Artigo de dom walmor

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Ética e participação

A celebração da Semana da Pátria é oportunidade para acender nas mentes e corações de cada brasileiro o desejo de se dedicar a uma complexa tarefa: qualificar a cultura cidadã da nação e, assim, transformar o Estado. Todos, unidos, são convocados a buscar sempre o bem e a justiça para essa pátria, que precisa, de verdade, ser mais amada. É um tempo que deve inspirar o compromisso civilizatório de buscar novas dinâmicas e respostas para que a pátria não continue a sofrer, deitada no “berço esplendido”, as consequências dos privilégios intocáveis, das inaceitáveis e abomináveis práticas comuns nas instâncias do poder político. Para isso, é preciso ter a coragem de dar um passo determinante: vencer os cenários de exclusão que fragmentam a sociedade, criando um contexto desfavorável à participação altruística nos processos cotidianos que dão forma à realidade brasileira.

Seguir esse novo caminho exige romper com os traços de mediocridade que se revelam em diferentes situações: nas inadequadas formas de exercer o poder e na busca egoísta pelo próprio bem, desconsiderando a vida de outras pessoas. A cooperação entre todos e a clareza sobre a necessidade de se buscar o bem comum precisam ser prioridade. Considerando a paixão que o brasileiro tem pelo futebol, é possível fazer um exercício de comparação para destacar a importância do trabalho coletivo com vistas a alcançar objetivos comuns. Um time ganha e avança, construindo campanhas exitosas, quando permanece unido e decide, coletivamente, valer-se, com lucidez, de seus recursos táticos e técnicos.

Nesse mesmo sentido, a sociedade, unida, precisa eleger suas prioridades e buscar audaciosas soluções para alcançar uma virada civilizatória. Todo cuidado é pouco para não se deixar aprisionar pelas disputas insanas na definição dos nomes que serão submetidos à votação nas eleições do próximo ano. Esses são embates fortemente orientados por interesses partidários, contaminados pela vaidade e que frequentemente comprometem a necessária lucidez, em um momento decisivo para o País. As disputas insanas apenas retardam progressos, impedindo a sociedade brasileira de atingir novo patamar, condizente com a história e as riquezas do Brasil. Um ponto crucial para conquistar avanços civilizatórios no País é cada pessoa assumir o gesto penitencial de reconhecer que a nação precisa refazer seus trilhos para percorrê-los em outra velocidade. Essa tarefa contempla assimilar novas dinâmicas culturais e políticas.

Ninguém se transforma e, consequentemente, nada muda quando não se adota o princípio da humildade, que permite reconhecer limites, inabilidades e, particularmente, as estreitezas de compreensão que impossibilitam mudanças de atitude. Demanda-se essa humildade do cidadão comum aos que atualmente estão no exercício do poder. Eis um passo fundamental para alcançar a clarividência que torna possível encontrar saídas para as crises, sabedoria e, principalmente, sensibilidade para definir o que realmente é prioritário.

A sociedade precisa, pois, de gente que esteja aberta a novas percepções, para avançar sob impulso da ética e da participação, antídotos que debelam a mediocridade de desempenhos, a estreiteza de propostas de homens e mulheres que, em vez de pensarem globalmente, são orientados por partidarismos suicidas e perniciosos. O tempo novo, com um Estado reconstruído, sociedade equilibrada e com força para superar tristes cenários, será conquistado com o pilar da ética e na dinâmica da participação.

O pilar da ética tem força para superar uma cultura nefasta que é contramão da transparência e da honestidade. A ética, quando orienta condutas, é capaz de debelar o antipático e propalado “jeitinho brasileiro de ser”, aqui compreendido como falta de seriedade, costume de burlar normas e procedimentos, com o objetivo de alcançar o favorecimento pessoal, benesses para aqueles que são próximos ou correligionários. Uma sociedade participativa prioriza a dimensão comunitária, mais horizontal, no lugar de uma organização hierárquico-vertical. Supõe o reconhecimento da autonomia de cada pessoa e um Estado que, em vez de achatar a cidadania, reconhece que está a serviço do cidadão.

A ética e a participação cidadã são imprescindíveis para o desenvolvimento de cada pessoa e de toda a sociedade. Que a Semana da Pátria inspire diálogos e compartilhamentos, o envolvimento de todos na construção de um tempo diferente e de renovada cultura, marcados por mais ética e participação.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

[caption id="attachment_43463" align="aligncenter" width="487"] Ilustração: Lelis - Estado de Minas[/caption]

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