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Catequese do Papa: “Apesar do bem-estar que alcançamos, nos tornamos uma sociedade do cansaço”

Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira, na Praça São Pedro, o Papa Francisco enfatizou que apesar do nosso progresso e com todo o bem-estar que alcançamos, nos tornamos uma sociedade do cansaço. “A ciência avança, é claro, e isso é um bem. Mas a sabedoria da vida é algo completamente diferente, e parece estar paralisada”, meditou o Santo Padre, continuando o ciclo de catequeses sobre a velhice que teve como tema “Eclesiastes: a noite incerta do sentido e das coisas da vida.”
Há esperança para o amor e a fé

Em sua catequese o Papa citou o livro de  Coélet  como “outra joia inserida na Bíblia”, que traz surpreendente refrão: “Tudo é vaidade,  neblina, fumaça, vazio.” O Pontífice reforçou ser surpreendente encontrar estas expressões, que questionam o significado da existência, dentro da Sagrada Escritura. Segundo o Papa, diante de uma realidade que em certos momentos parece “acabar no nada, o caminho da indiferença também pode nos parecer o único remédio para uma dolorosa desilusão”, fazendo surgir em nós perguntas como: “Será que nossos esforços mudaram o mundo? Alguém talvez é capaz de fazer valer a diferença entre o justo e o injusto? Parece que tudo isso é inútil: por que fazer tanto esforço?”

O Papa explicou que uma espécie de intuição negativa pode surgir em qualquer estação da vida, mas não há dúvida de que a velhice torna quase inevitável o encontro com o desencanto. Assim, a resistência da velhice aos efeitos desmoralizantes deste desencanto é decisiva: “Se os idosos, que já viram de tudo, conservam intacta sua paixão pela justiça, então há esperança para o amor, e também para a fé.”  Segundo o Pontífice, no mundo contemporâneo, a passagem por esta crise tornou-se crucial, uma crise salutar: “Uma cultura que presume medir tudo e manipular tudo também acaba produzindo uma desmoralização coletiva do sentido, do amor e do bem.”

Ilusão da verdade sem justiça

O Papa reforçou que para nossa cultura moderna, que gostaria de entregar praticamente tudo ao conhecimento exato das coisas, o aparecimento desta nova razão cínica – que soma conhecimento e irresponsabilidade – é uma reação muito dura. “De fato, o conhecimento que nos isenta da moralidade parece ser, a princípio, uma fonte de liberdade, de energia, mas logo se transforma numa paralisia da alma”.

Com sua ironia, o Eclesiastes “desmascara esta tentação fatal de uma onipotência do saber que gera uma impotência da vontade.” O Papa recorda que os monges da mais antiga tradição cristã haviam identificado com precisão esta doença da alma, que de repente descobre a vaidade do conhecimento sem fé e sem moral, a ilusão da verdade sem justiça. Eles a chamavam de ‘acídia’. “Esta é uma das tentações de todos, e também dos idosos, mas pertence a todos. Não se trata simplesmente de preguiça. Não se trata simplesmente de depressão. Ao contrário, é a rendição ao conhecimento do mundo sem mais paixão pela justiça e pela ação consequente”, reforçou o Papa.

Segundo o Papa, o vazio de sentido e de forças aberto por este saber, que rejeita toda responsabilidade ética e todo afeto pelo bem real, não é inofensivo: “Ele não apenas tira as forças da vontade para o bem, mas abre a porta para a agressividade das forças do mal. São as forças de uma razão enlouquecida, que se tornou cínica por um excesso de ideologia.”

Fake news com uma certa cultura

De acordo com o Papa Francisco, esse tipo de razão “irresponsável” tira o sentido e energias também do conhecimento da verdade. Não é por acaso que a nossa seja a época das fake news, superstições coletivas e verdades pseudocientíficas. “É curioso: nessa cultura do saber, de conhecer todas as coisas, até mesmo da precisão do conhecimento, se difundiram muitas bruxarias, com uma certa cultura, mas que leva você a uma vida de superstição: por um lado, para ir adiante com inteligência no conhecimento das coisas até às raízes; por outro lado, a alma que precisa de outra coisa e toma o caminho das superstições e acaba nas bruxarias.”

Segundo o Papa, a velhice pode aprender da sabedoria irônica de Coélet a arte de levar à luz o engano escondido no delírio de uma verdade da mente desprovida de afetos pela justiça. “Os idosos ricos em sabedoria e humorismo fazem muito bem aos jovens! Eles os salvam da tentação de um conhecimento do mundo triste e desprovido da sabedoria da vida”, reforça o Santo Padre. “Coragem, todos nós idosos: coragem e adiante! Temos uma missão muito grande no mundo. Mas, por favor, não buscar refúgio nesse idealismo um pouco não concreto, não real, sem raízes –digamos claramente: nas bruxarias da vida”, concluiu.

Sobre o massacre em escola do Texas 

Após a catequese, na Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco fez um apelo, mencionando o massacre ocorrido em escola, no estado do Texas, nos Estados Unidos, na última terça-feira, 24 de maio: “Meu coração está abalado pelo massacre na escola primária do Texas. Eu rezo pelas crianças, pelos adultos mortos e por suas famílias. É hora de dizer basta para o tráfico indiscriminado de armas! Devemos nos comprometer para que tais tragédias nunca mais possam acontecer.”

 

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