O Grito dos Excluídos deste ano norteia-se à luz de uma significativa reinvindicação cidadã, traduzida no próprio lema da manifestação popular: o compromisso de exigir e trabalhar por um “Estado a serviço da Nação, que garanta direitos a toda população”. Sem matizes de caráter ideológico ou meramente partidário, a sociedade brasileira é convocada a escutar esse grito. Um grito de todos, em razão de seu caráter cidadão, mas que é ainda mais forte advindo do peito dos excluídos, aqueles que sentem mais o peso e pagam mais caro quando o Estado não funciona devidamente.
A manifestação popular do Grito dos Excluídos é carregada de simbolismo ao congregar igrejas, movimentos e pastorais sociais, entidades, grupos e pessoas. Um cidadão pode até não encontrar-se inserido em sua dinâmica, marcada pelo sentido de profecia e de solidariedade para com os excluídos. Porém, ninguém, fiel à sua cidadania, e na mais lúcida compreensão, pode permitir-se não fazer coro com a sociedade para fortalecer a exigência de um Estado a serviço da Nação.
É indispensável tornar público, nas ruas e praças, o rosto desfigurado dos grupos excluídos, vítimas do desemprego, da miséria e da fome. Pertinente, portanto, conforme objetiva o evento, é propor caminhos alternativos ao modelo econômico neoliberal, de forma a desenvolver uma política de inclusão, com a participação ampla de todos os cidadãos. Neste sentido, a escolha do Dia da Pátria não pode ser interpretada simplesmente como confronto com o desfile tradicional, por exemplo. O Grito dos Excluídos tem a grande e imprescindível finalidade de chamar a atenção da sociedade para as condições de crescente exclusão social.
A mobilização é um espaço de participação livre e popular, em que os próprios excluídos, junto com os movimentos e entidades que os defendem, trazem à luz o protesto oculto nos esconderijos da sociedade e, ao mesmo tempo, o anseio por mudanças. Essa é a compreensão básica desse evento, também em sintonia com a realização da 5ª Semana Social, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), seus organismos e dioceses, a realizar-se em maio de 2013. O propósito e a meta do Grito dos Excluídos estão em conformidade com a Doutrina Social da Igreja Católica, importante referência que promove educação cidadã fiel aos ensinamentos de Cristo. A Doutrina Social da Igreja Católica também aponta muitos caminhos para que se possa alcançar um modelo de Estado mais servidor, capaz de desempenhar bem certas tarefas fundamentais. Entre essas tarefas, por exemplo, está a definição de um quadro jurídico capaz de regular as relações econômicas, mecanismo para impedir a criação de dinâmicas escravocratas nas relações entre pessoas, instâncias e instituições.
A autenticidade de cada cristão é comprovada a partir da vivência da caridade. Ora, isto significa dizer que os cristãos são chamados a testemunhar o amor, com convicção, e mostrar, com sua vida, que o amor é a única força que pode conduzir a sociedade rumo ao bem. O Grito dos Excluídos é oportunidade para um aprofundamento da indispensável solidariedade, iluminando caminhos e redefinindo prioridades. O amor deve permear todas as relações sociais, para garantir o funcionamento que se espera do Estado. Na tarefa de buscar esse modelo ideal de Estado, a participação cidadã é determinante. Em jogo estará sempre o bem comum, prioridade irrenunciável de governos, razão da autoridade política. A escuta do grito dos excluídos deve apurar os ouvidos e os sentimentos de todos os cidadãos, particularmente dos que têm a tarefa de fazer o Estado funcionar adequadamente, sempre a serviço da Nação.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte