O aumento da temperatura do planeta é o desenho gradativo de prejuízos ainda mais dramáticos para a humanidade. Os chefes de estado reunidos têm uma tarefa crucial: assumir e cumprir metas, de modo efetivo. Até agora, os esforços foram sempre pequenos, diante das demandas que pedem ações mais radicais. Essa fragilidade da governança mundial alimenta interesses arbitrários e pouco humanistas, dinâmicas que desrespeitam o meio ambiente. As muitas devastações, que passam por cima de tantos como um trator, são o resultado.
A consideração das estatísticas indicadas por peritos e cientistas alarma. É uma pena que essa grande preocupação ainda fique restrita ao ambiente acadêmico, auditórios, reuniões e conferências. Se o conhecimento não se transformar em ação, a tendência é tudo continuar do mesmo jeito. Novos hábitos e posturas, capazes de substituir um estilo de vida fundamentado no consumismo, por exemplo, são urgentes. Badalem os sinos da consciência para provocar efetivas mudanças.
Apesar de decisivo, não bastará o controle da emissão de gases poluentes. Isso já é uma batalha gigante porque, irresponsavelmente, os que têm a obrigação de reduzir a poluição na atmosfera não cumprem as metas assumidas. O desafio maior é que todos - chefes de estado, líderes religiosos, políticos e culturais e os cidadãos – cultivem uma espiritualidade com força de convencimento interior capaz de incidir na consciência. No recôndito só acessado pelo indivíduo e por Ele, Deus, é preciso fazer germinar a compreensão de que o consumismo pode seduzir, convencer e arrastar, cegar e dominar os corações. Quando consumir sem reflexão torna-se parâmetro de vida, são desencadeados processos de abominável submissão. O ser humano passa a enxergar-se, a ver aspectos importantes da vida - como o lugar onde mora, o trabalho, o lazer, enfim, tudo - de maneira equivocada. Em detrimento da interioridade, ganha valor o que está no lado de fora. Com isso, o ser humano é empurrado em direções equivocadas, rumo a verdadeiros abismos.
As estatísticas e pesquisas científicas têm importância determinante, assim como as definições de parâmetros e índices de funcionamentos estabelecidos nos âmbitos governamentais. Há, no entanto, uma urgente necessidade de transformar hábitos diários, todos eles, de cada cidadão, para configurar um tempo novo, na contramão do perigoso caminho que se está trilhando. Já se paga alto preço pela degradação ambiental e os prejuízos podem ser ainda mais graves nas décadas vindouras.
Badalem os sinos da consciência para que se passe dos discursos acadêmicos, científicos, políticos e até religiosos para práticas simples e incidentes, efetivamente sustentáveis, no conjunto da vida de cada um, do amanhecer ao pôr do sol. Assim será possível debelar as irracionalidades que produzem prazeres efêmeros e amarguras duradouras. Sem uma fecunda espiritualidade, as discussões e os propósitos governamentais não surtirão os efeitos esperados.
O investimento nessa espiritualidade requer a consideração da família, da escola, das igrejas na sua capilaridade comunitária, dos ambientes de trabalho, das instâncias todas dos diferentes segmentos da sociedade. Todos esses espaços devem estimular dinâmicas de funcionamento sustentável, promover a reeducação ecológica. Enquanto isso, cada pessoa deve rever a lista de prioridades, avaliar o que de fato conta e é indispensável. Esse exercício deve ter força de incidência nas práticas relacionadas ao consumo, nas programações diversas - mesmo as tradicionais - e no cultivo do gosto pela simplicidade.
Importante retomar o que diz o Papa Francisco na sua carta encíclica sobre o cuidado da casa comum, em vista de uma espiritualidade que transforma: “Admirável é a criatividade de pessoas e grupos que são capazes de dar a volta às limitações do ambiente, modificando os efeitos adversos do condicionalismo e aprendendo a orientar a sua existência no meio da desordem e precariedade”. Como apelo para a espiritualidade, a consciência, badalem os sinos.