Os votos natalinos condensam uma rica significação que ultrapassa a habitual expressão da fórmula simples que está em dizer “Feliz Natal!” Ao se fazer ou escutar esta felicitação, o coração humano é desafiado a uma compreensão que ultrapassa os contextos iluminados, enfeitados e festivos do cenário belo e fascinante da festa do Natal. Esse entendimento é determinante na vivência fecunda deste tempo singular que a humanidade tem para renovar suas forças e encher-se da sabedoria que o mistério da encarnação do Verbo de Deus - Jesus Cristo – revela, possibilitando a conquista e a vivência de autêntica fraternidade e solidariedade.
Para além da formalidade do que se diz e escuta, convictos da força sustentadora das palavras pronunciadas e dos sentimentos compartilhados é indispensável ter clareza quanto à significação dos votos natalinos. As expressões na sua formalidade simplesmente dizem e edificam pouco no coração dos destinatários. É preciso compreender a origem e a profundidade dos votos para que produzam os efeitos pretendidos pela riqueza do que significam.
Não menos rica será a consequência para quem faz os votos. Torna-se arauto da maior alegria que pode tomar conta do coração humano e nele nutrir a sabedoria que sustenta e conduz a vida na direção certa. Da mesma forma, quem os recebe deve se inundar de um amor transformador que aponta para o horizonte e a direção correta da vida. Vale lembrar o papa Bento XVI no discurso inaugural da 5a Conferência em Aparecida, em 2007, quando disse que “se não conhecemos a Deus em Cristo e com Cristo, toda a realidade se torna um enigma indecifrável; não há caminho e, não havendo caminho, não há vida nem verdade”. Também os bispos, na ocasião, afirmaram que “conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”.
Quando se proclamam votos de feliz Natal remetem-se os corações à fonte alimentadora que sustenta e dá sentido à vida. Há o desafio de vencer a desconfiança configurada no mundo contemporâneo. Com a valorização exacerbada do que é evidente, do que se toca, controla e, particularmente, traz satisfação imediata, o coração humano fica despreparado e incapaz de alcançar o que é mais. Tende a caminhar por superficialidades que trazem consequências nefastas. Coloca lenha na fogueira do caos, que resulta da falta de sentido mais profundo para se viver, ajudar os outros e buscar com clareza o próprio destino. O coração humano torna-se palco de disputas sanguinárias e de amarguras. Seduzido pelo poder fissura-se em metas que comprometem a vida e a traveste de gostos e razões que não só desgastam, mas também destroem esse maravilhoso dom. O Natal é, pois, a festa da grande novidade de Deus que se dá a conhecer em Jesus Cristo Salvador, no diálogo que Ele deseja sempre ter conosco.
Dizer feliz Natal é desejar que o destinatário dialogue amorosamente com Deus, oportunidade extraordinária que cada pessoa tem de conversar com a Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo - fonte geradora e inesgotável da comunhão que corrige os descompassos da vida. Desejar feliz Natal é fazer um convite à vivência do silêncio que gera escuta para poder participar da fecundidade amorosa de Deus, faz brotar no coração o amor genuíno e autêntico. Amor que ultrapassa, em valor e significação, o que é sustentado somente por sentimentos de afinidade ou por interesses e conveniências.
Na exortação pós-sinodal, Verbum Domini, (A Palavra de Deus) o papa Bento XVI diz, enriquecendo a significação dos votos natalinos, que “neste diálogo com Deus, compreendemo-nos a nós mesmos e encontramos resposta para as perguntas mais profundas que habitam no nosso coração. De fato, a Palavra de Deus não se contrapõe ao homem, nem mortifica os seus anseios verdadeiros; pelo contrário, ilumina-os, purifica-os e os realiza. Como é importante, para o nosso tempo, descobrir que só Deus responde à sede que está no coração de cada homem”. Nesse horizonte rico de referências sejam formulados os votos natalinos.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte