Há um ano o mesmo gesto de amor e de compromisso com os irmãos que têm fome se repete na cozinha da Catedral Cristo Rei, Igreja-Mãe da Arquidiocese de BH. Logo que o dia amanhece, a cozinha do Convivium Cristo Rei é tomada pela disposição de voluntários, pelo perfume da refeição, cuidadosamente preparada. Proteínas, carboidratos, verduras, legumes, temperos e hortaliças, estes últimos colhidos na própria horta da Catedral, transformam-se em refeições, como aquelas feitas pelas mães. O trabalho amoroso que completa um ano, faz parte do iniciativa “Dai-lhes vós mesmos de comer”, que garante, às sextas-feiras, almoço de alto valor nutritivo a jovens, idosos, adultos e crianças, famílias vivendo em regiões empobrecidas, em situação de risco, de abandono. Comunidades que a partir da pandemia passaram a enfrentar a fome e a escassez com mais força. Em um ano, a iniciativa partilhou 12 mil refeições.
Para muitos que recebem o alimento, a mesa é a própria rua, já que a fome não espera o percurso até a volta para casa. A iniciativa, inspirada na passagem bíblica, “Dai-lhes vós mesmos de comer” traz significado e esperança. “Nos lembra o dia em que Jesus realizou o milagre da multiplicação dos pães e peixes”, explica dom Walmor, idealizador da ação. “Nós temos o compromisso com os que passam fome e com as famílias em carência alimentar. A pandemia explicitou ainda mais as desigualdades sociais e aumentou o número de pessoas com fome. O objetivo é identificar os mais necessitados para que possamos ampará-los a partir da Catedral Cristo Rei – Igreja-Mãe”, nos lembra o Arcebispo.
Antes de serem distribuídos em comunidades, nas ruas e em viadutos, os 250 pratos são preparados em um trabalho que cresce a partir da caridade e já dobrou de tamanho desde o seu primeiro dia. “Nossa prioridade e, principalmente, desejo está em ajudar aqueles que mais precisam. Temos um cuidado muito grande com o valor nutricional das refeições, porque sabemos que o alimento chegará para muitas crianças e idosos”, explica Ozana de Fátima Silva, coordenadora da iniciativa. À frente de todas as etapas, Ozana faz questão de se dedicar ao preparo das refeições. Atenta às panelas e caldeirões fumegantes, ela nunca se ausentou da missão. Do mesmo modo, os alimentos, de alto valor nutritivo, nunca deixaram de chegar. Assim como os voluntários dispostos a ajudar. Todas as semanas a cozinha da Catedral está abastecida pela caridade e Providência Divina. Arroz com carne, feijão, abobrinha com ovos, cebola de cabeça, cebolinha, temperos verdes, alface, repolho, cenoura, esse é o exemplo de um prato do dia. “Nada é difícil para as coisas de Deus, tudo vai se encaminhando,” reflete Ozana.
Um dos destinos das refeições é a Congregação das Irmãs Maristas, no bairro Tupi, ponto de partida para a logística assertiva da distribuição. Irmã Solange Moura, que completa 25 anos de vida dedicada ao amor ao próximo, faz as primeira entregas para a comunidade ao entorno, principalmente dos bairros Ribeiro de Abreu, Conjunto Felicidade e bairro Tupi. Incansável, ela conhece bem o trabalho, mas no último ano lhe preocupou o crescimento, entre o público atendido, de menores atingidos pela fome. “Mães e crianças”, pondera.
Adolescentes e jovens em uso prejudical de álcool e outras drogas, mães que procuram trabalho com suas crianças, idosos já enfraquecidos pela lida diária, desempregados, todos contam com o almoço, que chega quentinho. Irmã Solange segue sua missão socorrendo os irmãos que vivem em viadutos e que passam o dia nos arredores dos abrigos. E o amor e as refeições vão se multiplicando, como os peixes. “Posso levar mais um, para o meu filho?”. Perguntas como essa, feita por Luisa de Souza, 50 anos, são comuns. Adriana Figueiredo, 42 anos, é faxineira e conta com a refeição para ela e os quatro filhos. O mais novo, de 8 anos, Marco Júnior, sempre acompanha a mãe, que no momento está sem trabalho, e por isso muitas vezes não consegue a quantia necessária para o gás de cozinha. Seu José Muniz, 64, mora sozinho e a refeição é um alívio para ele, que chega cedo no dia da partilha. No restante da semana ele procura se virar como pode, recolhendo latinhas, mas nem sempre consegue o valor do almoço. J.C tem 17 anos e se envolveu em um relacionamento conturbado. Na pandemia deixou a escola e nem sempre consegue clientes para o seu trabalho de manicure. A refeição a ajuda a seguir em frente, com mais ânimo para o dia. “Sabemos que essa comida é tão gostosa porque é feita com amor e carinho”, declara a adolescente.
Desde que começou, em 12 de fevereiro de 2021, a iniciativa “Dai-lhes vós mesmos de comer” já partilhou, além de milhares de refeições, cestas-básicas para famílias em situação de vulnerabilidade. E assim, vem alimentando o corpo e a alma. Além de organizar a cozinha, lavar a louça, cortar legumes em tamanhos bem iguais, cenoura, cebolinha, repolho, abobrinha, o voluntário Samuel Reis, zelador, 30 anos, aprendeu lições de “humildade”. Ele tem sido um ajudante aplicado. Desde o primeiro dia, nunca faltou à missão ou chegou atrasado: “Aprendi a respeitar todas as pessoas. Aqui eu me sinto muito bem, porque estou fazendo um trabalho de enorme valor.”
Existem muitas formas de contribuir com o “Dai-lhes vós mesmos de comer” . Quanto aos alimentos “o que mais precisamos por aqui, na cozinha, ainda é a proteína”, observa Ozana. (Veja galeria de fotos.)
Como participar do Programa Dai-lhes vós mesmos de comer:
As doações podem ser entregues na Catedral Cristo Rei:
R. Campo Verde, 165 – Bairro Juliana
Para mais informações (31) 3269-3100 e (31) 98623-7387 (whatsapp)
Você também pode fazer doações via conta bancária ou pix. Saiba mais, clicando aqui.
Fotos: Raphael Calixto