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Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Os recados das urnas são difusos e desenham uma diversidade que tem de tudo. Incluem aspectos contraditórios que merecem análises e debates, não apenas dos cientistas políticos com suas inestimáveis reflexões. Outros, também, partindo de seus lugares próprios e do direito à livre manifestação, contribuem muito. Não é simples e fácil produzir uma síntese dessas mensagens. Até parece ser impossível tal empreitada. As razões que se entrelaçam, as irracionalidades, o desejo desarvorado de poder, contradições, motivações importantes, sonhos de melhorias, até mesmo o espírito de torcida próprio no âmbito dos esportes, desenham aprendizados. É possível constatar, pelo menos, a lição de que para ser vitorioso é preciso se qualificar melhor, não andar de “salto alto” e respeitar o adversário.

Na política não é fácil fazer distinções, nem ter garantias de que o dito é sincero, fundamentado na verdade e com a única meta de melhorar a vida de todos, particularmente dos mais sofridos. Especificamente no que diz respeito à política partidária, salvaguardado o sentido de sua importância e o reconhecimento de sua necessidade, é preciso maior enraizamento da ética e de um mínimo de moralidade, para que sua tarefa seja cumprida. Sem esses fundamentos, torna-se difícil alcançar o que é sério e respeitoso para com o bem comum, reverente com a dignidade de cada pessoa. Continuam particularmente prejudicados aqueles que sofrem com tratamentos indignos e injustos, cidadãos ignorados por quem esbanja e usufrui, doentiamente, de benesses, privilégios justificados pela lógica da diferença.

Seguir essa lógica é contribuir para aumentar sempre mais a brecha entre as pontas do cenário social e cultural, uma configuração perversa e inaceitável. Ora, a nobreza própria da política e seu estatuto maior é o bem comum. Isto significa agir sempre a partir da opção preferencial pelos pobres, em vez de simplesmente se orientar pela superficialidade e comprometimentos de ideologias partidárias. Estas, não raramente, são medíocres no que se refere à compreensão da dignidade humana, da cidadania, dos direitos, justiça e deveres. Geram a insatisfação que pode ser constatada na resposta dada pelo eleitor. As urnas mandam recados diversos.

É curioso perceber que, de um lado, há um movimento que pode ser interpretado como clamor por mudanças, que não devem ser adiadas e nem descansar no “berço esplêndido” das promessas. No entanto, apesar desse desejo, foram reconduzidos ao poder grupos familiares que não representam inovação política e indicam apenas o caminho da repetição do que tem sido pouco proveitoso para o bem comum. Assim, embora importante, principalmente quando se considera a governabilidade, não é suficiente apenas analisar o número maior de cadeiras conquistadas pelas siglas partidárias. Os resultados das urnas revelam o recado de que é ainda muito forte o poder do dinheiro, capaz de eleger quem não tem força própria para ser representante do povo.

Na listagem das mensagens vindas das eleições, é preciso atentar-se para a alta percentagem de abstenções e votos anulados, evidências de um grande número de pessoas em protesto ou ancoradas na indiferença. Trata-se de algo grave em momento tão decisivo para o futuro da nação. Um fenômeno que merece esforço de todos para ser compreendido. Certas surpresas indicam a candidatos que não se pode pensar no eleitorado como massa de manobra que formam “currais eleitorais”. Outras revelam fenômenos de votação que, lamentavelmente, foram escolhidos não por sua competência e condição de representar, mas pela simpatia ou mesmo pelo uso estratégico de deboches. As urnas sinalizam que é preciso operar mudanças urgentes e radicais.

A cidadania exige um tratamento mais adequado diante das necessidades do povo, com repúdio à deselegância de ataques pessoais e desconstrução pouco civilizada de adversários. É preciso reconhecer que o eleitorado pode fazer sua escolha considerando o nome que, para além da sigla partidária, tem credibilidade e competência. As análises das variadas mensagens das eleições são interessantes para o amadurecimento cidadão, na indicação de rumos e metas para candidatos.  Trata-se de exercício indispensável na corrida eleitoral de novo em curso, como investimento na escolha de caminhos capazes de conduzir a sociedade em novas direções. Embora em terreno contraditório e movediço, vive-se a oportunidade de aprender importantes lições com os recados das urnas.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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