Não se pode desconsiderar que entre os inúmeros perigos que ameaçam a paz e o autêntico desenvolvimento humano integral se encontra a triste depredação e desrespeito à natureza. Ora, entre as ameaças à paz, como guerras, conflitos internacionais e regionais, violações dos direitos humanos, violências e atos terroristas, estão também o desleixo e os abusos perpetrados contra a mãe terra e os bens naturais concedidos por Deus através dela. Há uma aliança indispensável a ser renovada entre o ser humano e o ambiente, que é um indiscutível espelho do amor criador de Deus. Tudo vem d’Ele.
Não se pode alimentar no coração humano a pretensão do poder e da posse que fecundam o orgulho e a tirania do uso desarvorado dos bens que são dons para todos. O Papa Bento XVI, em sua mensagem, recorda a Carta Encíclica Caritas in veritate, que “o desenvolvimento integral está intimamente ligado com os deveres que nascem da relação do homem com o ambiente natural, considerado como uma dádiva de Deus para todos. Por isso, sua utilização comporta uma responsabilidade comum para com a humanidade inteira, especialmente para com os pobres e as gerações futuras”. Esta responsabilidade não pode ser atenuada nas consciências de forma a considerar a natureza e o ser humano como meros frutos do acaso e do determinismo evolutivo. Na verdade, esta é uma hora de empenho redobrado para desenvolver a consciência de responsabilidade como coração da vivência cidadã.
É sumamente importante, assinala o Papa Bento XVI, “conceber a criação como dádiva de Deus à humanidade”. Esta compreensão ajuda a perceber a real vocação e o valor do homem. A criação deve ser, antes de tudo, olhada na sua beleza para despertar a sensibilidade que faz descobrir o amor do criador nela manifestado, proporcionando uma consequente capacidade humanitária e social para presidir o tratamento adequado desta mesma natureza. Por isso, no Dia Mundial da Paz, o Papa lembra a responsabilidade que a Igreja tem, enquanto perita em humanidade, de chamar vigorosamente a atenção para a relação entre o Criador, o ser humano e a criação. Esta é uma tarefa indispensável, na qual a Igreja participa e tem um claro compromisso, para além das soluções técnicas específicas, típicas de cientistas e de governantes.
Torna-se, pois, de grande importância, iluminar os caminhos para a superação da grave crise ecológica que vivemos neste momento da história com a explicitação das questões relacionadas com o conceito de desenvolvimento e a visão do homem e de suas relações com a criação e com os seus semelhantes. Os governantes estão permanentemente desafiados a buscar uma profunda e clarividente revisão do modelo de desenvolvimento. Particularmente, esta revisão toca o núcleo central da economia, implicando rever seus objetivos e corrigir suas disfunções e deturpações.
O Papa Bento XVI observa que não é difícil constatar como a degradação ambiental é, muitas vezes, “o resultado da falta de projetos políticos clarividentes ou da persecução de míopes interesses econômicos”. A ausência de governos responsáveis torna ainda mais notória a situação de risco vivida por grande número de pessoas, países e regiões, que experimentam realidades incompatíveis com a dignidade humana e que ameaçam, inclusive, a sua própria sobrevivência.
Mas a responsabilidade governamental não se resume a um pensamento orgânico e técnico em torno das questões econômicas específicas. É inteligente o governo que orienta sua ação como busca expressa de meios, procedimentos e práticas que garantam a superação da crise ecológica que está comprometendo o presente e a vida das gerações futuras. A paz é fruto da preservação da criação!