A Igreja está no mundo por mandato do seu Senhor e Mestre, Cristo Jesus, desde que aos primeiros apóstolos disse: “ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura”, como narra o evangelista Marcos. Os dois milênios da era cristã estão profundamente marcados pela presença da Igreja no mundo. E esse terceiro milênio desafia ainda mais a presença qualificada e profética da Igreja nesse mundo marcado pelas conquistas, avanços e pela constante evolução.
As últimas décadas - a partir do Concílio Vaticano II, o importante Documento Conciliar Gaudium et Spes - firmou os pés da Igreja nos caminhos desse mundo, ao tratar de seu compromisso em participar das alegrias e tristezas, conquistas e derrotas da humanidade. Um serviço que esta Igreja exerce enfrentando corajosamente as vicissitudes inerentes aos grandes desafios da nossa época. Exatamente nessa esteira, Igreja a serviço do Evangelho e fonte inesgotável de sustentação e modulação da vida, os bispos do Brasil realizaram sua 48ª Assembleia Geral da CNBB. O tema central “Discípulos servidores da Palavra de Deus e a missão da Igreja no mundo”, debruçou-se sobre o coração da razão de ser da Igreja: o anúncio do Evangelho e sua missão no mundo.
A Igreja no mundo não é uma presença de interesse grupal, com configurações institucionais de caráter empresarial em busca dos êxitos de empreendimentos, nem se trata de arrebanhar gente em torno de suas próprias causas. Sua presença no mundo é, antes de tudo, profética. Essa profecia nasce do coração do Evangelho, anúncio, defesa e compromisso com a vida. Exige uma compreensão que resulte em ações e engajamentos que ajudem as sociedades contemporâneas e as diferentes culturas na busca de valores e garantias para a vida de todos.
Por força dessa profecia, a Igreja Católica no Brasil, sensível e se posicionando com transparência quanto às questões que a atingem, associada a outras quarenta instituições, também de importância grande, foi a grande promotora do Projeto de Lei de iniciativa popular, “Ficha Limpa” - já aprovado na Câmara dos Deputados, esperando aprovação no Senado e imediata entrada em vigor. Esse encaminhamento é uma conquista de imprescindível moralização na sociedade e, especialmente no mundo político.
Esse momento oferece aos políticos uma singular oportunidade de qualificação ética e moral do parlamento. Na verdade, esse processo já está em curso e é percebido nos deputados que não tiveram coragem de votar favoravelmente, na Câmara, a aprovação da Lei. O Senado agora passa pelo mesmo desafio, merecendo de todos os eleitores o acompanhamento da posição de cada senador.
A Assembleia Geral também tratou de outras questões. Em fecunda espiritualidade, vivida na solidariedade da convivência e das discussões dos assuntos, os bispos debateram sobre as comunidades eclesiais, convocando o empenho de todos para que a rede de vivência da fé e de anunciadores cresça e garanta esta espetacular capilaridade da presença da Igreja na vida de todos, sobretudo dos pobres. Corajosa foi também a retomada da discussão quanto à reforma agrária, um desafio que continua na sociedade brasileira.
A declaração dos bispos, em relação ao 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, reafirma que “a promoção e defesa dos Direitos Humanos fazem parte da mensagem bíblica e constituem parte da missão da Igreja Católica, em sua ação evangelizadora, especialmente, diante de violações que atentam contra a dignidade humana”. Os bispos reafirmam que o referido PNDH-3 - conforme nota da Presidência da CNBB, de 15 de janeiro deste ano - que “elementos de consenso podem e devem ser implementados imediatamente”. Contudo, são identificadas ações programáticas que não podem ser aceitas. Os bispos reafirmam a sua posição em defesa da vida e da família, da dignidade da mulher, do direito dos pais à educação religiosa e ética de seus filhos, o respeito aos símbolos religiosos, contrária à prática da descriminalização do aborto, ao “casamento” entre pessoas do mesmo sexo e à adoção de crianças por casais homoafetivos.
Ainda atentos aos desdobramentos da Igreja no mundo, O Santo Padre Bento XVI e todos nós celebramos o 44º Dia Mundial das Comunicações Sociais, dia 16 de maio. Este ano o tema é “O padre e a pastoral no mundo digital, novos meios de comunicação a serviço da Palavra”. Fiel à sua missão, sem abrir mão dos valores do Evangelho e das verdades da sua fé, a Igreja dialoga e vai entrando, cada vez mais no mundo digital para anunciar o Evangelho, fonte insubstituível e inesgotável de vida, única razão de ser da Igreja no mundo.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte