Os ecos da celebração do Dia Internacional da Mulher emolduram figuras femininas que chamam a atenção. Seja por sua participação na política, na cultura, no recôndito sacrossanto da família, na vida pública. Também pelas ações influentes e determinantes de rumos novos na sociedade. Esta celebração, em pleno terceiro milênio, aponta para uma série de conquistas com a radical mudança cultural em curso. Sinaliza também direções, rumos para novas mudanças e avanços inadiáveis quanto à participação e à colaboração singular que vêm das mulheres.
Feitos, nomes, situações, conquistas, ações e influências configuram a compreensão da mulher na sociedade contemporânea. Tudo tão importante, no entanto não dispensa, como raiz sustentadora de lutas, conquistas e emancipações, a consideração do que define adequadamente a mulher: sua dignidade.
Essa compreensão é fundamental, pois lança claridade sobre uma significação que antecede posturas políticas e culturais. Não deixa perder o sentido essencial de um significado tão nobre e completo como é o desta criatura de Deus: a mulher.
Vale enriquecer o entendimento sobre o papel decisivo da mulher na sociedade, na família e na cultura, com as reflexões muito atuais e ricas da Carta Apostólica Mulieris Dignitatem do Bem-Aventurado Papa João Paulo II. Em 1988, o Papa chamou a atenção sobre o fato de a dignidade e vocação da mulher estarem assumindo um relevo todo especial nos últimos anos. Já o Concílio Vaticano II afirmava, em sua mensagem final: “Mas a hora vem, a hora chegou, em que a vocação da mulher se realiza em plenitude, a hora em que a mulher adquire no mundo uma influência, um alcance, um poder jamais alcançados até agora. Por isso, no momento em que a humanidade conhece uma mudança tão profunda, as mulheres iluminadas pelo espírito do Evangelho tanto podem ajudar para que a humanidade não decaia.”
Não se trata apenas de reconhecer o direito de participação próprio da mulher, mas entender a sua colaboração como determinante na permanente recomposição da sociedade. Em 1988, o Bem-Aventurado João Paulo II fez uma advertência importante no contexto atual. Disse que é preciso, “entre outras coisas, o aprofundamento dos fundamentos antropológicos e teológicos necessários para resolver os problemas relativos ao significado e à dignidade do ser mulher e do ser homem. Trata-se de compreender a razão e as consequências da decisão do Criador de fazer existir o ser humano como mulher e como homem.”
A compreensão sublinha que a dignidade da mulher está intimamente ligada ao amor que ela recebe e doa. O Bem- Aventurado João Paulo II explicou que desde o princípio a mulher e o homem foram criados e colocados por Deus, precisamente, em uma ordem de amor. Ao entender que no paradigma bíblico a mulher testemunha o amor que recebe para, por sua vez, amar, compreende-se o significado fundamental de sua vocação na Igreja e no mundo. A força moral e espiritual da mulher une-se à consciência de que Deus lhe confia de uma maneira especial o ser humano.
Inspirando-se nessa consciência e nesse ato de confiança, a força moral da mulher exprime-se em numerosas figuras femininas do Antigo Testamento, do tempo de Cristo, das épocas sucessivas, até os nossos dias. É admirável e inspiradora a lista interminável de mulheres como referência de cidadania, religiosidade, competência e determinação. Famílias e, por vezes, nações inteiras, devem muito a essas mulheres admiráveis.
Na nossa época, os sucessos da ciência e da técnica consentem alcançar, num grau até agora desconhecido, um bem-estar material que favorece alguns e marginaliza outros. Desse modo, este progresso unilateral pode comportar também um gradual desaparecimento da sensibilidade - aquilo que é essencialmente humano. Neste sentido, sobretudo nos nossos dias, demanda-se a vocação especial da mulher, a guardiã da sensibilidade.
Assim, desejo que os corações de todos sejam ungidos pela gratidão e reconhecimento à vocação e missão da mulher - cada vez mais protagonista na construção de uma sociedade justa e fecundada pela fé.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte