Há 16 anos, a artesã Helenice da Conceição Teixeira vive com a família em um lar conquistado junto ao programa habitacional do município de Belo Horizonte, por meio de assessoria do Centro de Apoio aos Sem Casa (CASA) da Arquidiocese de Belo Horizonte. A iniciativa é fruto de parceria do Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política com a Misereor, instituição vinculada à Igreja Católica na Alemanha que apoia projetos de desenvolvimento social realizados na América Latina, África e Ásia.
Helenice residia no bairro Goiânia, na Região Noroeste da Capital, em uma casa cedida por sua sogra, mas tinha o sonho de ter o próprio lar. Graças ao convite de uma amiga, Helenice passou a frequentar as reuniões do CASA, buscando caminhos para conquistar o direito à moradia. A unidade habitacional conquistada foi construída por meio de auto gestão. “Eu tinha dois filhos pequenos e os levava para a escola. Depois, ia trabalhar no mutirão”, conta Helenice Teixeira. Ela se recorda do dia em que recebeu as chaves do seu novo lar. “É a realização do sonho”, resume a artesã.
Conforme explica Helenice Teixeira, o CASA tem papel decisivo na vida de muitas famílias, pois oferece assessoria e formação de líderes, orientando as pessoas que não sabem a quem recorrer para serem respeitadas no direito à moradia digna. Além disso, a artesã destaca os cursos, em diferentes áreas, promovidos pelo Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política, dedicados aos que são amparados pelo Centro de Apoio: curso de artesanato, culinária, reciclagem, informática, dentre outros que contribuem para a geração de emprego e renda.
Helenice Teixeira, mesmo após conquistar a casa própria, continuou integrada ao CASA, agora se dedicando às pessoas que não têm onde morar. “Quando vejo uma pessoa receber as chaves da casa própria, me emociono. Vivencio novamente o dia em que conquistei a minha moradia”. Ela ficou internada por dois anos, tratando de uma leucemia, mas, mesmo com as limitações impostas pela doença, buscou oferecer a sua ajuda às pessoas que ainda não têm a própria casa. “Quando a leucemia foi diagnosticada, já estava em estágio muito avançado. Eu já não falava e nem andava. Porém, fiquei com a mente ocupada, pensando no nosso grupo, no trabalho. Isso me ajudou. Recebi a força dos amigos, da família. No transplante de medula, tive que ficar no isolamento, mas pedi aos médicos para me deixarem com o celular, para ter notícias. Precisamos trabalhar, nos dedicar ao próximo. Deus, família e o grupo que trabalha pelo direito à moradia são os pilares da minha vida”, conclui Helenice, que hoje está curada da doença.
Também recebeu assessoria do Centro de Apoio aos Sem Casa a senhora Cleusa Pereira de Souza, que vivia em condições precárias, em uma vila no bairro Céu Azul, na região da Pampulha. Cleusa de Souza conta que há dez anos o seu marido, o senhor José Carlos, ficou paraplégico, após sofrer um atropelamento. A partir das orientações do CASA, Cleusa de Souza pode adquirir um apartamento no Conjunto Jaqueline, Região Norte de Belo Horizonte, e o imóvel foi completamente adaptado para garantir acessibilidade ao seu marido. “Minha participação no CASA foi decisiva para que eu pudesse realizar esse sonho”, diz a dona de casa.
O apartamento foi totalmente adaptado de acordo com as diretrizes da política habitacional do município para as famílias com necessidades especiais. As portas ficaram maiores para que seja facilitada a entrada da cadeira de rodas e os pisos são antiderrapantes. O banheiro foi equipado com barras de segurança e o registro possui altura adequada. A disposição dos móveis em todo o imóvel facilita a movimentação. “Como moramos no primeiro andar do prédio, meu marido consegue diariamente tomar banho de sol e conversar com os vizinhos, que são muito amigos”, conta Cleusa de Souza.
Criado a partir da Campanha da Fraternidade do ano de 1993, que teve como tema “Onde Morar?”, o Centro de Apoio aos Sem-Casa (CASA) busca assessorar, apoiar e animar os núcleos organizados de moradia, na abrangência da Arquidiocese de Belo Horizonte, e fortalecer a espiritualidade entre todos os que se dedicam à efetivação do direito à moradia.
Atualmente, o Centro de Apoio aos Sem-Casa possui 28 grupos, que congregam aproximadamente 1.680 famílias, beneficiando 6.720 pessoas, em Belo Horizonte e Contagem. O CASA representa seus integrantes em reuniões, conselhos, conferências e seminários que buscam solucionar o déficit da habitação. Para a formação de novos grupos, é preciso organizar uma assembleia e registrar esse primeiro encontro na ata de fundação. Também é preciso eleger a diretoria. Com a ata, o grupo se cadastra na Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) e seus integrantes iniciam o processo para aquisição da casa própria. É necessário seguir alguns critérios para se inserir no movimento de moradia, como residir há mais de dois anos em Belo Horizonte, ter renda familiar de até cinco salários mínimos e não ter sido contemplado em programas similares.
O CASA mantém um plantão de atendimento e orientação para as famílias sem-casa, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, no Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política da Arquidiocese de Belo Horizonte (Rua Além Paraíba, 208, bairro Lagoinha, Belo Horizonte – MG).