O painel de escolhas que afetam e desafiam a subjetividade humana no mundo contemporâneo é de tamanho imensurável. Essa realidade oferece novas possibilidades para discernimentos, mas, ao mesmo tempo, os tornam ainda mais complexos. Uma complexidade que incide também nas relações entre grupos, pessoas e sociedades. É muito forte o fluxo da cultura globalizada que, sem deixar de apresentar novos valores e possibilidades, produz fragmentações e fragilidades, processos que, frequentemente, desqualificam subjetividades. Por isso, são urgentes as medidas que permitam recuperar a interioridade humana.
A carência de líderes capazes de conduzir processos sociais, culturais, políticos e religiosos com propriedade para dar novos rumos à sociedade é consequência dessa fragilidade no âmbito da subjetividade, enfraquecido nas dimensões humana e espiritual. Os desdobramentos são os atrasos nas dinâmicas conjunturais, com a desfiguração e a falência de muitas instituições. Sem líderes e agentes capazes de garantir o adequado funcionamento institucional, é estabelecida uma ambiência confusa, onde as pessoas não reconhecem o próprio papel, o serviço que devem oferecer e as prioridades.
Diante desse quadro que atinge os recursos humanos, as instituições não conseguem se adequar às necessidades do mundo contemporâneo e, por isso, não são capazes de oferecer contribuições à sociedade. Tornam-se prisioneiras de um tipo de marasmo egoísta que incapacita pessoas, permanentemente indispostas para assumir compromissos e, por isso mesmo, apenas preocupadas em manter o “tempo livre”. Essa situação cria indisposição para posturas altruístas, que requerem dois componentes indispensáveis: a motivação e o objetivo prioritário de se promover o bem do outro.
A esse marasmo, acrescenta-se ainda a ânsia pelos resultados imediatos, um mal contemporâneo. Busca-se uma velocidade que desconsidera os necessários processos para se alcançar certos objetivos. Essa ansiedade gera sensação de fracasso e de desânimo. Mais grave ainda é o pessimismo estéril que precisa ser vencido com um “não” radical. O derrotismo apenas aprisiona as pessoas em uma permanente sensação de desencanto, tornando-as lamurientas. Esse quadro, indiscutivelmente, é reflexo da falta de uma espiritualidade profunda, déficit que gera uma desertificação interior, o apego e a submissão ao que conta menos. Um mal que domina, faz perder a serenidade e a alegria de servir e de participar dos projetos que ajudam a transformar o mundo.
As instituições, consequentemente, não conseguem agentes capazes de inovar e abrir novas frentes. Apegam-se apenas à manutenção do que já fazem, inviabilizando as dinâmicas capazes de gerar novas respostas. Mesmo reconhecendo a necessidade de caminhos novos, permanecem amarradas a processos pesados. Respondem às “perguntas de hoje” com as “respostas de ontem”.
Ao se reconhecer a importância dos funcionamentos institucionais, que se alicerçam no agir de cada pessoa, identifica-se uma urgência: investir nas tarefas educativas que deem aos indivíduos a possibilidade de conquistarem uma subjetividade com envergadura humana, espiritual e moral, condição para que se tornem agentes de mudanças e de inovações. Ao mesmo tempo, inadiável é a permanente avaliação das dinâmicas institucionais, para que elas não enjaulem as pessoas e os grupos na mediocridade. Assim é possível romper o “círculo vicioso” que impede o desenvolvimento humano. A superação desses entraves ajudará no surgimento de líderes e agentes com criatividade para oferecer novas respostas à sociedade diante do atual painel de escolhas.
[caption id="attachment_28613" align="aligncenter" width="725"] Ilustração: Lelis | Jornal Estado de Minas[/caption]