A Igreja Católica convida a sociedade, com a Campanha da Fraternidade 2022, a discernir sobre novos caminhos para a educação, pilar fundamental da paz e do desenvolvimento integral. Esta é a terceira vez em quase seis décadas que reflexões sobre Fraternidade e Educação inspiram a vivência da Quaresma. O tempo quaresmal, com sua luz própria e pertinente interpelação à conversão, pode contribuir para iluminar a realidade da educação no Brasil, especialmente ante a necessária busca por soluções para projetos inconclusos, respeitando a Constituição. O ponto de partida é compreender que o apelo à conversão deve envolver a conduta cidadã, possibilitando o fortalecimento da democracia, da paz, do respeito à dignidade humana. A fé deve sempre inspirar a consolidação de uma sociedade fundamentada na justiça e na solidariedade, impulsionada pelo mais completo e amplo sentido de fraternidade universal.
A interpelação da Igreja Católica à sociedade civil para refletir sobre um tema tão complexo e prioritário se alicerça na sua contribuição qualificada no campo da educação. Um serviço oferecido há muitos séculos, com raízes que remetem a Jesus Cristo, Mestre e Senhor, aquele que perfeitamente “fala com sabedoria e ensina com amor”. Inspirada em Jesus, a Igreja, na sua história bimilenar, vem oferecendo reconhecida contribuição ao campo educacional. Sejam lembrados os mosteiros, lugares da cultura e do ensino, de pesquisas e de avanços científicos, bem como as catedrais no seu sentido mais genuíno – referências na acolhida prioritária dos pobres, espaços dedicados à arte e à cultura, particularmente à espiritualidade e à fé, que são forças formativas de proporções admiráveis. No passado e no presente, a Igreja vem formando gerações e, assim, atuando decisivamente em processos que levam a avanços civilizatórios.
Grande é o tesouro da herança da educação cristã católica, com significativa contribuição acadêmica e científica, respostas sociais impressionantes e a inteligência própria de quem prioriza o humano – ao invés da busca pelo lucro ou por vantagens. No areópago do campo educacional na contemporaneidade, em todas as suas diversificadas dimensões práticas, a educação católica, com atores historicamente relevantes e com instituições de ensino exemplares, distingue-se por compreender o ser humano, a cultura e a sociedade a partir de valores e princípios cristãos inegociáveis. A antropologia cristã, na sua riqueza e completude, inspira a prática educacional sistêmica. Define prioridades de atuação e de serviços a partir do inegociável compromisso com a excelência acadêmica. As dificuldades e desafios - que não são poucos - impostos particularmente pelas crises econômica e cultural, não conseguem demover o “barco” da educação católica do seu rumo e de suas metas, por compreender-se como serviço à promoção da vida e da sacralidade de toda pessoa humana.
A antropologia cristã permeia, pois, a prática formal da educação, congregando dimensões, setores e etapas da vida humana e social. Parte-se de uma visão positiva e integral do ser humano, responsável por si mesmo e pelo mundo, um ser livre, aberto à transcendência e culturalmente situado, consciente dos seus limites e, por isso mesmo, comprometido a superá-los, para assim caminhar na direção de um reino de amor, ajudando a edificá-lo, com justiça e fraternidade. Assim, é ponto determinante da educação católica preparar cada pessoa para agir sob os parâmetros de um humanismo integral, considerando as dimensões relacional e comunitária. Um compromisso enraizado na identidade e na missão das instituições de ensino da Igreja.
Educar a pessoa em todas as suas dimensões é o compromisso das instituições católicas de ensino. Isto significa oferecer uma educação integral, agora ainda mais necessária, pois muitas crises se agravam na sociedade brasileira. Reconheça-se a importância da educação católica, por sua qualidade, mas também pela expressividade de seu alcance. As escolas católicas estão presentes em todos os Estados da Federação, com aproximadamente 100 instituições de ensino superior, 1000 escolas, 110 mil profissionais e 1,5 milhão de estudantes, com especial zelo e apoio aos mais pobres. Escolas católicas são lugar da partilha, da educação integral, articulando fé, cultura e vida. Um dom a ser cuidado no horizonte da educação brasileira, com bela história e instigantes desafios.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Ilustração: Jornal Estado de Minas