O episcopado Latinoamericano e Caribenho, no Documento de Aparecida, ns. 259-260, assinala que “a decisão de caminhar em direção ao santuário já é uma confissão de fé, o caminhar é um verdadeiro canto de esperança e a chegada é um encontro de amor. O olhar do peregrino se deposita sobre uma imagem que simboliza a ternura e a proximidade de Deus. O amor se detém, contempla o mistério. Desfruta dele em silêncio. Também se comove, derramando todo o peso de sua dor e de seus sonhos. A súplica sincera, que flui confiante, é a melhor expressão de um coração que renunciou à autossuficiência, reconhecendo que sozinho nada pode. Um breve instante condensa uma viva experiência espiritual. Aí o peregrino vive a experiência de um mistério que o supera, não só da transcendência de Deus, mas também da Igreja, que transcende sua família e seu bairro. Nos santuários, muitos peregrinos tomam decisões que marcam suas vidas. Suas paredes contêm muitas histórias de conversão, de perdão e de dons recebidos, que milhões poderiam contar”.
O convite para voltar o olhar e a atenção para o Santuário Estadual Nossa Senhora da Piedade, beleza grande de Minas Gerais, é oportunidade para reconhecer o dom que é um santuário. É um dom especialíssimo quando sua razão é a presença de uma Mãe, Maria, a Mãe de Jesus Cristo - o Salvador, a Mãe dos seus discípulos. Em Maria se dá a máxima realização da existência cristã, sua obediência à vontade de Deus, meditação constante da Palavra e ações de Jesus. Maria é a discípula mais perfeita do Senhor, seu Filho. O Documento de Aparecida n. 265 também recorda que “interlocutora do Pai em seu projeto de enviar seu Verbo ao mundo para a salvação humana, com sua fé Maria chega a ser o primeiro membro da comunidade dos crentes em Cristo, e também se faz colaboradora no renascimento espiritual dos discípulos. Sua figura de mulher livre e forte emerge do Evangelho, conscientemente orientada para o verdadeiro seguimento de Cristo. Ela viveu completamente toda a peregrinação da fé como mãe de Cristo e depois dos discípulos, sem estar livre da incompreensão e da busca constante do projeto do Pai. Alcançou, dessa forma, o fato de estar em comunhão profunda, para entrar plenamente no mistério da Aliança”.
O gesto de humildade e de confiança do peregrino no santuário é experiência educativa e garantia para realização do sonho de outro mundo possível e concretização do compromisso cidadão na construção de uma sociedade mais justa e solidária. O Papa Bento XVI sublinha, no Discurso Inaugural da 5ª Conferência em Aparecida, que “estruturas justas - que são uma condição sem a qual não é possível uma ordem justa na sociedade - não nascem nem funcionam sem um consenso moral da sociedade sobre os valores fundamentais e a necessidade de vivê-los com as necessárias renúncias, inclusive contra o interesse pessoal. Onde Deus está ausente, esses valores não se mostram com toda a sua força nem se produz um consenso sobre eles”.
O santuário é dom especial para a experiência educativa de nortear escolhas, opções, rumos e respostas. Como fonte e sinal, aponta e remete o peregrino ao santuário de sua consciência. Vale lembrar que “o que é necessário para mudar uma pessoa é mudar a consciência de si mesma”, como diz Abraham H. Maslow. “No profundo de sua consciência, o homem descobre uma lei que ele não deu a si mesmo, mas à qual deve obedecer e cuja voz ressoa, quando necessário, nos ouvidos de seu coração, chamando-lhe sempre a amar e a fazer o bem e a evitar o mal: faz isto, evita aquilo. Porque o ser humano tem uma lei inscrita por Deus em seu coração, em cuja obediência está a dignidade humana e pela qual será julgado. A consciência é o núcleo mais secreto e o sacrário do ser humano, no qual está a sós com Deus, cuja voz ressoa no mais íntimo dela” (Gaudium et spes, 16). Peregrinar ao Santuário é ir ao encontro do santuário da própria consciência.