Artigo de dom walmor

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

31 de julho de 2010: uma data especial para todos os mineiros. Estamos celebrando o Jubileu de Ouro pela oficialização de Nossa Senhora da Piedade como Padroeira do Estado de Minas Gerais. É também o momento de celebrar o Santuário secular, 1776, da Serra da Piedade, como Santuário Estadual, pedido dos bispos de Minas Gerais, e empenho do Governo do Estado, ao Papa João XXIII, hoje Beato. Foi este Papa quem concedeu, em 1958, esse adorno de grande significado ao dom incontestável de um Santuário Mariano, no alto da Serra, magnífica arquitetura divina.

Uma magnífica arquitetura divina que merece, esperando o voto e a constatação dos que não a conhecem, para juntarem-se ao coro que já proclama ser esse lugar o mais belo, pela especialidade da natureza e pela casa de clemência e bondade da Mãe da Piedade. Essa beleza encanta e toca os corações e as mentes, pela singularidade dos 360 graus de panorama, com mil e uma facetas da beleza que só a mãe natureza oferece de maneira tão generosa, inspirando a conduta humana. O conjunto dessa beleza, emoldurada por um horizonte belo e a perder de vista, é enriquecido, de forma ímpar, pela Ermida da Padroeira, tendo à sua frente a Praça Cardeal Mota, espaço dos peregrinos, o lugar mais importante, berço de um patrimônio material e imaterial valioso.

Lembramos também a figura pioneira de Antônio da Silva, o Bracarena, nascido em Portugal, artesão na Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em labuta com o pai do Aleijadinho, jovem aprendiz, por ele contratado para talhar a imagem de Nossa Senhora da Piedade, século XVIII, que colocou todos os seus bens à disposição da construção da Ermida e manutenção do eremitério. Ali se fez eremita, pela razão mais profunda do coração humano: a busca de Deus, o infinito do amor.

Incentivada pela narrativa de uma aparição de Nossa Senhora da Piedade, no alto da Serra, a graça recebida por uma jovem muda que volta a falar, nasceu ali o dom desse Santuário Mariano, com peregrinações que remontam a quase duzentos anos, 1814, fecundando a fé do povo mineiro. Essas razões continuam no coração do povo que permanece subindo até o Santuário, encontrando sempre, sem reclamações ou lamúrias de qualquer tipo, motivações que multiplicam o seu desejo de procura do infinito, do amor de Deus. Cinquenta anos atrás, na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, com a imagem da Padroeira de Minas Gerais, as celebrações inauguraram um tempo novo de graças e bênçãos. Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos, Cardeal Mota, então arcebispo de São Paulo, e Dom João Resende Costa, arcebispo de Belo Horizonte, com a comunhão de bispos, sacerdotes, religiosos, e do povo de Deus, legaram essa grande dádiva.

Essa dádiva foi cuidada com a inteligência luminosa e a audácia de Frei Rosário Joffily, dominicano, que arrebanhou amigos e benfeitores, convenceu instituições e governos, conquistou muita gente pela causa, e trabalhou incansavelmente para concretizar a clarividência de seus entendimentos. Sua percepção lúcida e audaciosa edificou estruturas de serviço que honraram a memória e o amor de seus predecessores no Santuário, como o Bracarena e Monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, entre outros, grandes exemplos à altura da riqueza que a Serra e o Santuário hospedam, deixando um desafio para os que vieram depois. Uma década depois, já nesse terceiro milênio, a Semana Jubilar Missionária, com providências rápidas e desafios enfrentados para celebrá-la um pouco mais adequadamente, significa o lançamento de um novo tempo para o Santuário Estadual Nossa Senhora da Piedade, superando atrasos e descasos. Agora inaugurando, de verdade, um novo tempo para esse patrimônio de todos.

Um tesouro de todos, da Arquidiocese de Belo Horizonte, de Minas Gerais, da população ao redor do monumento, Serra e Santuário, para consolidar a devoção Mariana, Piedade, e oferecer a Minas e ao Brasil singulares oportunidades de visitação, peregrinações, estudos e encantamentos. Os desafios incluem agora a implantação de um rico projeto de evangelização, já em curso, em sintonia com o espírito das peregrinações bicentenárias, a fé do povo simples, o desejo de Deus no coração de todos, pelo caminho da beleza natural na reconquista de sensibilidades, educação social, ecológica e política.

Também um projeto abrangente e técnico, envolvendo segmentos e instituições, para que o potencial de valor incalculável deste Santuário se torne, cada vez mais, orgulho de Minas, referência no Brasil, patrimônio da humanidade. Tudo isso sem perder a originalidade da espiritualidade, com a tarefa de dar um lugar especial a Nossa Senhora da Piedade e ao Santuário, no coração de todos, particularmente dos habitantes do amado Estado de Minas Gerais. Todos são convidados para a festa do Jubileu neste dia 31 de Julho. Ser peregrino neste Santuário é uma grande experiência que renova os corações – cada vez mais.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
 

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