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Evangelho e empresários

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Parece novo e curioso relacionar o Evangelho de Jesus Cristo aos empresários, mas não se trata de novidade.  A União Internacional de Dirigentes Cristãos de Empresa e a Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas, criadas em 1931, no âmbito internacional, e em 1961, em nível nacional, em seis estados brasileiros, realizam, em Belo Horizonte, seu Congresso Mundial, junto com o 10º Seminário Internacional de Sustentabilidade. Empresários, políticos, construtores da sociedade pluralista, religiosos e outros representantes da sociedade civil, num ato inteligente e humanitário, aproximam o que é próprio do mundo empresarial dos valores do Evangelho. O horizonte desenhado é o indispensável parâmetro da responsabilidade social. 
 
Ora, é obsoleto, tirano e arbitrário produzir e negociar nos horizontes estreitos e perversos do lucro a qualquer custo ou do consumo doentio e predador. Responsabilidade social é escolha que aponta saídas para crises. Remete ao sentido humanístico que motiva a construção de uma sociedade justa e solidária. Trata-se de um ideal exigente, mas possível, quando é buscado a partir do Evangelho de Jesus Cristo, fonte incontestável e inesgotável de valores. 
 
A convicção a respeito da iluminação que o Evangelho traz para se alcançar novos rumos nas dinâmicas sociais é consolidada. Por isso, o Congresso Mundial e o Seminário Internacional são esperança na construção de caminhos para superar o corrosivo veneno que a lógica do mercado impõe à humanidade.  Esses eventos são particularmente importantes para ajudar os processos de reconfiguração da sociedade brasileira, imersa em caos político e em descompassos de crises que impactam o âmbito econômico. Os resultados são conhecidos por todos: aumento do número de desempregados e de pessoas que sofrem com a miséria.
 
Na pauta do Congresso Mundial e do Seminário Internacional não estão simplesmente as taxas, juros, números, dívidas, superávits e outros conceitos que compõem o “economês”. As reflexões incidem sobre a responsabilidade de empresas, governos e sociedade civil, reafirmando a importância e a urgência de todos trabalharem para construir o bem comum. Nessa tarefa, o papel do empresário e do dirigente de empresa é determinante, pois a iniciativa econômica é expressão da inteligência e da exigência de responder às necessidades da humanidade de modo criativo e colaborativo.  
 
À luz dos valores cristãos do Evangelho de Jesus Cristo, o desafio é buscar, juntos, as soluções mais adequadas para se responder às necessidades dos cenários sociais e políticos. Inquestionável é a importância da participação de empresários e dirigentes de empresas na superação das muitas crises. Esses líderes ocupam lugar estratégico no coração das redes que abrangem aspectos técnicos, comerciais, financeiros e culturais. Por isso, a importância de cultivarem valores humanistas. É justamente a falta de referências que gera descompassos e sofrimentos – como a corrupção endêmica que fere a sociedade mundial e brasileira – com impactos mais graves na vida dos pobres. Valores cristãos são remédio para a corrupção. Possibilitam um horizonte de compreensão sempre novo e corajoso, inteligente e humanitário no apoio aos projetos, grandes e pequenos, que estimulam novas experiências humanitárias e democráticas. 
 
Não há outra fonte inspiradora mais completa e inesgotável que o Evangelho. Conhecê-lo e vivenciá-lo é uma experiência de grande impacto. É preciso coragem e disposição para aprender e praticar os valores que brotam dessa fonte. Os resultados serão imediatos e com força revolucionária capaz de modificar cenários, levar ao alcance de metas que efetivarão o sonho de sociedades mais democráticas, civilizadas e solidárias. Investir nos valores do Evangelho é caminho para que parâmetros humanísticos se desenvolvam com velocidade.
 
Nessa urgência de se construir uma nova sociedade, o Papa Francisco faz sábia advertência, na sua Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho: “A dignidade de cada pessoa humana e o bem comum são questões que deveriam estruturar toda a política econômica”. Somente assim é possível promover um verdadeiro desenvolvimento integral. Para isso, é imprescindível o horizonte espiritual e humanístico do Evangelho de Jesus Cristo, capaz de despertar, em cada empresário, o compromisso de viver a sua vocação. O Papa ensina que a vocação do empresário é “uma nobre tarefa, desde que se deixe interpelar por um sentido mais amplo da vida; isto permite-lhe servir verdadeiramente o bem comum com o seu esforço por multiplicar e tornar os bens deste mundo mais acessíveis a todos.” Eis a inteligência e a possibilidade de se alcançar as respostas necessárias: reconhecer a importância indispensável de se aproximar  Evangelho e empresários.
 
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
 Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte 
 
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