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Setembro da Padroeira

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Tem se tornado um estribilho a referência a Nossa Senhora da Piedade, Padroeira de Minas, no alto da Serra da Piedade. Seu santuário mariano é “magnífica arquitetura divina”, expressão inteligente e devota de dom João Resende Costa, saudoso homem de Deus que marcou a história de Belo Horizonte e de Minas com sua bondade. A ressonância dessa devoção à Padroeira de Minas tem força educativa e convocatória porque é especial. 

 

A grande intensidade deste clamor, no mês de setembro, deve-se à celebração, no dia 15, da festa da Padroeira de Minas. Ao longo do ano, tem crescido o número de peregrinações. Aquelas da quaresma, do tempo pascal, as tradicionais de agosto e setembro, as muitas romarias das paróquias de diferentes recantos mineiros, incluindo os momentos importantes do Jubileu do Santuário, festejado no dia 31 de julho. E, amanhã, dia 15, a festa da Padroeira de Minas. O Jubileu do Santuário é a comemoração da oficialização de Nossa Senhora da Piedade como Padroeira de Minas. É uma conquista do empenho amoroso e clarividente de dom Carlos Carmelo Cardeal Vasconcelos Mota. 

 

Filho ilustríssimo desta terra, percorreu longo e fecundo caminho missionário, saindo de Minas, foi bispo auxiliar em Diamantina, arcebispo no Maranhão, em São Paulo e na cidade de Aparecida. Esse grande mineiro carregou no fundo da alma o amor imorredouro por sua terra. Testemunhava que o seu grande tesouro estava na Serra da Piedade, dom de Deus para todos. O empenho do Cardeal Mota para preservar esse rico patrimônio ficou esquecido por muitos anos, a ponto de algumas pessoas se surpreenderem com a informação de que Nossa Senhora da Piedade é oficialmente a Padroeira de Minas. 

 

O Papa Bem Aventurado João XXIII, em 1958, foi quem proclamou Nossa Senhora da Piedade como Padroeira de Minas Gerais. A festa de oficialização aconteceu no dia 31 de julho de 1960, em Belo Horizonte, na Praça da Liberdade. Foi naquele dia memorável que a lucidez de dom João Resende Costa, segundo arcebispo de Belo Horizonte, definiu a Serra da Piedade como “magnífica arquitetura divina”, e a Ermida da Padroeira, o coração do Santuário, como “casa de clemência e bondade da Mãe da Piedade”. Essas lembranças são indispensáveis para fazer crescer a consciência da importância e do alcance deste tesouro. Um tesouro cuidado pela fé cristã católica, pela Arquidiocese de Belo Horizonte, para ser instrumento de evangelização, de espiritualidade, com força cultural, histórica, ecológica de importância educativa.  

 

Quando o governo  de Minas Gerais decreta o conjunto arquitetônico e paisagístico da Serra da Piedade, lugar do Santuário da Padroeira de Minas, como Atrativo Turístico de Especial Relevância, abre caminhos para importantes investimentos que beneficiarão a sociedade inteira. A humanidade precisa do benefício da beleza para recuperar forças éticas perdidas e avançar na sua permanente capacitação para manter e nutrir, renovando, sua própria cultura pela força de valores indispensáveis. O Caminho Religioso da Estrada Real, o CRER, do Santuário da Padroeira de Minas ao Santuário da Padroeira do Brasil, é, neste mesmo horizonte, um investimento que articula turismo, cultura e a espiritualidade indispensável para o equilíbrio humano e afetivo de um povo. 

 

A reestruturação e ampliação dos espaços no Santuário Nossa Senhora da Piedade é também uma especial aposta na compreensão de que esta “magnífica arquitetura divina” é fundamental para fortalecer o serviço evangelizador da Igreja Católica. Na sociedade contemporânea, a Igreja é desafiada a qualificar o devocional, a riqueza da piedade popular, com uma espiritualidade marcada pela força da Palavra de Deus, produzindo experiências novas e fecundas no compromisso com a vida. Um serviço evangelizador importante pelas propriedades singulares de um Santuário que reúne a riqueza da presença materna e inspiradora de Maria, a Senhora da Piedade, com a exuberância de uma natureza que por si ensina, evoca, invoca e indica, com a força educativa da beleza e de singularidades, alargando corações e inteligências. 

 

O anúncio do Evangelho não combina com o mofo dos ambientes fechados e nem com o entendimento do serviço religioso aprisionado na rotina da conservação, sem a coragem de ousar para responder às demandas novas deste tempo. É hora de consolidar entendimentos arejados e ousados, incluindo os segmentos todos da sociedade mineira, prefeituras, empresariado, escolas, famílias, paróquias, dioceses para que o Santuário, mariano e ecológico da Serra da Piedade, se torne sempre mais razão de cuidados, investimentos e usufruto de todos, pelas peregrinações, educação e turismo. Neste caminho, são delineados novos horizontes para a cultura e para a sociedade, alargam-se corações pela espiritualidade e beleza, consolidando nosso caminho no compromisso com o bem e  a verdade. 

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

 
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