Um painel de 2,80 cm de largura por 2,20 de altura, no Centro Pop (Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua), foi totalmente preenchido com mosaicos, confeccionados pelas pessoas que são amparadas pela instituição. Cada participante foi convidado a registrar, por meio da arte, o que representa o Centro Pop para suas vidas. A oficina foi conduzida por Nélson dos Santos Pereira,64 anos, uma das muitas pessoas que já receberam a ajuda da Instituição, mantida pelo Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política da Arquidicoese de Belo Horizonte, em parceria com o poder público. O painel preparado pelas pessoas com trajetória de rua foi tocante homenagem ao Centro Pop, que celebrou 20 anos de história no ano passado.
Entre as imagens, há uma borboleta, que representa a transformação vivida por muitos que buscaram amparo na instituição. Uma árvore – que seria o próprio Centro Pop – está carregada de bons frutos, referência aos acolhidos. Dois rostos – um triste e outro alegre – representaram as dificuldades e alegrias que integram o cotidiano de quem vive nas ruas. Aluízio Geraldo e Carvalho Guimarães, supervisor do Centro Pop, testemunha, cotidianamente, as histórias de superação construídas a partir do acolhimento. A eficiência da instituição no resgate das pessoas que vivem nas ruas fez com que o seu modelo fosse incorporado à Política Nacional de Assistência. Assim, conforme explica Aluízio, trabalho que nasceu na Arquidiocese de Belo Horizonte inspira, atualmente, iniciativas semelhantes em todo o país. A história, a metodologia, a concepção do espaço físico, as oficinais realizadas e todo o saber construído na Capital Mineira se tornou modelo para os Centros Pop de outras cidades. “Talvez, a principal missão do Centro Pop seja a de servir de base para outras experiências e contribuir para que a população de rua seja visível às políticas sociais”, diz o supervisor.
Diariamente, o Centro Pop ampara 150 pessoas. Ajuda a população mais pobre a reconhecerem seus próprios direitos, a partir de orientações e encaminhamentos. Assim, auxilia pessoas com trajetória de rua na obtenção de documentos e na busca por serviços de saúde, promove a inclusão dos mais pobres em programas sociais e os orienta a respeito do direito à alimentação, encaminhando-os para que possam ser atendidos, gratuitamente, no Restaurante Popular – que oferece três refeições diárias.
No Centro Pop, as pessoas com trajetória de rua podem ainda cuidar da higiene pessoal, inclusive lavando a própria roupa, guardar seus pertences e participar de oficinas socioeducativas, organizadas por uma equipe técnica.
Entre as muitas pessoas histórias transformadas pela instituição está a do casal Gilberto Schineider de Almeida, 45 anos, e Júnia Flávia dos Santos, 31. Eles viveram nas ruas entre 2013 e 2015. Começaram a namorar e, no final de 2015, Júlia engravidou. Com a ajuda do Centro Pop, eles foram acolhidos em um abrigo. Em setembro de 2016, nasceu a filha Nicole Emanuelle Schineider dos Santos, com boa saúde. “Os administradores do Centro Pop foram fundamentais para que todo o pré-natal fosse feito com atenção e muito carinho. A gravidez foi bastante tranquila”, diz Júnia dos Santos.
Para ela, uma das vantagens é que a equipe do Centro Pop não passa a mão na cabeça de ninguém, mais indica os bons caminhos. “Lá, a gente aprende a ter mais dignidade, a se valorizar e também a respeitar as normas”, diz a ex-moradora de rua. Mesmo fora das ruas, Júnia, Gilberto e a pequena Nicole visitam frequentemente o Centro Pop para rever os amigos. “Lá a gente cria muitos vínculos porque, além do profissionalismo da equipe, existe sempre muito afeto nas relações, que são muito autênticas.”
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