Catequese
Conhecendo melhor o Evangelho de Lucas
A maneira como cada evangelho começa e acaba indica muito as intenções do autor. Lucas faz seu evangelho começar no templo, com Zacarias, e terminar também no templo, com os discípulos de Jesus bendizendo a Deus. Esse é um modo de dizer que a vida toda de Jesus se desenrola sob o olhar de Deus, como o desenvolvimento de um projeto do Pai. A história de Jesus se enraíza no Antigo Testamento, representado pela família de Zacarias, e continua na Igreja, com os discípulos daquele tempo e de hoje.
Começar e acabar no templo também combina com uma característica própria de Lucas: é um evangelho que destaca muito a ação do Espírito Santo.
Como foi apresentado na edição anterior, uma característica própria do Evangelho de Lucas é que a salvação é oferecida para todos, sem excluir ninguém. Outras ações também aparecem de forma bastante claras: o anúncio da alegria que vem com Jesus, a atenção oferecida às pessoas. Há explicitamente uma grande ternura.
Lucas inicia o Evangelho anunciando a alegria do nascimento: Hoje vos nasceu na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor! Uma boa notícia.
Jesus adulto também foi boa notícia para muita gente que ele curou, perdoou, acolheu, socorreu e para todo o povo. De fato, para aquele povo e para todos os povos de todos os tempos, é o amor de Deus tornado visível através de Jesus.
Os pastores respondem à boa notícia também com uma visita ao menino. Visitaram Deus naquela criança. Jesus crescido vai dizer que tudo que fizermos ao próximo necessitado é a ele que fazemos.
Só no Evangelho de Lucas que vamos encontrar o relato do menino Jesus perdido de sua família aos doze anos e encontrado três dias depois no templo. Também é somente lá que temos o acontecimento da expulsão de Jesus da sua cidade Nazaré (Lc 4,22-30).
Ao iniciar sua missão, Jesus começa com os mais simples. Chama os pescadores. Mas continua o chamado e todos são incluídos: Jesus chama até o cobrador de impostos.
Como o chamado é para todos, ele não quer que ninguém se perca. Assim, Jesus é apresentado como o Messias, o ungido que veio proclamar a Boa Nova junto aos pobres, presos, cegos e oprimidos. A salvação oferecida por Jesus como “dom” inicia desde o seu nascimento. Salvação, portanto, não deve ser entendida como algo somente para depois da morte, mas que se inicia já aqui e que nos convida a vivenciá-la e testemunhá-la no nosso cotidiano. A preocupação de Jesus é a salvação da pessoa integral, ou seja, a pessoa toda. Assim, a palavra ‘pobre’ não se refere somente à situação econômica, mas também à pobreza como fruto da opressão (Lc 6,20; 7,22; 18,22; 19,8).
Várias são as ações de Jesus que nos convocam para o cuidado e a ternura para com o Outro. Na parábola do bom samaritano (Lc 10,3-37) temos uma forma exemplar do pedido de Jesus: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”. Nesta invocação Jesus nos chama para a prática do amor: o amor de Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo. Com esse ensinamento, Jesus nos transporta para o amor além fronteiras, ou seja, sair do nosso mundinho, das relações só com nossos familiares e percebermos que a nossa responsabilidade se amplia para as diversas realidades onde outras pessoas necessitam de nós.
Ouvindo o Papa Francisco, em sua Misericordiae Vultus & 19: “Não caiais na terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro e que, à vista dele, tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade. Não passa de uma ilusão. Não levamos o dinheiro conosco para o além, O dinheiro não nos dá felicidade…”.
O Evangelho de Lucas nos ajuda a celebrar o mistério pascal, sendo o único a dizer que a Ascensão acontece quarenta dias após a ressurreição e que Pentecostes se dá a cinquenta dias após a ressurreição. Nele também encontramos a força da Palavra de Deus. A “Palavra” para Lucas e Atos não é apenas logos (no sentido grego), mas é dabar (no sentido hebraico): uma palavra eficaz que organiza o caos, cria vida nova e transforma a realidade.