A transmissão da fé cristã é a importante tarefa que desafia a Igreja Católica no cumprimento da missão recebida de seu fundador, Jesus Cristo. Um serviço que está permanentemente no horizonte da Igreja. E uma meta desafiadora, a de fazer todos os povos seguirem o caminho indicado pelo Mestre.
O Papa Bento XVI, sucessor do apóstolo Pedro na condução da Igreja, configura esse insubstituível dever de transmissão da fé como urgência de uma nova evangelização. Desse modo, o Papa convocou a realização, no mês de outubro, em Roma, da 13ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, congregando representantes dos bispos, sacerdotes, leigos e peritos do mundo inteiro, para aprofundar o tema da Nova Evangelização.
A abertura dessa Assembleia, importante órgão de consulta e reflexão, assessorando o Papa no seu ministério, entrelaça também importantíssimos acontecimentos, como o início das celebrações, em 11 de outubro próximo, dos 50 anos do Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965, além da abertura e celebração do Ano da Fé, que será vivido até a festa de Cristo Rei, em novembro de 2013.
O Papa Bento XVI sublinha que esse Ano da Fé será uma ocasião propícia para todos os católicos compreenderem, de forma ainda mais profunda, o fundamento da fé cristã. Conforme explica o Papa, em sua Carta Encíclica Deus caritas est (Deus é amor), esse fundamento “é o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e com isto a direção decisiva”.
A tarefa, portanto, urgente e primordial na missão da Igreja é qualificar, ampliar e oferecer a todos, a partir do encontro com Jesus Cristo Ressuscitado, uma redescoberta da fé cristã na sua integridade e no seu esplendor. Missão ainda mais urgente na atualidade, momento em que a fé, como também sublinha o Papa Bento XVI, é um dom a redescobrir, cultivar e testemunhar para se experimentar a beleza de vivê-lo.
Essa tarefa missionária de transmitir a fé cristã, para que ela seja vivida de modo fecundo, é o que se entende por evangelização. É a referência à atividade da Igreja em sua totalidade. Trata-se de uma preocupação e de uma permanente busca, marcando culturas, redirecionando vidas, resgatando e configurando valores na história da humanidade. Tomar conhecimento destas etapas e constatar a beleza desta preocupação ajuda a entender o papel importante da missão da Igreja no mundo, seu cumprimento em meio a muitos desafios e a necessidade, neste terceiro milênio, de um novo impulso.
Por isso, estão postos os desafios de uma pregação qualificada do Evangelho, em conteúdo e comunicação; a catequese, como alegre transmissão da fé, envolvendo todos, especialmente os catequistas e, particularmente em cada família, o pai e a mãe. Também a vida sacramental e o cultivo do valor rico da piedade popular com o insubstituível testemunho de vida de cada um. Essa tarefa de transmissão da fé é assumida e retomada, no contexto das turbulências e mudanças profundas de nosso tempo, na contramão de muitas coisas.
Na contramão das imposições superficiais, geradas e alimentadas pela mentalidade consumista e individualista que leva a compreender o bem e a felicidade como consumo, ou como simples e insaciável prazer. Na contramão do entendimento adequado da autonomia do sujeito e do uso da liberdade, percebida como rejeição a qualquer tipo de tutela, com a consequente e perigosa perda de referências. Na contramão dos portadores das bandeiras do ateísmo, da indiferença, prejudiciais tanto quanto os entendimentos mágicos da experiência religiosa, com manipulações milagreiras, ignorando o poder da fé na promoção da cidadania, da ética e da honestidade.
A Igreja Católica, em razão do tesouro precioso de sua fé e do compromisso no seguimento de Jesus Cristo, está abrindo uma nova e determinante etapa. Nela, a transmissão da fé se torna prioridade nos planejamentos, atividades, compromisso prioritário de todos. Nesse fluxo de eventos, celebrações e acontecimentos, a Igreja Católica está constituindo Observatórios para o entendimento desta Nova Evangelização. Aqui na América Latina, esses Observatórios estarão em Belo Horizonte, Buenos Aires, Medellín, Rio de Janeiro e Santiago do Chile. Desde a compreensão adequada e sempre desafiadora da pós-modernidade, incluindo a valorização e resgate de experiências de fé, contando com o trabalho de catequistas, pai, mãe, evangelizadores e ministros, até o lastro do diálogo com a sociedade contemporânea para que a vivência do Evangelho sustente culturas, alimente o sentido da vida e corrija nossos descompassos.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte