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Equilíbrio do ambiente

Dom Walmor Oliveira de AzevedoSalvaguardar o ambiente é uma das mais importantes lições da Doutrina Social da Igreja. Trata-se de um compromisso prioritário da cidadania. A salvaguarda do ambiente há de ser uma “urgência urgentíssima” na agenda de governos, no rol da responsabilidade social das empresas e de tantas outras instituições. De modo não menos especial e permanente deve ser lição diária nos processos educativos.

As muitas formas de interação do homem com o mundo é um elemento que constitui identidades. E nesse conjunto de interações, a relação com Deus é a referência primeira do contato do homem com o mundo. Homem e mulher são colocados no ápice da criação divina. Deus lhes confia a responsabilidade e a operosidade sobre toda a criação, com a grande tarefa de tutelar a harmonia e o desenvolvimento.

Esta relação com o Criador, fruto da experiência viva da presença divina na história, fundamento da fé do Povo de Israel, base fundamental da concepção e vivência do Cristianismo, configura o lugar de interlocução entre Deus e a humanidade. Só neste diálogo a criatura humana encontra a sua verdade e, consequentemente, inspiração para os rumos do mundo. A salvaguarda do ambiente é na sua raiz uma experiência de fé, marcada pelo diálogo entre o homem e Deus, que faz advir a necessária iluminação ética. Uma luz que situa adequadamente a responsabilidade e a tarefa desta tutela na criação.

É a relação especial com Deus que explica e sustenta a posição privilegiada da criatura humana na ordem da criação. Um privilégio que bem entendido jamais permite uma postura de usufruto desordenado ou de depredação, como se constata na realidade contemporânea, muito marcada pela ganância, consumismo, falta de limites e de sensibilidade.  

A Páscoa de Jesus, sua experiência de atravessar a morte e nela inserir a novidade resplandecente da Ressurreição, é o restabelecimento da vida, na ordem e na harmonia, perdidas pelo pecado que tudo destrói. A Doutrina Social da Igreja sublinha como lição determinante que a consciência dos desequilíbrios entre o homem e a natureza precisa ser “acompanhada pelo conhecimento de que, em Jesus, se realizou a reconciliação do homem e do mundo com Deus, de sorte que cada ser humano, consciente do Amor divino, pode reencontrar a paz perdida”.

Esta perspectiva bíblica é a força de inspiração para o uso da terra e também para o desenvolvimento da ciência e da técnica. O esforço gigantesco de homens e mulheres para melhorar as suas condições de vida não pode estar na contramão do plano de Deus. Na verdade, este empenho deve sempre corresponder ao plano divino. Do contrário, a atividade humana será provocadora de arbitrariedades, depredações e ganâncias. Nesta perspectiva, os resultados positivos da ciência e da tecnologia devem ser aplicáveis ao ambiente natural, à agricultura, respeitando sempre, para além de tudo, o sentido de preservação da criação.

Essa aplicação correta da técnica é um desafio, pois confronta certos hábitos, demandas e princípios perversos que regem a economia e o consumo. É indispensável a prudência e uma equilibrada avaliação da natureza  para que se tenha, verdadeiramente, uma busca pelo bem-estar de todos e sejam alcançadas soluções para grandes problemas, como a fome e as enfermidades.

A busca permanente pelo equilíbrio deve ser cultivada a partir de um fundamento simples e contundente: tudo é doação de Deus. Ninguém pode se considerar dono absoluto dos bens da criação. Portanto, são inadmissíveis posturas políticas e interesses econômicos que resultam no uso arbitrário da terra, submetendo-a, sem reservas, a vontades e interesses.
 

Quando o princípio de que tudo é doação de Deus é desconsiderado, por inúmeras razões, em si irracionais, configura-se a grave crise na relação homem-ambiente, sintoma da ambição de exercer um domínio incondicional sobre todas as coisas, desconsiderando, assim, inegociáveis princípios da ordem moral. Não se pode trabalhar com o pressuposto de que existe uma quantidade ilimitada de energia e recursos a serem usados.

Como convite a mudanças de hábitos e condutas mais cidadãs, que a consciência seja iluminada pela concepção correta do ambiente.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
 

 

 

 

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