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Dom Walmor Oliveira de AzevedoA opinião pública é um gigante. Mesmo estando muitas vezes adormecido é de uma força inestimável. Os meios de comunicação têm uma força que é poder e, ao contracenar e lutar com a opinião pública, é preciso refletir sobre os ganhos ou prejuízos para a indispensável consciência social e política que deve presidir a vivência de toda cidadania. Na verdade, a opinião pública é que é o poder verdadeiro. O poder da mídia é compreensível enquanto serviço educativo prestado à opinião pública, porém, esta é que tem a prerrogativa de discernir, decidir, escolher.

Não raramente o poder dos meios de comunicação se arvoram em força de dominação da opinião pública para direcionar, de acordo com interesses que não só contrariam como definem dinâmicas, escolhas e exercícios na contramão do bem, da justiça e da paz. É preciso impedir toda tentativa de barganha para amordaçar a opinião pública e, também, evitar os entendimentos equivocados a respeito de pessoas, instituições ou situações políticas. O serviço informativo e formativo da mídia, em se considerando os parâmetros da ética na comunicação, não pode cometer o engano, por exemplo, de desdourar o sentido da ação e da participação política, gerando descrédito e desconsideração por parte de cidadãos, comprometendo essa sua indispensável atuação política.

É direito da opinião pública ter a mídia a seu serviço, como tarefa informativa e educativa. Há um coração comum que une as duas forças: a que é inerente à opinião pública e a que está presente no serviço prestado pelos meios de comunicação. O coração da opinião pública é a moralidade. Há um imperativo que exige a regência da vida segundo princípios e valores. Existe um anseio, escondido no coração humano, por uma vida pautada nos valores morais, nas suas exigências pela certeza do gozo vitorioso que se conquista percorrendo este caminho. Contudo, é preocupante e merece convocação para se redobrar atenção quando os meios de comunicação escolhem a perspectiva de comprometimento desta moralidade.

É determinante a construção de uma mundividência na opinião pública e que a mídia, hoje mais do que nunca, tem o dever e o sentido de fidelidade profissional a construir. Particularmente, esse serviço precisa ser bem prestado quando se refere à política. Um ano eleitoral, especialmente como este de 2010, se torna cenário dessa consideração. É preciso encontrar no serviço que a mídia presta à opinião pública um permanente processo de purificação de interesses e do poder que deslumbram a inteligência humana configurando-se num perigo nunca totalmente eliminado. A purificação indispensável da razão e a formação ética inadiável são sustentáculos importantes para adequada configuração da opinião pública. Assim, a mídia, como outras prestadoras de serviços à opinião pública, não pode distanciar-se das suas responsabilidades na formação da consciência. 

Há um desejo de moralização contracenando, em ritmo de luta e conflito, com uma apreciada e cultivada permissividade que seduz a razão humana e os seus afetos. É preocupante e requer reações da sociedade, por parte dos seus diferentes segmentos, fazer frente ao império da baixaria custeada com altas somas. É curioso e lamentável o nível de muitos programas no mundo midiático. Como entender e explicar a atratividade da espetacularização do ridículo, como se pode constatar em programas, especialmente televisivos, ou a pornografia na internet, milionariamente custeadas pela exploração da morbidez da curiosidade ou da condição patológica na afetividade? Há um comprometimento moral que frontalmente atinge e vicia a consciência política, gerando cidadanias medíocres por não serem sustentadas pelas forças dos princípios e valores. 

A opinião pública, pois, há de recuperar e cuidar, com esmero, de sua pérola: a busca da verdade. O serviço da mídia não pode deixar de atender a esta demanda. A propaganda eleitoral não pode ser simples jogo de cena ou amordaçamento da opinião pública. A coragem de mostrar a verdade, propósito da Lei de Iniciativa Popular, Ficha Limpa, é a tarefa adiada e temida por quem é ficha suja. A necessidade de discernir, conhecendo a verdade, é do povo. E o direito de escolher pertence não aos partidos e aos pretensiosos, mas à opinião pública.

 
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
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