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Responsáveis pela paz

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Os bons augúrios trocados na entrada do novo ano de 2013 devem guardar o compromisso responsável de quem deseja e de quem recebe os votos, na construção e na manutenção da paz. É mister concluir que a paz desejada e almejada precisa  ser cultivada e efetivada como uma espécie de bóson na interioridade de cada pessoa para fazer dela um construtor apaixonado da paz. Não me refiro ao bóson, cuja existência foi comprovada pelos físicos. É algo de grandeza ainda maior. Antecede a tudo e tem origem e raízes em fonte que ultrapassa a complexidade e a grandeza apaixonante do universo.

 

O Papa Bento XVI, na sua tradicional mensagem para o Dia Mundial da Paz, celebrado neste dia 1º de janeiro, faz referência à expectativa de um mundo melhor, unindo corações, mentes, culturas e diferentes realidades num coro único. Esta expectativa pode se tornar realidade também na medida em que cada pessoa ilumina sua consciência com a bem-aventurança de ser obreiro da paz.   O Papa enfatiza: “ o nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo”.

 

Esse olhar global sobre o andamento da vida no globo terrestre alcança também os lamentáveis episódios trágicos da morte de um pai, acompanhado da família e de amigos, quando comemorava o ano novo apenas iniciado; ou a jovem universitária, cheia de vida, acompanhada do seu namorado, coração exultante de esperanças para a vida e cheio de amor, a caminho da Igreja para vivenciar a passagem do ano, em vigília de oração, vítima fatal de uma bala perdida. O Papa chama a atenção para a grande apreensão ante os focos de tensão como os conflitos causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, a mentalidade egoísta e individualista alimentada por um capitalismo financeiro desregrado, assim como variadas formas de terrorismo, criminalidade internacional, fundamentalismos e fanatismos distorcendo e pondo em perigo a paz, distanciando a meta dos augúrios no novo ano, a comunhão e a reconciliação entre os homens.

 

Estas referências não têm a intenção de sombrear o horizonte do novo ano. Ao contrário. É preciso lançar o olhar com esperança sobre as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo. Elas testemunham a vocação natural da humanidade para a paz. Em cada pessoa o desejo de paz é uma aspiração essencial. Por isso mesmo, é indispensável trabalhar a articulação de cada pessoa no conjunto dos engenhos estratégicos na promoção e conquista da paz, em se considerando que  cada um de nós carrega o desejo vivo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida. Na verdade, lembra Bento XVI em sua mensagem, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus. Por isso, Jesus Cristo, na sua maestria e traçando programa de vida para seus discípulos indica e convoca ao dizer: «Bem-aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). Essa palavra de Jesus engloba a compreensão de que a paz é dom de Deus e obra do homem. Como obra do homem supõe o desenvolvimento da consciência e de uma conduta própria de construtor da paz. 

 

Sabiamente, o Papa sublinha: “a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros.”  Portanto, a obra da paz exige de cada pessoa o esforço para a comunhão e a solidariedade para a partilha. O construtor da paz não apenas oferece, mas ganha no ato de partilhar e de viver em comunhão. Ora, a ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Ser obreiro da paz inclui o envolvimento integral do ser humano. Trata-se de  buscar e viver a paz com Deus. Envolve também a busca da paz interior, o desenvolvimento da capacidade de amar e perdoar para estabelecer a paz exterior com o próximo.

 

O Papa Bento XVI destaca que, para ser construtor e obreiro da paz, é preciso dar atenção à dimensão transcendente e ao diálogo constante com Deus para vencer aquele germe de obscurecimento e negação da paz que está presente nas formas do pecado do  egoísmo, da violência, da avidez e do desejo de poder e domínio, da intolerância, do ódio e estruturas injustas. Indispensável é reconhecer que somos, em Deus, uma única família humana, sentindo como próprias as necessidades e exigências alheias. Obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade. Que transformam a paz em um sonho possível. O obreiro da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade. Que cresça em cada um de nós a consciência, como pessoa e comunidade, religiosa, civil, educativa e cultural, como família e como diferentes instituições desta importante tarefa, com incidências significativas no modelo de desenvolvimento e economia,  nos direitos sociais, particularmente no direito ao trabalho, à saúde e à moradia, comprometidos com a justiça. Porque somos todos responsáveis pela paz.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

 

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