Nesta quarta-feira, 28 de agosto, milhares de fiéis e peregrinos participaram da Audiência Geral, na Praça São Pedro, para ouvir e refletir sobre o drama e os perigos que migrantes enfrentam ao se arriscarem pelos mares e desertos. O Papa Francisco fez uma pausa no ciclo de catequeses sobre o Espírito Santo, em solidariedade às pessoas que vivenciam viagens perigosas em busca de paz e segurança em outros países. O Pontífice também destacou a indiferença das pessoas à situação dos migrantes e a atitude de descarte presente no mundo.
Ao iniciar sua catequese, o Santo Padre explicou que ao falar de mares e desertos se referiu a todas as águas traiçoeiras e territórios inacessíveis e inóspitos: “As atuais rotas migratórias são frequentemente marcadas por travessias que para muitas, demasiadas pessoas, são mortais”, enfatizando o episódio do Mar Mediterrâneo, que se tornou um cemitério.
“E a tragédia é que muitos destes mortos, a maioria, poderiam ter sido salvos. É preciso dizê-lo claramente: há quem trabalhe de forma sistemática e com todos os meios para repelir os migrantes. E isto, quando feito com consciência e responsabilidade, é um pecado grave. O órfão, a viúva e o estrangeiro, destacou o Santo Padre, são os pobres por excelência que Deus sempre defende e nos pede para defender”.
Só Deus os vê e ouve o seu clamor
Ao continuar sua meditação sobre o tema, o Pontífice sublinhou: “Mas não só mares, alguns desertos também se tornam cemitérios de migrantes. E citou um dos casos que conheceu pessoalmente, o do camaronês Mbengue Nyimbilo Crepin, conhecido como Pato, cuja mulher Matyla e a filha Marie, de seis anos, morreram de fome e sede no deserto”.
“Na era dos satélites e dos drones, há homens, mulheres e crianças migrantes que ninguém deve ver. Só Deus os vê e ouve o seu clamor. E esta é uma crueldade da nossa civilização, enfatizou.”
O Pontífice ainda recordou que “o mar e o deserto são também lugares bíblicos repletos de valor simbólico, que testemunham o drama da opressão e da escravatura. E Deus nunca abandona o seu povo: está com eles, sofre, chora e espera com eles. O Senhor está com os nossos migrantes no mare nostrum, o Senhor está com os migrantes, não com quem os rejeita.”
Abrir caminhos de liberdade e fraternidade
De acordo com o Papa Francisco, “neste cenário mortífero, promover leis mais restritivas e militarizar as fronteiras não são a solução. Em vez disso, é preciso expandir rotas de acesso seguras e regulares, facilitando o refúgio para aqueles que fogem de guerras, violência, perseguições e vários desastres. Mas não só, necessita-se de uma governança global das migrações baseada na justiça, na fraternidade e na solidariedade, combatendo ao mesmo tempo o tráfico de seres humanos”.
O Santo Padre concluiu sua catequese convidando os fiéis a pensarem “nas tragédias migratórias, como nas cidades de Lampedusa e Crotone, e enaltecendo os ‘bons samaritanos’ que fazem tudo para ajudá-los, como os voluntários da associação ‘Mediterranea Saving Humans’: Estes homens e mulheres corajosos são sinal de uma humanidade que não se deixa contagiar pela má cultura da indiferença e do descarte”.
“O que mata os migrantes é a nossa indiferença e a atitude de descarte. Todos os cristãos podem contribuir, ninguém está excluído desta luta de civilização. Há muitos modos, começando pela oração”. E a vocês, pergunto: Vocês rezam pelos migrantes, por quem vem às nossas terras para salvar a vida? E há quem queira expulsá-los.” Por fim, um apelo: “Queridos irmãos e irmãs, unamos os nossos corações e forças, para que os mares e os desertos não sejam cemitérios, mas espaços onde Deus possa abrir caminhos de liberdade e fraternidade.”