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Papa Francisco dá continuidade à série de catequeses sobre a Carta aos Gálatas de São Paulo

Durante Audiência Geral desta quarta-feira, 18 de agosto, o Papa Francisco deu prosseguimento à série de catequeses sobre a Carta aos Gálatas. Na Sala Paulo VI, no Vaticano, o Pontífice disse que “Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade.”

São Paulo ensinou-nos que os “filhos da promessa” (Gl 4, 28), por meio da fé em Jesus Cristo, não estão sob o vínculo da Lei, mas são chamados ao estilo de vida exigente na liberdade do Evangelho. No entanto, a Lei existe, observou o Pontífice.

O papel da Lei, segundo São Paulo

Portanto, na catequese de hoje, perguntamo-nos: qual é, segundo a Carta aos Gálatas, o papel da Lei?  No trecho que ouvimos – disse o Santo Padre referindo-se à leitura proposta antes de sua catequese (Gl 3, 23-25) – Paulo diz que a Lei foi como um pedagogo. É uma bonita imagem, que merece ser compreendida no seu justo significado.

Parece que o Apóstolo sugere que os cristãos dividem a história da salvação, e também a própria história pessoal, em dois momentos: antes de se tornarem crentes e depois de terem recebido a fé. No centro está o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus, que Paulo pregou a fim de suscitar a fé no Filho de Deus, fonte da salvação, explicou o Papa.

Por conseguinte, continuou Papa Francisco, partindo da fé em Cristo, há um “antes” e um “depois” em relação à própria Lei. A história anterior é determinada pelo fato de estar “sob a Lei”; a história subsequente deve ser vivida seguindo o Espírito Santo (cf. Gl 5, 25). É a primeira vez que Paulo usa esta expressão: estar “sob a Lei”. O significado subjacente implica a ideia de uma servidão negativa, típica dos escravos. O Apóstolo torna-o explícito dizendo que quando se está “sob a Lei” é como estar “vigiado” e “preso”, uma espécie de custódia preventiva. Esse tempo, diz São Paulo, durou muito e perpetua-se enquanto se vive em pecado.

Prosseguindo em sua catequese, o Pontífice chamou a atenção para o fato de que a relação entre a Lei e o pecado será explicada de uma forma mais sistemática pelo Apóstolo na sua Carta aos Romanos, escrita alguns anos após a Carta aos Gálatas.

Livres da Lei, servimos num espírito novo

Em síntese, a Lei leva a definir a transgressão e a tornar as pessoas conscientes do próprio pecado. Aliás, como ensina a experiência comum, o preceito acaba por estimular a transgressão.

Na Carta aos Romanos, escreve: “Quando estávamos na carne, as paixões pecaminosas, fortalecidas pela lei, operavam em nossos membros e produziam frutos para a morte. Agora, porém, livres da lei, estamos mortos para o que nos sujeitara, de modo que servimos num espírito novo e não segundo uma lei antiquada” (7, 5-6).

De modo sucinto – enfatizou o Santo Padre-, Paulo expõe a sua visão da Lei: “O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei” (1 Cor 15, 56). Neste contexto, a referência ao papel pedagógico desempenhado pela Lei assume o seu pleno sentido.

No sistema escolar da antiguidade, explicou o Pontífice, o pedagogo não tinha a função que lhe atribuímos hoje, ou seja, dar educação de um rapaz ou de uma jovem. Naquela época, ele era um escravo cuja tarefa consistia em acompanhar o filho do dono ao mestre e depois trazê-lo para casa. Desta forma, tinha de o proteger do perigo e vigiar para que não se comportasse mal. A sua função era bastante disciplinar. Quando o rapaz se tornava adulto, o pedagogo cessava as suas funções.

A função da Lei na história de Israel

Dito isso, o Pontífice frisou ainda que a referência à Lei nestes termos permite que São Paulo esclareça a sua função na história de Israel.

“A Torá tinha sido um ato de magnanimidade por parte de Deus para com o seu povo. Certamente teve funções restritivas, mas ao mesmo tempo protegeu o povo, educou-o, disciplinou-o e sustentou-o na sua fraqueza.”

É por esta razão que o Apóstolo reflete sucessivamente ao descrever a fase da menoridade: “Enquanto o herdeiro é menino, em nada difere do servo, ainda que seja senhor de tudo, pois está sob o domínio de tutores e administradores, até o dia determinado pelo pai. Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos subjugados pelos elementos do mundo” (Gl 4, 1-3).

Amadurecimento da fé e superação da Lei

Em suma, a convicção do Apóstolo é que a Lei tem certamente uma função positiva, mas limitada no tempo. A sua duração não pode ser prolongada para além disso, pois está ligada à maturação dos indivíduos e à sua escolha de liberdade. Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade.

O Papa Francisco concluiu afirmando que “este ensinamento sobre o valor da lei é muito importante e merece ser considerado cuidadosamente para não cair em equívocos nem dar passos falsos. Irá nos fazer bem nos questionarmos se ainda vivemos no período em que precisamos da Lei ou se estamos bem conscientes de que recebemos a graça de nos tornarmos filhos de Deus para viver no amor”.

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