Artigo de dom walmor

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Há 70 anos, morria o bem-aventurado Padre Eustáquio. Sua memória é especialmente celebrada neste dia 30 de agosto. À luz da fé cristã, no horizonte da ressurreição de Cristo, a morte é o dia do nascimento definitivo para a vida em Deus. Concluída a vida neste tempo da história, passa-se para a vida definitiva, cumprimento da promessa que Jesus faz ao dizer que Ele é a ressurreição e a vida e quem n’Ele crê não morrerá jamais. A experiência da morte, existencialmente sempre um grande desafio, não é estágio definitivo. A morte e ressurreição de Cristo, Salvador e Redentor, são garantias desse nascimento para a vida na plenitude do amor de Deus.

 

O bem-aventurado padre Eustáquio, missionário da Congregação dos Padres dos Sagrados Corações, tornou-se um grande dom de Belo Horizonte. A Capital é a cidade do Padre Eustáquio. Seu legado espiritual e sua força missionária o configuram como verdadeiro patrimônio espiritual de seus devotos, especialmente em toda Minas Gerais. A Igreja do padre Eustáquio, no bairro Padre Eustáquio, na verdade a Igreja da Paróquia dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, é o lugar dessa grande referência e desse importante patrimônio espiritual.

 

O legado do bem-aventurado padre Eustáquio está condensado no dito “saúde e paz”, frase de riqueza significativa e grande alcance. Por isso, o dia de hoje é especial e se expressa, particularmente, na presença de milhares de peregrinos na Igreja do padre Eustáquio, consolidando sua vocação de verdadeiro santuário da saúde e da paz. Saudar o outro, como padre Eustáquio fazia e deixou como herança, é mais forte que qualquer cumprimento convencional. Trata-se de um compromisso com esses votos que são bens fundamentais na existência de cada pessoa. 

 

A missão do bem-aventurado padre Eustáquio, exercida nas ruas da capital mineira, de casa em casa, na ida permanente ao encontro dos pobres e dos enfermos, na Igreja conhecida de todos pela referência ao seu nome e ações solidárias, é uma herança que merece ser cada vez mais valorizada. E sua ação missionária em favor da saúde e da paz não pode ser entendida simplesmente como solução para a necessidade de algum milagre buscado, considerando a própria condição de saúde. Na verdade, inclui a certeza de que o Bem-Aventurado, na presença de Deus, intercede por todos e, especialmente, pelos que lhe devotam especial reverência. 

 

Padre Eustáquio, missionário da saúde e da paz, condensa uma compreensão em torno dos bens mais essenciais para a vida. Com saúde, tem-se as condições para poder exercer a cidadania civil e eclesial, com as exigências próprias da fé. Por isso mesmo, a reverência respeitosa e comprometida com os enfermos, nas instituições de saúde e no seio de nossas famílias, é inegociável. A nobre reverência aos doentes, desdobrada em cuidados, atenção e presença, dos familiares, amigos e vizinhos, compromisso ético dos profissionais da saúde, é um dom espiritual e um tesouro humanístico. Inscreve-se nesse horizonte o compromisso cidadão por uma saúde pública sistematizada de modo mais eficiente. Também inclui o cuidado com a própria saúde, revendo hábitos e redefinindo dinâmicas para a vida cotidiana. 

 

Junto com a saúde, a paz deve configurar programas de vida, pessoal, familiar e cidadão. Sua falência, desde o âmbito da relação interpessoal, até aqueles das relações institucionais e entre nações, é o mais terrível caos no horizonte da história.  E o tesouro da paz só se conquista como fruto da justiça e da caridade. É um valor e um dever universal, fonte primária do ser, bem supremo e essencial. A conquista da paz e a busca por saúde exigem uma educação permanente para vivências que garantam o equilíbrio, o diálogo construtivo e participativo, além do apurado sentido de cidadania. 

 

Assim, a herança do bem-aventurado padre Eustáquio, com a luz da fé, enriquece a educação para essas duas fundamentais dimensões da vida.  E o legado desse missionário que marcou a história cresce no gesto nobre, terno e comprometedor, de saudar a cada um, assim como fazia padre Eustáquio, desejando saúde e paz.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

 

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