Hoje se conclui a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, COP 15, em Copenhague. A expectativa é de que as decisões tomadas pelos governantes causem impactos positivos e corretivos em todas as formas de vida no planeta, prospectando um futuro diferente e mais qualificado para a humanidade. Esta pretensão, colocada como meta no horizonte deste tempo, depende de inúmeros fatores, pois envolve muitas pessoas, ideologias e pensares divergentes, causando não poucas colisões, e revelando a complexidade do entrevero que a humanidade vive neste momento, em se tratando da vida e da sua promoção.
Ecoa um apelo global, especialmente aos líderes mundiais, exigindo um acordo corajoso e uma definição mais ousada de metas quanto ao enfrentamento do desafio de preservação da vida no planeta. Preservação que não deve ser entendida como equilíbrio da natureza desconectada da conduta humana, uma vez que esta é, na verdade, o ponto fulcral da geração e manutenção do equilíbrio pretendido. Esse cenário revela e comprova o quanto é forte o nível de tensão entre ciência e política, que representam forças determinantes nos andamentos destas discussões, na definição das metas e, particularmente, nos processos de execução e cumprimento do que está sendo assumido.
É fácil correr o risco de ser arrojado em definições de compromissos e metas, e simplesmente não cumpri-las. O que se escreve no papel, dando imponência a protocolos, conferências, fóruns e outros eventos de relevância, não é ainda, por si, garantia do que se pretende e é urgente alcançar. É ingenuidade pensar que travam duelo na busca da verdade e do bem apenas a ciência e a religião. O COP 15 também revela o embate sério entre política e ciência. A política como ciência do possível, no entendimento quase geral, duela com a ciência que explica, sabe, mostra e, no entanto, não pode arvorar-se a detentora da verdade que equilibra, abre e consolida o horizonte novo.
É interessante confrontar, do lado do entendimento político, a convicção de que o caos das mudanças climáticas se ancora na emissão descontrolada de CO2, exigindo controles para que não se ultrapasse o limite de 350 partes por milhão, valor máximo e seguro de dióxido de carbono na atmosfera conforme atestam e indicam os estudiosos do clima. O consenso desta compreensão entre os cientistas, por sua vez, mostra divergências e posicionamentos diferentes. Aponta, de novo, na direção do que está sob a égide da vontade e interesses políticos - particularmente deste último – e das vantagens a ser tiradas, além de outras coisas que só o dinheiro tem força de produzir e seduzir.
O Governo Brasileiro declara a intenção de diminuir em 38%, até 2020, a emissão de gases que provocam o aquecimento da terra, com a redução de 80% do desmatamento da Amazônia. Obviamente, estas metas precisam ser acompanhadas por políticas nacionais coerentes, promovendo a sustentabilidade do desenvolvimento humano, especialmente das populações empobrecidas e o respeito indispensável a uma integridade própria da natureza. Estas metas implicam desdobramentos que só um governo sério tem condições de cumprir. Por exemplo, não se pode deixar de falar em transparência e controle social sobre os investimentos públicos e privados, para que as políticas de reduções de emissões associadas ao desmatamento e à degradação florestal não sejam regidas pelos interesses do mercado. Não pode ficar fora desta pauta o compromisso de executar e aperfeiçoar o Plano Nacional de Mudanças Climáticas - PNMC, a opção por uma matriz energética limpa e diversificada, o respeito ao código florestal, a política de reforma agrária e agrícola que respeite o meio ambiente.
As metas, seus desdobramentos e exequibilidade dependem de muitas coisas e, particularmente, de uma compreensão humanitária ancorada em valores e princípios que só a ciência ou a política não dão conta de garantir. O Papa Bento XVI, com pronunciamento no âmbito desta temática, adverte que “antes que seja tarde demais, precisamos fazer escolhas corajosas que possam restabelecer uma forte aliança entre o ser humano e a Terra”. Esta aliança forte desabrochará, acima de tudo, de um entendimento em torno de um desenvolvimento integral e solidário, tarefa e responsabilidade prioritária dos atores da economia internacional. É preocupante e pede ações variadas de todos quando este processo se trava na corrupção de governantes e na conivência tácita de correligionários políticos.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte