Muito comum e necessário é falar sobre inovação tecnológica, imprescindível para que sejam estabelecidas as muitas redes de articulação capazes de gerar respostas novas para os problemas contemporâneos. A progressiva conquista da qualidade em diferentes serviços, graças aos avanços da técnica, também requer desenvolvimento científico direcionado às esferas da proteção e da segurança. São, pois, inadmissíveis retrocessos no campo tecnológico, que incide na vida social, promovendo, dentre outros fenômenos, o surgimento de novos ambientes digitais. Algo tão profundo que exige nova compreensão: as relações presenciais coexistem com as interações dos novos espaços possibilitados pela tecnologia, constituindo, assim, nova realidade. A velocidade das transformações no campo da técnica - indissociável da dimensão antropológica, isto é, do ser humano - demanda nova compreensão sobre o que se entende a respeito de inovação institucional.
Ora, o mundo se transforma com implacável velocidade, não raramente obscurecendo valores e princípios inegociáveis. Essas mudanças exigem que todas as instituições busquem se renovar e, assim, continuem a cumprir a sua missão, fiel a seus valores e princípios. Há de se reconhecer a importância das instituições - lugares dos instituídos que, à luz de princípios e valores, cumprem seu papel na configuração de uma sociedade. Um contexto social de instituições enfraquecidas estará, consequentemente, fragilizado. Por isso mesmo, são inadmissíveis, e requerem providências, as tentativas de fragilizar instituições da sociedade civil. Uma situação que, normalmente, é provocada pela patológica ou perversa supervalorização do ego, alicerçado em inconsistências, sem fundamento humanístico, com visão distorcida sobre o mundo e sobre o outro – especialmente a respeito dos pobres, que têm seus direitos espezinhados.
A sociedade civil, especificamente, não pode cair na armadilha de processos ou posturas políticas que apregoam o desmantelamento de instituições essenciais ao Estado Democrático de Direito. Cair nessa cilada é deixar-se iludir por interesses apequenados de alguns, desconsiderando o que é essencial para todos. As agressões às instituições da sociedade civil são alimentadas por questões ideológicas seriamente venenosas, disfarçadas em muitos aspectos que parecem ser o que não são. Assim, os que se deixam iludir por essa corrente ideológica apenas configuram discursos e posturas polarizados, sem contribuir para efetivamente promover inovações nos contextos institucionais. É preciso reconhecer o lugar da dimensão profética – seja no âmbito religioso, cultural ou político – para provocar entendimentos nos processos de avaliação e tratamento das instituições. Imprescindível é a construção de narrativas capazes de conduzir cada instituição na direção da inovação.
Os líderes de cada instituição estão desafiados a conduzir processos que envolvam seus liderados no inteligente aproveitamento das oportunidades viabilizadas pelo progresso tecnológico. Coexistindo com essa tarefa está a necessidade de cada instituição, sob lideranças corajosas, serenas e pacientes, traçar um caminho de atualização, à luz de profecias. Assim, as instituições se preparam para corresponder às necessidades de um tempo novo, construído a cada dia. Essa preparação constitui processo desafiador, por exigir diálogos e interfaces que são prejudicados pelos que buscam fazer das instituições o “seu lugar ao sol”, aproveitando-se da configuração institucional para alcançar objetivos pessoais. Ao contrário de desmantelamentos institucionais, como o que se assiste em razão da incompetência de líderes e outros agentes, o momento exige investimento em inovação institucional, para que não haja espaços, em cenários da sociedade civil, ocupados pelos que defendem autoritarismos, se apropriam indevidamente do que não lhes pertence, ou, mediocremente, agem movidos pela mesquinhez dos interesses cartoriais.
A inovação institucional, alicerçada no humanismo integral, precisa ser impulsionada por critérios com a exatidão de algoritmos para, desse modo, clarear entendimentos e alicerçar processos capazes de gerar respostas novas, a serviço da vida de todos. Sem inovação institucional, dinâmicas não ganham leveza, convive-se com a perda de recursos, com a acomodação doentia e com entendimentos medíocres. Como se diz popularmente, “perde-se o trem da história”. O mundo contemporâneo precisa de agentes e líderes que se dediquem à inovação institucional.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Ilustração: Jornal Estado de Minas