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Novos tempos e sentidos

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

 

A temática “Novos tempos e novos sentidos” configurou o horizonte de análises, partilhas e debates no Congresso Mundial de Universidades Católicas (CMUC), realizado na PUC Minas, no contexto jovial da Semana Missionária na Arquidiocese de Belo Horizonte. Nesse período preparatório que antecedeu a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, os participantes do CMUC se debruçaram sobre discussões e reflexões, com a finalidade de aperfeiçoar e proporcionar, especialmente aos jovens, ensino técnico e formação humanística, numa sociedade em constante transformação.

 

 
A Igreja sabe, assim como outras instituições devem saber, que os jovens são “a janela para o futuro”, conforme disse o Papa Francisco, ao chegar ao Brasil. E a Jornada Mundial da Juventude é demonstração clara desse entendimento. Por isso mesmo, o empenho da Igreja em realizar um evento marcado pela universalidade e a riqueza de oportunidades. Decisão que vai ao encontro do protagonismo jovem, mostrado nas recentes manifestações populares. Iniciativas que, decisivamente, introduziram a sociedade brasileira na exigência de uma nova etapa, marcada pelo modo de se fazer a política. Indo além, pois influenciou funcionamentos de instâncias e procedimentos configuradores dos rumos e cenários entre nós.
 
De fato, são novos tempos e novos sentidos e o CMUC firma a educação católica em posição de vanguarda e chama a atenção da sociedade, particularmente de governos, para sua grave responsabilidade, na condição de promotores e guardiões de uma educação de qualidade. Afinal, a educação qualificada é o suporte para alavancar o imprescindível desenvolvimento na sociedade brasileira, que não pode exilar-se na simples, embora insubstituível, formação técnica.
 
Há um sentido humanístico integral indispensável sem o qual se compromete os recursos aplicados. Eles são transformados em desperdício quando se opta por uma formação parcial. O mesmo ocorre quando se tem compreensão estreita dos valores das instituições de ensino que não estejam estritamente sob a batuta governamental.
 
Aliás, o perfil isento de perspectivas ideológicas de caráter partidário das instituições não governamentais mostra-se mais propício ao processo formativo. Além do técnico e do formal, o conceitual assegura aos estudantes a observação de valores que, de fato, formam lideranças lúcidas e profissionais cidadãos.
 
Esse diferencial que só vem do humanismo integral é próprio da educação católica por sua tradição e, particularmente, por sua fonte referencial, o Evangelho de Jesus Cristo.  Tal contribuição precisa ser mais reconhecida, respeitada e destinatária de suporte, inclusive econômico, por parte daqueles que, oficialmente, são responsáveis pela educação no país.
 
Ao contrário de programas que exijam das instituições sérias que alavanquem processos qualificados de formação na sociedade, os governos deveriam sim, investir e dar suporte a esses centros acadêmicos, como ocorre noutras partes do mundo.  É preciso haver o reconhecimento de que, desta forma, o país poderá avançar mais rapidamente no ouro essencial para o desenvolvimento da sociedade, que é o conhecimento integral, capaz de garantir-lhe competitividade no cenário mundial.
 
A educação não pode ser tratada, nos âmbitos federal, estadual e municipal apenas pela satisfação de alguns índices. Talvez sejam dados que apenas apaziguem consciências e deveres executivos. É incontestável que a grave crise política na sociedade brasileira se deve também à superficialidade da formação humanística integral. Outra não é a razão da crise de lideranças em todos os campos.
 
Política não se faz simplesmente com artimanhas, jogos, articulações ou conchavos para se conseguir vitória. Esta é a compreensão apreendida nas recentes manifestações populares. Como janela para o futuro, os jovens estão intuindo - e é peculiaridade do tempo da juventude - que não são boas as perspectivas para seu presente e futuro sem mudanças mais profundas nos processos educativos, no aperfeiçoamento de procedimentos e nos funcionamentos participativos na sociedade.
 
A PUC Minas hospedou durante o CMUC reitores, gestores, colaboradores, estudantes, especialistas e conferencistas de mais de trinta países. Com organização e funcionamento primoroso e preciso, projetou Minas Gerais com o qualificado da educação, das preocupações em torno dela e das perspectivas abertas a serem transformadas em compromissos. O que foi discutido e analisado nesse Congresso impulsiona a educação católica para nova etapa. Por isso, é preciso voltar a estes conteúdos e debates. Esperamos que os setores responsáveis pela educação se disponham à partilha dessas questões para melhorar o cenário educacional no Brasil, como oportunidade de introduzi-lo em novos tempos e novos sentidos.
 
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
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