Minas são muitas e numerosos são os seus tesouros, que estão emoldurados por mais de 300 anos de história. Para além desses três séculos, grandes referências a lugares, acontecimentos, personalidades, fé, cultura e cidadania. Neste horizonte de incontáveis riquezas, um convite deve ser acolhido por todos e, particularmente, encontrar lugar no coração de cada mineiro. Nos dias 22 e 23 de novembro, o Santuário Nossa Senhora da Piedade, a Padroeira do Estado de Minas Gerais, celebra a solene reabertura da Ermida da Padroeira, depois de 10 meses de meticuloso trabalho de restauro. Trata-se do lugar mais importante no riquíssimo conjunto arquitetônico, histórico, religioso e paisagístico da Serra da Piedade, justamente qualificada como magnífica arquitetura divina: a Ermida da Padroeira.
Em 30 de setembro de 1767, a Cúria da Arquidiocese de Mariana autorizou, por meio de documento canônico, ainda hoje preservado e em exposição para conhecimento público, a edificação da singela Igreja. O português Antônio da Silva Bracarena foi quem pediu permissão para construir a Ermida na Serra, a 1746 metros de altitude, e iniciou naquela região a veneração ao comovente e sugestivo título de Nossa Senhora da Piedade. Bracarena viveu no alto da Serra como ermitão, definindo parâmetros para uma herança bendita dada à Igreja, aos mineiros e, hoje, aos devotos do mundo inteiro. Dom de Deus que se insere no contexto de um valioso patrimônio ambiental, da mais alta relevância, merecedor de incansável defesa, preservação incontestável e incondicional.
Bracarena veio de Portugal, viúvo, para ganhar dinheiro na construção da Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, no centro da cidade de Caeté, trabalhando com o artífice Manuel Francisco Lisboa, pai de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho que, ali presente, ainda jovem, aprendiz, forjava-se como admirável mestre do barroco mineiro. Aquela região foi uma universidade para Aleijadinho. De lá, seus primeiros passos projetaram horizontes largos de um reconhecimento internacional pela arte e inteligência. Entre as suas obras, uma das mais admiráveis e comoventes é a imagem da Senhora da Piedade, venerada há quase 250 anos na Ermida que, agora, é reaberta após ser revitalizada.
O coração de Bracarena, inicialmente interessado apenas no dinheiro, se moveu para outra direção, ao escolher uma vida eremítica, no silêncio, na oração e na penitência, certamente tocado por uma história que conheceu. O relato da aparição de Nossa Senhora, no alto da Serra, a uma menina muda, que encontrou a cura e testemunhou esse milagre, fazendo espalhar, de maneira tocante, sua história e, assim, cultivando ali, para sempre, uma fonte perene de sentido. Assim cresceu a devoção que ocorre em um lugar de encantadora e apaixonante beleza, com a presença materna de Maria, a Senhora da Piedade, mestra exemplar por sua atitude de discípula, que se revela, particularmente, no seu olhar. Uma expressão que entrelaça a sombra da dor de perder o filho com a luz refulgente de uma fé, confiança incondicional em Deus, o Pai que ressuscita o Filho.
Esse acontecimento selou um tesouro no coração de Minas Gerais. O monumento merecedor dessa fé é a Ermida que, conforme o desejo de Bracarena, abriga a Senhora da Piedade, sacramentada, a partir de 31 de julho de 1960, oficialmente, como a Padroeira do Estado de Minas Gerais. Aquele singelo espaço torna-se a casa de clemência e bondade da Padroeira de Minas, referência de religiosidade, de importância histórica, beleza natural e riqueza incalculável, dom de Deus e da natureza, força de inesgotável irradiação espiritual.
Mineiros e devotos todos, veneradores da história, defensores do meio ambiente, promotores e apreciadores da cultura, homens e mulheres de diferentes classes, línguas e origens, são chamados a peregrinar a esse Santuário, passando pelo coração desse magnífico conjunto arquitetônico, a Ermida da Padroeira. A Igreja foi reformada graças à generosidade dos devotos, discípulos de Cristo Rei, e da clarividência do Governo de Minas Gerais, ao declarar o Santuário Nossa Senhora da Piedade, com seu conjunto cultural, histórico e paisagístico, como de relevância turística para o Estado.
A revitalização da Ermida, entre as muitas conquistas alcançadas e tantas outras que necessariamente virão, é importante para cultivar, ainda mais, o apreço que a cidadania e os fiéis todos são chamados a ter e a demonstrar, com presença constante, em grupos, famílias, instituições, no Santuário Nossa Senhora da Piedade. Todos devem peregrinar, visitar a Ermida da Padroeira, fazendo-se destinatários de bênçãos e graças. A reabertura da Ermida, reformada com encanto, singeleza e beleza que transmitem lições, abre o triênio dos 250 anos peregrinando na fé, sendo 2017 o ápice das celebrações.
Firmam-se, assim, passos e escolhas fundamentadas no horizonte duradouro e inesgotável da espiritualidade que baliza condutas e inspira a ética. Promove-se o respeito ao meio ambiente, a partir da contemplação das belezas naturais, que se manifestam em uma infinidade de modos, promovendo diferentes formas de encantamento. Nos dias 22 e 23 de novembro, uma programação religiosa e cultural marcará a reabertura da Ermida. Inclui também a inauguração do campanário Nossa Senhora Rainha da Piedade. Todas essas ações buscam promover o caminhar do Povo, peregrinando na fé, e situar, definitivamente, o Santuário Nossa Senhora da Piedade entre os tesouros de Minas, no coração de cada mineiro.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte