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Juízos e críticas

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

As disputas contemporâneas são incontáveis. Estão em todos os lugares e hospedadas em muitos cantos do coração humano. Nos ambientes esportivos, de maneiras variadas, chegando, até mesmo, a fatalidades pelas divergências de sentimentos e opiniões. São disputas eleitorais e políticas que configuram exercícios do poder que provocam comprometimentos sérios em andamentos importantes da vida da sociedade, em razão de manipulações e apropriações indevidas e mesquinhas, como do erário público, com usufruto de benesses descoladas de direitos devidos. 

Não menos ferinas e prejudiciais têm sido as disputas religiosas ao redor do mundo, desenhando um cenário preocupante com comprometimentos graves para a paz. É um axioma incontestável a convicção de estudiosos que sem paz entre as religiões não se alcançará a paz mundial. Também não são raras as disputas travadas nos meios profissionais em geral, causando prejuízos e atrasos pela carência consequente de cooperação e solidariedade. 

Os cenários da sociedade contemporânea estão assim desenhados sobre desafios sempre crescentes. Incluem desde os índices que comprovam comprometimentos no desenvolvimento humano, passando pelos números e baixas impostas pelas crises econômicas – sempre mais frequentes e em curto prazo, até a essencialidade dos juízos de valor com sua força determinante nas condutas, entendimentos e prioridades. Juízos que permitem, em termos, alcançar e ancorar-se na verdade de fatos e na verdade enquanto valor maior da pretendida e indispensável sustentabilidade nos diferentes âmbitos e demandas destes mesmos cenários contemporâneos. Configuram a crítica e são, portanto, determinantes nos rumos da compreensão que se estabelece. 

A propósito, aqui vão algumas considerações sobre um juízo emitido a respeito do projeto arquitetônico Catedral Cristo Rei – assunto importante na pauta para a comunidade católica e a sociedade mineira. O comentário foi assinado por uma crítica de arte, publicado numa revista de tecnologia, design e cultura contemporânea. Embora curto, considera o projeto de Oscar Niemeyer como arquitetura genérica. Desqualifica também o estilo neogótico da Igreja da Boa Viagem, em Belo Horizonte, chamando-o de neogótico Disneylândia, classificado como pior que o genérico do gênio da arquitetura. O projeto da Catedral Cristo Rei, no entanto, foi acolhido de maneira muito positiva pela comunidade mineira, que o inclui na sua pauta de discussões e interesses, e vai ganhando a adesão de apoiadores de calibres variados, apontando, esperançosamente, na direção de sua edificação, considerada não só um presente arquitetônico que promete ampla projeção, mas um instrumento de serviços indispensáveis nos âmbitos da espiritualidade, arte, cultura, educação e promoção humana. 

Com certa mordacidade, a crítica tenta salvar a figura emblemática do arquiteto-gênio, mundialmente reconhecido, classificando-o como arquiteto do passado ao considerá-lo como um fato histórico que está na galeria dos mais importantes arquitetos brasileiros do século 20. E sua vida e atuação na primeira década deste século 21, quando lhe foi pedido este projeto? A crítica diz que há rumos novos na arquitetura contemporânea do Brasil e do mundo que são desconhecidos dos desinformados que fazem esta encomenda. Vai ainda mais longe, com traços de deselegância e iconoclastia, ao atacar o escritório Niemeyer, acusando-o de fazer do gênio “um refém de sua equipe”, transformando o ancião – sempre gênio, todos reconhecem – “numa roda de engrenagem que não pode parar, movida pelas encomendas oficiais”. Não é uma desconsideração de que um gênio, como na arte, música, literatura, espiritualidade e também na arquitetura, produz uma escola com gêneros e traços próprios? Traços documentados no seu rabisco, como noutras obras, para a Catedral Cristo Rei – Oscar Niemeyer está publicando um livro que mostra suas catedrais, igrejas e capelas. É importante discutir nos meios próprios o peso da acusação de clonagem ou a consideração de banalidade grotesca para este admirado projeto.

Enquanto se avança, decididamente, rumo à meta da edificação do projeto Catedral Cristo Rei em um percurso emoldurado por apreciações positivas, leituras sugestivas e ricas do entendimento das linhas deste monumento, com crescente lista de apoiadores de diferentes âmbitos e condições, vale a pena continuar neste caminho. Um verdadeiro fórum na aventura de construir a nova catedral para a capital mineira, que entrelaça sua fundação material com uma rica oportunidade na edificação de entendimentos adequados e indispensáveis serviços de inserção nesta qualificada rede de juízos e críticas.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte 

 

 

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