuticas. São feitos exames clínicos. Um médico fornece um laudo indicando a necessidade de internação, e os dependentes passam ainda por uma avaliação odontológica. “É importante que as internações sejam voluntárias, e não à força. O usuário tem que estar predisposto a mudar a sua vida”, esclarece a coordenadora da Pastoral da Sobriedade, Maria do Carmo Ferreira de Souza.

A recuperação do dependente químico, segundo Maria do Carmo, é um grande desafio, porque as tentações para eles são muitas. Por isso, é comum acontecer as indesejadas recaídas depois de um período de abstinência e as vitórias devem ser muito comemoradas, pois recompensam os agentes e integrantes dos grupos.

Mudança de vida

Dentre os motivos de comemorações na Pastoral da Sobriedade, está a recuperação do músico Antônio Viana, 63 anos, “sambista de raiz”, hoje um fervoroso agente da Pastoral. Tom Viana, como é mais conhecido, é presidente da Comunidade Caminho, Verdade e Vida, um grupo de apoio a pessoas em situação de rua ou que sofrem com outros tipos de vulnerabilidade social. A Comunidade desenvolve seus trabalhos em sua sede própria, nas ruas do Centro e, também, na região do Barreiro.

Mas, há dez anos, a vida do músico era bem diferente. Tom Vianna sofria com a dependência química. Experimentou todos os tipos de drogas, como álcool, maconha, cocaína e o crack. Tom Vianna diz que chegou a consumir dez pedras de crack por dia. Para pagá-las, desfez de inúmeros bens materiais. “Cheguei a trocar uma correntinha de ouro, avaliada na época em R$ 4 mil, por uma pedra de crack, que custava R$ 10. O usuário perde totalmente a noção de tudo. Ele tenta comprar a droga a qualquer custo”, conta o agente da Pastoral.

Por volta de 2010, ele chegou a ser internado em uma clínica de recuperação de dependentes em São Paulo, contra o próprio desejo. “Saí de lá pior do que entrei porque, clandestinamente, havia tráfico de drogas dentro do próprio estabelecimento”, conta Tom Vianna, que passou pouco tempo nessa clínica.

De volta a Belo Horizonte, começou a tocar nas Missas da Paróquia Cristo Libertador, do Bairro Tirol, aos domingos, pela manhã. Logo depois da Missa, embriagava-se nos bares e procurava as bocas de fumo. “Era um paradoxo que me deixava desconfortável”, lembra, sem saudades desse tempo. Nesse período, Tom Vianna começou a frequentar as reuniões semanais da Pastoral da Sobriedade. Desde 2012, não consome qualquer tipo de droga.

O grupo Comunidade Missionária Caminho, Verdade e Vida, do qual é presidente, foi criado há dois anos, em janeiro de 2016, como extensão de seu trabalho na Pastoral da Sobriedade, e oferece amparo a pessoas vulneráveis. Na sede, localizada na Conferência São Vicente de Paulo, semanalmente são oferecidos cursos profissionalizantes de corte e costura e artesanato, visando à geração de emprego e renda.

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