Ensina o Papa Francisco que a paz está no horizonte de um caminhar conduzido com arte e com o adequado respeito ao sentido da vida. O passo a passo desse caminho é cada pessoa assumir a tarefa de superar o descaso e o comodismo. A prioridade, conforme sublinha Francisco, é a superação da indiferença para com Deus. Ela se revela quando a pessoa não reconhece qualquer norma acima de si e pauta a conduta individual somente a partir dos próprios parâmetros. Isso está na contramão da ética e é raiz do caos moral.
Importante é compreender que a superação da indiferença em relação a Deus não ocorrerá, simplesmente, a partir da multiplicação de igrejas em todo canto. É preciso tratar essa questão de modo ainda mais amplo nos âmbitos governamentais e jurídicos, para evitar sérias consequências. Serve de alerta, por exemplo, reportagem exibida nacionalmente mostrando que para abrir uma empresa são necessários dois anos. Já para uma igreja, precisa-se de apenas vinte minutos.
Essa facilidade deriva do entendimento de que abrir uma igreja é objetivo de quem está a serviço da superação da indiferença em relação a Deus, agindo com respeito e diálogo. Mas o que se verifica, com certa recorrência, é a busca pelo atendimento de interesses que estão na contramão de uma cultura mais clarividente. Assim, são alimentadas práticas religiosas que arrefecem a consciência social e política, necessárias para construir uma sociedade mais justa e solidária. Esse assunto, obviamente, desdobra-se em outras temáticas, sobre a tolerância religiosa e o respeito à escolha autônoma de cada cidadão.
Superar a indiferença em relação a Deus é um caminho e vivência que não se reduzem a qualquer coisa. O ponto de partida é a certeza de que, como afirma o Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial da Paz para este ano, Deus não é indiferente, importa-lhe a humanidade. Deus não a abandona. Essa é uma convicção religiosa fundamental que, quando assumida, direciona o coração humano e o qualifica. Trata-se de compreensão que impulsiona a pessoa a recuperar a capacidade de superar o mal. A verdadeira experiência de Deus não congrega indivíduos para o atendimento de interesses de bancadas e agremiações.
Quando se vence a indiferença em relação a Deus é reconhecida a importância do outro, cultiva-se o gosto pela escuta e a capacidade para agir solidariamente. Interesses individualistas são superados, assim como a apatia e a indiferença. Importa, assim, investir no exercício de priorizar a dignidade e as relações interpessoais, pela proximidade e escuta, sem preconceitos e discriminações, de qualquer matiz, no esforço de se colocar como ouvinte.
Cada pessoa precisa avaliar as próprias atitudes e posturas. Tarefa que inclui, por exemplo, perguntar-se sobre o impacto causado ao próprio coração pelas notícias que mostram catástrofes, violências, injustiças, descasos. É preciso avaliar se essas informações não estão provocando entorpecimento e, assim, prejudicando a consciência solidária, indispensável para se vencer a indiferença. O desinteresse contribui para a falta de paz com Deus, com o próximo e com a criação. O momento é de investir muito para vencer a indiferença.