“A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), celebra nestes dias, 3 a 13 de maio, sua 48ª Assembleia Geral. Os bispos católicos do Brasil escolheram realizar esta assembleia geral em Brasília para oportunizar a participação do maior episcopado do mundo no 16º Congresso Eucarístico Nacional, que acontecerá nesta Capital no dia 13 de maio. A Igreja sabe, mesmo em meio às vicissitudes humanas, que sua força vem da comunhão, e não de articulações interesseiras ou de estratégias espúrias.
Ainda quando a Igreja se vê manchada, é santa e pecadora também, ela não perde a direção certa de seu olhar fixado na fonte inesgotável do amor de Deus, sentimento que a torna servidora. E a faz também corajosa na profecia, comprometida com a justiça, junto dos pobres e ancorada no testemunho do Evangelho - cujo anúncio e vivência são suas tarefas centrais, fonte de vida e sentido para todos.
O Congresso Eucarístico Nacional comemora os cinquenta anos da cidade que é a capital federal, e também os cinquenta anos da Arquidiocese de Brasília. Damos graças pelas duas celebrações. No mesmo dia da inauguração da cidade se instalou a Arquidiocese de Brasília. Essa concomitância é mais uma ocorrência, entre milhares, nas diversas etapas da história desses últimos dois mil anos, e também dos mais de quinhentos anos da Terra de Santa Cruz, Brasil, a Igreja Católica presente na vida e na história do Povo de Deus. Essa presença é por força da identidade e do impulso intrínseco de sua missão.
A Igreja de Jesus Cristo nasce do seu coração aberto e se efetiva na obediência dos apóstolos primeiros, e dos seus sucessores, sem interrupção. Chamados e enviados como Igreja Servidora no coração do mundo, defensora da vida e promotora da justiça e dos direitos. Contar uma história, como a do Brasil, com suas oscilações naturais, prescindindo da Igreja Católica é esvaziar essa história, retirando o seu próprio coração e negando sua identidade.
O primeiro ato da Igreja no Brasil, gesto simbólico e de fé concreta - marca da sua presença nessa história, foi a cruz redentora de Cristo Ressuscitado plantada nessa terra que segue seu caminho à sombra dessa mesma cruz. Quando esse caminho se distancia desse horizonte do Evangelho ele se constitui em descaminhos, dentro e fora da Igreja, com prejuízos absurdos e com perdas irreparáveis.
Reunidos em assembleia geral, os bispos da Igreja Católica no Brasil, verdadeiros sucessores dos apóstolos, por mandato do seu Mestre e Senhor, e por tradição ininterrupta, lançam o seu olhar não somente sobre suas vidas internas, mas também para a sociedade no mundo inteiro, particularmente no Brasil. A experiência da comunhão colegial entre os bispos, sinal de unidade que cada um é, congregando nas dioceses o povo de Deus, nos dias da assembleia e do Congresso Eucarístico, é fecundada pela oração e pela escuta da Palavra de Deus. É uma oração, em primeiro lugar, para escutar o seu Senhor.
É uma assembleia geral para fecundar esta comunhão, crescer na consciência da tarefa missionária e iluminar a tarefa do serviço prestado à vida, especialmente aos pobres e sofredores. E a consciência histórica de sua inarredável importância ao ajudar a manter uma cultura da vida, capaz de produzir sentido, o alimento mais importante.
Com coragem e transparência, os bispos, na ampla pauta desse importante evento eclesial para a vida missionária da Igreja, incluíram o desafio e a determinação de curar, num corpo de muitos membros florescentes, servidores e palmilhando a vida na santidade, a ferida da pedofilia. Uma ferida que exige posturas corajosas e comprometidas também no corpo da sociedade. É inegociável o compromisso da Igreja no enfrentamento moral, canônico e jurídico civil dessa situação. Sobretudo garantindo que, entre os servidores consagrados na Igreja, não se afiliem ou permaneçam os que sofrem dessa grave patologia, além de trabalhar em ações terapêuticas e disciplinares correspondentes. A assembleia geral toca as feridas para tratá-las, como também retoma, no horizonte da missão continental, o compromisso missionário assumido na Conferência de Aparecida, em maio de 2007, envolvendo toda a América Latina. Essa retomada do assunto é um fortalecimento do compromisso com a proposta de uma grande mobilização nacional, ecos do Sínodo dos Bispos, de 2008, enquanto se aguarda a Exortação Pós-sinodal, do Papa Bento XVI, colocando, cada vez mais, a Palavra de Deus em primeiro lugar.
Esse anúncio da Palavra de Deus é a luz para os passos e o coração de todos, iluminação profética também da realidade social, política, econômica e cultural.
Essa é a Igreja que, servidora na sociedade, arruma-se para servir mais e melhor, com coerência e transparência, ancorada em testemunhos autênticos de sua história de ontem e de hoje. É a Igreja que participa da construção de uma sociedade mais justa, com ações de grande alcance como a mobilização em torno do Projeto Ficha Limpa. Determinante de novos rumos na moralização inadiável da sociedade e de suas tantas instituições.
Servindo, verdadeiramente, ao povo que anseia por tempos novos na verdade. A Igreja presta esse serviço porque tem reservas para subsidiar caminhos novos nessa verdade. Dessa força da verdade, o amor de Deus, a Igreja continua seu caminho de servidora de todos.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte