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Tarefa do bem comum

Dom Walmor Oliveira de AzevedoOs noticiários mostram, diariamente, os horrores e a gravidade da violência na sociedade contemporânea. Violências de todo tipo, que têm como agentes os jovens, muitos deles ainda adolescentes, e adultos, que perdem o senso de responsabilidade, praticam crimes, arquitetam esquemas de corrupção. Esse quadro de horror precisa ser diariamente enfrentado à luz da fé e do compromisso cidadão de cada um. Neste horizonte, é importante investir na compreensão e na prática do princípio do bem comum, para despertar em cada mente o gosto pela conduta zelosa, pela justiça e verdade. 

É imprescindível ensinar, nas escolas e famílias, nas igrejas e instituições todas da sociedade, a respeito da dignidade, unidade e igualdade de todas as pessoas. Aí se inscreve o sentido do bem comum, com sua força para equilibrar todos os aspectos e relacionamentos na vida social. Trata-se de uma aprendizagem permanente, que requer o anúncio desses princípios, sua prática com força de exemplaridade, a partir de gestos pequenos àqueles com propriedade para determinar novos rumos. Na verdade, é uma grande caminhada para recuperar a configuração perdida do sentido social, da fraternidade e solidariedade.

O bem comum não consiste apenas na soma dos bens particulares de cada sujeito, sublinha a Doutrina Social da Igreja Católica. Ela diz que “sendo de todos e de cada um, é e permanece comum, porque indivisível e porque somente juntos é possível alcançá-lo, aumentá-lo e conservá-lo em vista do futuro”. O agir social alcança sua plenitude realizando o bem comum. Não se pode cansar na sua prática e no testemunho de sua prioridade. Presente o sentido do bem comum, imediatamente se vê a diferença qualitativa do agir em busca do bem de todos. Na contramão, está tudo aquilo que causa prejuízo, desde um papel jogado displicentemente na rua até a montagem ardilosa de esquemas de corrupção.

O bem comum é a consciência de que a pessoa não pode encontrar plena realização somente em si mesma, prescindindo do seu ser “com” e “pelos” outros. Por isso, a Doutrina Social da Igreja também afirma que “nenhuma forma expressiva de sociabilidade - da família ao grupo social intermédio, à associação, à empresa de caráter econômico, à cidade, à região, ao Estado, até a comunidade dos povos e nações - pode evitar a interrogação sobre o bem comum, que é constitutivo do seu significado e autêntica razão de ser da sua própria subsistência”.

Passo importante para cultivar um autêntico sentido do bem comum é compreender que a paz é dom de Deus e obra de cada pessoa, conforme sublinha o Papa Bento XVI na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano. Assim, não basta amedrontar-se diante da violência, mas crescer na consciência de ser um operário da paz. Nesse sentido, o Papa observa que para nos tornarmos autênticos e fecundos obreiros da paz, são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e ao diálogo constante com Deus. Sem a dimensão transcendente e sem referência a Deus, certamente, mais difícil, por vezes impossível, é superar o egoísmo que adoece e nega a paz, tutela tipos de violência, bem como a avidez e o desejo de poder e domínio, além das intolerâncias, do ódio e das estruturas injustas que perpetuam abomináveis exclusões sociais.

Trabalhar pela paz é um fecundo processo educativo para o sentido autêntico do bem comum. Para vivenciar este processo, é imprescindível uma grande abertura da mente e do coração para o Senhor da Paz, Jesus Cristo, o Salvador do mundo. N’Ele se encontra o largo e completo horizonte da paz. Fixar o olhar em Jesus Cristo e anunciá-lo, corajosamente, é o caminho para que cada pessoa se torne um obreiro da paz.

Conforme afirma o Papa Bento XVI, o obreiro da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade. Obreiros da paz são, portanto, aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade. Pautam-se pelo respeito à vida humana, buscando sua defesa, em todas as suas etapas, da fecundação ao declínio natural com a morte. É preciso um empenho conjunto de todos para que possamos cumprir nosso compromisso na tarefa do bem comum.
 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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