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Jovens e Igreja Católica

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Brasil será sede da 27ª Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em julho de 2013, como anunciou o Santo Padre Bento XVI, no dia 21 de agosto, em Madri. “Ide e fazei discípulos todos os povos”, o mandato de Jesus a seus discípulos, ao marcar o horizonte largo do anúncio do Evangelho e do seguimento do Mestre e Senhor, com perspectivas e forças para marcar, mudar e configurar culturas. Um desafio missionário que continua pertinente neste terceiro milênio. 

É o desafio que define a identidade e a missão da Igreja Católica, desde o momento inicial quando este mandato foi plantado no coração dos primeiros apóstolos, constituindo uma ininterrupta e rica tradição que se desdobra, permanentemente, em compromissos e exigências. 

A Igreja Católica, assim, constrói a sua história e sabe que esta é a sua tarefa missionária primordial, que exige uma leitura aprofundada da realidade e um posicionamento no tenor da rapidez e da multiplicidade que caracterizam este terceiro milênio. Essa é a moldura que põe o Brasil Católico agora ante a tarefa missionária de organizar, vivenciar, participar e realizar a próxima Jornada Mundial da Juventude. É, pois, uma tarefa de todos nós. 

O local é o Rio de Janeiro. Mas o projeto é para a Igreja Católica capilarmente presente no Brasil em comunhão e cooperação com esta participação em rede no mundo inteiro. Por isso é um evento de dimensões planetárias, envolvendo, de formas variadas, segmentos diferentes das sociedades e culturas. Os números são, pela força das dimensões, exuberantes. As referências a milhões de participantes e envolvidos, as cifras de gastos, os desafios da infraestrutura e outros se põem como uma responsabilidade enorme que deve ser, adequadamente, dividida com todos os que estão na Igreja, para se alcançar metas duradouras que estão além do fantástico que eventos deste porte podem produzir, com risco até de alimentar vaidades ou obtenção de resultados outros nesta ou naquela esfera. 

Essa movimentação, que precisa ser feita agora, já, sem delongas – conta-se menos de dois anos para essa preparação, se confronta com a meta fundamental e importante que é a evangelização da juventude. Esse é um desafio inquietante no horizonte da missão da Igreja Católica, por muitos títulos, exigências, demandas e mudanças nos cenários culturais. As pesquisas mostram as preocupantes mudanças ocorridas no novo mapa das religiões no Brasil. Entre os jovens de 10 a 19 anos - público importante para uma jornada mundial da juventude, há uma redução de 9% de católicos – 74% para 67%. O que impulsiona a colocar em pauta, permanentemente, a temática, à luz de reflexões profundas, e gerar mais ações, com rapidez e inventividade, como enfrentamento desta situação preocupante.

Este dado, entre muitos outros, está no quadro de análises que revelam exigências, seriedade e ações mais calculadas e incidentes na realidade quando o assunto é a evangelização. É claro que não se pode brincar com o tema, viver de ufanismos e, nem tampouco, satisfazer-se com dinâmicas e funcionamentos que o Documento de Aparecida, 5ª Conferência dos Bispos Latino-Americanos e Caribenhos, chama de pastoral da conservação. 

A referência de que a Igreja Católica perde 1% dos seus, anualmente, podendo, em vinte anos, descer 20 pontos dos atuais 68% no Brasil, exige exames sérios de situações e respostas adequadas e firmes. Não se trata de simples disputa de números, quem tem mais ou quem tem menos. É uma questão mais substantiva que se refere à qualidade da evangelização, à indispensável marca do Evangelho na cultura e à contribuição católica específica e indispensável em se tratando dos rumos das sociedades e do futuro da história e da humanidade.  

Minas Gerais tem um percentual de 73% de católicos em detrimento da média preocupante do Sudeste, que é de 64% - em comparação com o Nordeste, que é de 74%, mas também do Rio de Janeiro, que está abaixo dos 50%. É necessário pensar regional e localmente para trabalhar mudanças e reverter números no cenário nacional.

Os católicos de Minas Gerais, à luz da consciência de seu patrimônio tricentenário, marcado pelos valores cristãos e católicos, têm tarefas importantes e compromissos para não comprometer o seu maior e melhor tesouro: a fé. As juventudes, portanto, se constituem como um capítulo decisivo na consideração deste quadro e das exigências missionárias, como compromisso com um bem que está para além das simples fronteiras da Igreja, alcançando famílias, escolas, universidades e a sociedade. É hora de requalificar na Igreja, para o bem deste tempo, sua opção preferencial pelos jovens.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte - MG

 

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