No quadro dos tratamentos adequados para a realidade contemporânea, à luz de responsabilidades sociais e políticas, tendo em vista seus inadiáveis e demandados avanços, situa-se o tema pertinente em torno das sustentabilidades.
É um imprescindível capítulo para todo e qualquer projeto e programa. Sua abordagem e efetivação são uma obviedade que se configura como exigência determinante no que se faz e para quem se faz. Não se pode fazer por fazer, simplesmente por querer ou sem razões plausíveis em vistas de atendimentos de necessidades e prioridades, com uma competência traduzida na inteligência da sustentabilidade. Assim, sustentabilidade é questão de inteligência e, ao mesmo tempo, de exigência e de respeito à integridade da vida, da natureza e ao conjunto da sociedade nos seus funcionamentos balizados pelos serviços prestados a todos, particularmente aos mais pobres e excluídos.
A abordagem da sustentabilidade em todos os seus capítulos e diversificadas nuances é um luzeiro que permite diagnósticos importantes na vida social e política de sociedades e nações. Não é, portanto, uma questão que se restringe a uma única dimensão, tal como aquela da economia. Quando, pois, se percorre os diversos cenários que configuram a sociedade contemporânea – como, por exemplo, a nossa, brasileira, tratando basicamente o que a mídia oferece a cada dia -, pode-se chegar à conclusão importante de que as sustentabilidades não são restritas ao que diz respeito à natureza no seu funcionamento, às necessidades humanas na sua sobrevivência ou à manutenção de projetos e programas com seus impactos e influências para a vida chamada moderna.
Vale aqui fazer um rápido percurso nestes cenários contemporâneos bem próximos de todos para detectar uma imprescindível sustentabilidade entre as sustentabilidades, pensadas na sua sofisticação própria de ciência e de estratégia quando se defronta com o mal endêmico da corrupção na sociedade. Referência, por exemplo, ao pedreiro laranja ou ao vendedor, que se descobriram empresários e donos de fortuna, vítimas do uso criminoso de seus nomes em favor de beneficiários que assaltaram os cofres públicos, trazendo enormes prejuízos.
Na esteira destes absurdos estão aqueles que multiplicam seu patrimônio no exercício de mandatos governamentais. E os dribles dados na Receita Federal? As auditorias de órgãos competentes revelam sobejamente irregularidades de contratos que pesam desafortunadamente aos cofres públicos em detrimento do urgente atendimento de necessidades básicas da população carente, passando fome, subnutrida e enjaulada pela condição abominável de não ter moradia decente. Privada de uma participação digna na vida da sociedade na qual está inserida também como cidadã.
Percorrendo os bastidores da vida política, de encontro ao seu sentido próprio e de grande importância como coluna sustentadora da sociedade, se conhece o fluxo de disputas felinas por cadeiras, poder, domínio de fontes de dinheiro, ainda quando na contramão de uma mínima coerência ideológico-partidária.
É um enorme desafio. Até inexplicável no âmbito da realidade da infraestrutura na sociedade brasileira, em se considerando as demandas existentes como transporte, moradia, saúde e trabalho, a lentidão dos fluxos nas respostas e incompetências contracenando com as possibilidades econômicas, sem deixar de fazer menção ao que já se conquistou. Do bojo deste âmbito determinante para a vida da sociedade surgem escândalos de corrupção, os atrasos advindos das burocracias que revelam má vontade e até preguiça, envenenando a nobreza do altruísmo e do sentido de cidadania, com o usufruto imoral do que pertence ao erário publico e com destinação própria.
Destas questões grandes, hospedadas em cenários que compõem a sociedade contemporânea, se chega facilmente aos desvios de condutas que revelam cidadanias comprometidas - fruto de mesquinhez e de maldades, impedindo uma participação com maior dignidade e nobreza no que diz respeito à edificação da sociedade em maiores ou menores proporções. Desde o que está no seio de uma família, passando por projetos pequenos, mas importantes, até a honestidade esperada nos gestos e nas palavras de cada pessoa, nos âmbitos públicos e privados.
Esta ladainha de descalabros nas suas contas intermináveis produz um prejuízo material incalculável. Atrasos centenários, sacrifícios intoleráveis e um desgosto que desfigura o mais precioso da vida de cada um: o sentido de viver. Este mal não é sanado apenas pela inteligência e pela ciência de sustentabilidades outras, senão, ao tudo que tem a ver com a sustentabilidade que advém da moralidade.
A moralidade é um investimento urgente e permanente sob pena de comprometer, com desarranjos e preponderância da tendência natural de desorganização, a inviabilização de outras pretendidas sustentabilidades.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Arquidiocese de Belo Horizonte