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Urgências educativas

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Os cenários socioculturais, religiosos e políticos indicam permanentemente que é preciso reconhecer as urgências educativas como prioridades, para fazer diferença nas dinâmicas, funcionamentos e nas respostas de demandas inadiáveis. Estas respostas estratégicas e urgentes para o alcance de um novo cenário na infraestrutura e, particularmente, nas relações sociais e políticas, dependem de uma cultura com força de inspiração. 

 

Princípios estratégicos e a inteligência da gestão não são suficientes para configurar o quadro novo que a sociedade brasileira, em se considerando o contexto socioeconômico propício, precisa - e sem mais adiamentos. Quando se analisa, por exemplo, a falta de mão de obra qualificada, torna-se mais visível o grande desafio que exige investimentos, formação técnica e articulações para inserir a população no contexto das dinâmicas e oportunidades de trabalho qualificado. 

 

Mas também não bastam os investimentos na formação técnica de profissionais. Ao se pensar num horizonte de intocável respeito à cidadania de todos, é preciso avançar na infraestrutura global, que abrange moradia, transporte, saúde, entre outros setores. A sociedade não vai avançar, na velocidade esperada e exigida, no ritmo das mudanças e das demandas que surgem neste terceiro milênio, se não for reconhecido o permanente  desafio de empreender uma grande obra educativa e cultural. 

 

Nesse caminho, é preciso ir além das dinâmicas político-partidárias que, sozinhas, não garantem o avanço da sociedade, sobretudo no que se refere ao exercício da cidadania e necessidades da população. Com muita frequência, a exaltação partidária é uma atividade improdutiva e ultrapassada, particularmente quando se restringe a uma “ladainha”, com exaltação de feitos e de figuras. No mundo contemporâneo, não cabe mais esse tipo de prática. Basta pensar, por exemplo, o nível de socialização, participação e abordagem que o mundo digital proporciona, gerando uma cultura diferente, que dilui concepções piramidais de funcionamento nas relações políticas e sociais. E quando há um coro dos que insistem em permanecer nos velhos funcionamentos, as entidades e instâncias que abrigam esses atores caem no descrédito. 

 

É importante consultar os índices de credibilidade de instituições, pois são indicadores para a reflexão sobre o conjunto de procedimentos que incluem a consideração da fidelidade aos princípios éticos, dinâmicas de funcionamento, atendimento com serviço qualificado e proximidade com o povo a partir de um diálogo corajoso. Discursos em eventos e efeitos produzidos apenas pela força da mídia não são suficientes para se colaborar na construção de um processo educativo e cultural necessário. Se o teor desta análise parece complexo, a referência é diretamente vinculada aos funcionamentos de uma sociedade que está exigindo da classe política maior coerência e competência, para ações mais rápidas e qualificadas. 

 

Exigência que expõe, particularmente, o desafio de se alcançar mecanismos inteligentes de burocracias governamentais, também responsáveis pelos atrasos no desenvolvimento da sociedade. Um aspecto a se analisar, por exemplo, é o absurdo das demoras nos investimentos nas estradas. A morosidade alimenta o processo vergonhoso que produz um número de mortes equivalente ao de guerras.  

 

A grande obra educativa e cultural, indispensável para avançarmos, supõe a participação de todos, investimentos acertados, empenho responsável de cada um. Sua influência determinante a faz ser, sempre, o ponto de partida, em tudo e para tudo, na compreensão de que é necessário deixar-nos guiar por uma imagem integral da pessoa, respeitando todas as dimensões do seu ser e subordinando as necessidades materiais àquelas espirituais e interiores. Uma obra educativa e cultural só é inesgotável quando assentada sobre valores morais e espirituais.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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