A cultura hospeda uma essencialidade que exige a atenção de todos, pois ela contempla o que o homem faz nas muitas dinâmicas da vida, criando valores com força de impulsionar na direção das inovações, inventividade e competência. Eis o enorme desafio, que é incomparável com o labor de produzir um evento, um show, um projeto, independentemente de sua complexidade.
A cultura revela e determina a maneira particular como vive um povo, o modo como as pessoas se relacionam com Deus, com a natureza e com os outros, tecendo um estilo de vida comum. Portanto, a cultura abrange valores que animam e fortalecem - e contra valores que desfiguram e ameaçam. Define os costumes e a convivência social, o modo de ver o mundo que influencia determinantemente os discernimentos, escolhas e juízos a respeito da realidade, dos procedimentos e dos processos em curso. As dinâmicas que dão forma à cultura constituem processo vital e permanente. Provocam transformações e cristalizações que podem impedir avanços ou garantir entendimentos lúcidos, com influências determinantes na realidade histórica e social. Investir nesses processos é, principalmente, responsabilidade de dirigentes e líderes. Constitui tarefa que ultrapassa as fronteiras do tratamento formal e conceitual do âmbito da educação, pois, entre outros aspectos, deve contemplar, por exemplo, o funcionamento de instituições, promovendo ajustes que possibilitem projetos exitosos e conquistas.
A constituição da realidade cultural necessária para gerar respostas novas diante das necessidades do mundo contemporâneo exige lucidez e corajoso empenho de todos. Na direção oposta a esse caminho, a sociedade continuará a conviver com vícios, desvirtuamentos e estreitezas que aprisionam a cultura nos parâmetros da mediocridade. E todos continuarão a pagar um preço alto em razão dos atrasos, do comodismo e de uma compreensão com horizonte limitado, que inviabiliza o crescimento e o desenvolvimento integral. Sem a adequada reconfiguração da cultura, o povo continuará a sofrer com os descalabros institucionais, com o inadequado tratamento do que é de domínio público.
O investimento necessário no tecido cultural supõe lucidez, ousadia e, particularmente, a coragem de atuar para além de comodidades individuais e partidárias. Certamente, qualquer instituição que sofre com atrasos, descompassos e, consequentemente, oferece à sociedade uma contribuição que está aquém de suas possibilidades encontra-se nessa situação porque é regida por um tecido cultural que assenta seus integrantes na mediocridade, na incompetência de juízos, na falta de criatividade e de inventividade. E líderes autoritários, incompetentes para o diálogo e que estão propensos à barganha são os grandes responsáveis por esse déficit. Eles geram dependências e dívidas impagáveis, imobilizam pessoas que caem na armadilha de ficar “devendo favor”. Esses líderes e esses funcionamentos medíocres estão aprisionados nos “favores” concedidos.
Tarefa exigente, que por vezes requer corrigir décadas de atrasos sem desconsiderar os desafios próprios do atual momento, é preciso investir no tecido cultural. Assim será possível tratar as paralisadoras sequelas na cultura, estabelecendo novas dinâmicas capazes de conduzir a sociedade rumo a novos tempos, de mais justiça, solidariedade e paz.