A interpretação do calendário maia provocou grande repercussão pelo mundo afora. A indicação do fim do mundo fomentou noticiários e providências folclóricas. As análises antropológicas, culturais e filosóficas poderão oferecer muitos elementos para fazer a humanidade pensar. O assunto passou a ser tratado com ironia e cinismo. Alguém contou que estava em confraternização com um grupo de amigos quando ouviu a seguinte observação: se o mundo tivesse acabado, sem que os congregados tivessem percebido, ali então seria, certamente, pela vivência da amizade e da fraternidade, a entrada no paraíso. De qualquer forma, permanece o fato merecedor de aprofundamentos, análises e conclusões.
O que, realmente, tem dia e hora para terminar é este ano de 2012. Será finalizada uma contagem de 365 dias e o novo ano começará sob os auspícios de fogos, danças, comidas e bebidas. Sem dúvida, em muitos lugares, esse marco na passagem do tempo será vivido à luz da contemplação e da oração, entrecruzando votos, sonhos, desejos de que o ano novo seja marcado pela paz e por muitas conquistas e realizações. Anseios que podem se tornar realidade, na medida em que profundas correções incidirem na interioridade humana, qualificando escolhas e opções, a conduta social e o relacionamento com a natureza.
O tempo corre veloz. Para os jovens, no dizer de um sábio, os dias passam depressa e os anos custam a passar. Para os mais velhos, os dias demoram a passar e os anos correm numa velocidade que chega a espantar. O passar do tempo é um relógio que aponta, incontestavelmente, para um fim. Se não for do mundo, como pressagiado, para um fim de etapas. A vida de todos, das famílias, das instituições, de cada um é feita de ciclos. É uma sabedoria simples e de alta importância compreender a vida tecida por fases. Todos devem discernir a hora exata de abrir ou fechar os ciclos. Quando esta sabedoria não existe, o passo seguinte será sempre fatídico. Desastroso porque traz prejuízos incontáveis, muitos até irreversíveis. Esse descompasso produz fim de amizades, de harmonia, de honestidades, de tudo o que precisaria estar recomeçando para garantir fecundidade.
É indispensável saber discernir e viver cada ciclo tecendo história. O mundo de todos caminha para um fim pela ausência de uma sabedoria que tem fonte inesgotável. Esta fonte é Deus. Quando se pensa a solidariedade na vida e na mensagem de Jesus Cristo, Salvador e Redentor da humanidade, se reconhece que n’Ele está o sinal vivente daquele amor incomensurável e transcendente de Deus-Conosco. Oportuno, pois, é celebrar o final do ano à luz das celebrações do Natal de Jesus. Não é apenas o Natal. É o Natal de Jesus. Há um gesto de amor. O amor de Deus, o Pai, que envia o Filho. Ele assume a condição humana, é o Verbo encarnado, o perfeito gesto de amor. Jesus assume as enfermidades do seu povo, caminha com ele, salva-o e o constitui na unidade. N’Ele, a solidariedade assume as dimensões do agir de Deus. Torna-se o horizonte inspirador e sustentador do caminho da humanidade para poder, inevitavelmente, contar mais um final de ano, e não empurrar o mundo na direção de um possível fim.
É hora de novos propósitos, sem superstições ou magias, sedimentados numa visão mais adequada da realidade social e política, intervindo corajosamente onde é preciso mudar com urgência. O novo no “ano novo” que vai chegando aponta o quanto é preciso corrigir as instituições, principalmente as governamentais, para que não funcionem como freio, impedindo avanços emergenciais em áreas como infraestrutura e direitos dos cidadãos. É bom chegar ao final do ano para propósitos novos, impedindo colapsos de um mundo que devemos cuidar. Seja este o compromisso de todos nos votos de um abençoado Ano Novo.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte