Apenas um nome não basta. Uma lista diminuta de referências também é insuficiente. A sociedade precisa de líderes. É preciso evitar perspectivas centralizadoras que remetem ao antigo coronelismo ou à ilusão de que determinada pessoa é insubstituível. Ao invés disso, o que se espera é que surjam muitos novos líderes capacitados para gerenciar projetos e tornar realidade os sonhos do povo, em seus diferentes âmbitos – religioso, cultural, econômico e político. Pessoas qualificadas para atuarem não apenas na esfera global ou nacional, mas também gente que se dedique a trabalhos nos contextos mais locais – nas cidades, nos bairros e nas ruas.
Sem novos líderes as instituições permanecem sacrificadas, pois se tornam reféns de pessoas que exercem suas responsabilidades aprisionadas na mediocridade. Oportuno lembrar que uma instituição depende dos exercícios de liderança para renovar-se e conseguir ajustar-se às necessidades contemporâneas. Mais uma vez, é importante ressaltar: isso não significa depositar toda a esperança em um nome. Ao contrário, espera-se a articulação de diferentes líderes que se dediquem, permanentemente, à qualificação de seus desempenhos e instituições.
Essa realidade torna-se distante quando pessoas buscam organizações estatais, religiosas, privadas e tantas outras apenas para ocupar um lugar que garanta comodidades e benesses. Com frequência, muitos almejam ser pouco exigidos em suas atribuições. Realizam-se, assim, com os resultados pífios de suas próprias atuações. A sociedade, consequentemente, vai se moldando a uma dinâmica cultural em que se aceitam as barganhas para conquistar apenas benefícios pessoais. Em segundo plano, ficam a inventividade e a coragem audaciosa para agir de modo proativo, protagonizando processos de mudança.
A carência de pessoas comprometidas com a promoção do bem comum é consequência da falta de uma consistente formação humanística, que capacite os indivíduos a orientarem suas ações a partir de princípios éticos. Sem qualificada formação humana, corre-se sempre o risco de se deixar conduzir por princípios duvidosos e se envolver na corrupção. Assim, a ausência de uma formação humanística consistente leva as pessoas a uma estreita visão de mundo, contentando-se em alcançar certa comodidade, mesmo que isso signifique agir com mesquinhez ou indiferença.
Desse modo, consolidam-se as mediocridades, tornando comum nas instituições a presença de pessoas incapazes de oferecer soluções para os mais diferentes problemas. Passam a se destacar aqueles que se contentam com a mediocridade, em vez de serem valorizados os méritos, prevalecendo a acomodação. As pessoas ocupam-se mais com a tarefa de esconder as próprias fragilidades, de conservar as vantagens, esquecendo-se dos trabalhos capazes de promover o bem. Uma situação que inviabiliza o surgimento de líderes, perpetua atrasos, alimenta mediocridades e se agrava com a ausência de autocrítica.
É importante ressaltar: quem é medíocre não consegue, muitas vezes, perceber as próprias limitações. Candidata-se a cargos estratégicos, com grandes responsabilidades sem a real condição de exercê-los. Atua de modo bem diferente, se comparado aos que, de fato, possuem capacidade. As pessoas verdadeiramente qualificadas são hábeis no exercício da autocrítica, qualidade imprescindível para conduzir os líderes à inovação e às intuições criativas. O desafio é, precisamente, identificar pessoas competentes, que reconhecem a necessidade de se buscar o bem comum e a paz social.
Nesse caminho, há de se vencer apatias, pois ninguém pode se dar por satisfeito ao fazer o mínimo. As instituições precisam de novos líderes para se renovar. E os contextos institucionais, por sua vez, necessitam de novas dinâmicas, com a superação de práticas obsoletas, para favorecerem o surgimento de pessoas capazes de exercer a liderança. Entre as dinâmicas institucionais a serem superadas, estão as que acirram disputas internas e que contribuem para a propagação de maledicências, consolidando ambientes propícios à mediocridade.
O desafio de desarticular o habitual jeito medíocre de agir, que contamina diferentes lugares, é grande. Superá-lo exige de cada pessoa que se reconheça como agente de transformação, capaz de impulsionar avanços. Mas esse processo requer que todos se dediquem à autocrítica, ao compromisso de se fazer escolhas bem fundamentadas. Que ajam com coragem e audaciosamente no exercício das próprias responsabilidades, especialmente em contextos organizacionais. Assim, não serão favorecidos aqueles que buscam ocultar a própria mediocridade para se tornarem líderes de um grupo, ou mesmo de um povo. É urgente substituir a mediocridade pelo mérito, um movimento inteligente e inovador, dedicado à vida, à paz e à justiça.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Ilustração: Jornal Estado de Minas