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A celebridade é frágil

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

 Pode parecer um despropósito a abordagem conjunta sobre celebridade e doença. Particularmente quando se pensa na pessoa célebre como alguém com potência de força, seja física, esportiva, artística ou política - condição contrária à fragilidade do doente. No entanto, a condição humana pode hospedar, num tempo ou noutro, cedo ou tarde, força e fraqueza. O apóstolo Paulo, na primeira carta que escreveu aos Coríntios (capítulo sétimo), adverte: “Os que choram vivam como se não chorassem, e os que estão alegres como se não estivessem alegres; os que fazem compras como se não estivessem adquirindo coisa alguma, e os que tiram proveito do mundo como se não aproveitassem. Pois a figura deste mundo passa”. Essa advertência paulina projeta luzes sobre a realidade da espécie humana, tanto na força quanto na fraqueza. Ninguém é poderoso sempre, possui tudo sempre, tem força física sempre. E mais, ninguém está imune ao sofrimento e à dor, seja na própria vida, na família ou nas instituições que frequenta. Nem os amigos estão imunes. Essa verdade, que constantemente deve ser considerada, devolve cada um à realidade da sua condição de ser humano. Pela força da sabedoria, demove do orgulho e da soberba, além de corrigir o coração e a inteligência de toda indiferença causadora da falta de solidariedade, que impede a igualdade e perpetua as discriminações. 

A consideração da fraqueza que se hospeda no ser humano, seja no enfermo, no pobre, no outro que pode menos, tem sido ofuscada, ilusoriamente, pela apelação das disputas e apegos pelo poder. Não menos, e de modo imoral, seduzindo multidões e tirando, como caça-níqueis, o seu dinheiro, por meio de espetáculos questionáveis, como é o caso do Big Brother. Na verdade, sob o apanágio do poder e dos momentos de celebridade, mesmo com a exposição do próprio corpo, da privacidade e dos desejos escondidos de ter e poder mais, o que se oferece em tal espetáculo é digno de lástima. Assiste-se a um show que mostra a fragilidade humana, a falta de valores e do sentido de dignidade e respeito. Voltar o olhar para quem precisa, especialmente o doente contracenando com a condição de celebridade, é um exercício educativo, oportuno na vida de qualquer um. Seja para os jovens de modo a não viverem na ilusão e chegarem despreparados ao lugar e à condição que todos chegam, ou os adultos, no auge da ascensão e conquistas, para que o orgulho e a soberba não os derrubem, com celeridade inusitada, dos postos e funções de um momento glorioso e passageiro. 

Não por acaso havia o costume de, no momento glorioso das entronizações reais, entre louros, coroas e ovações, apresentar a lápide da celebridade com a inscrição, “Aqui jaz”. Isso para indicar o lugar de sua sepultura e sua condição final, que não será definitiva - em termos de condenação - para aqueles que praticam o bem, são misericordiosos, humildes e depositam a confiança em Deus.   

A propósito, o Papa Bento 16 cita, em bela mensagem para o Dia Mundial do Doente, em 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes, o que disse o apóstolo Pedro (1ª Carta 2,24): “Pelas suas chagas fostes curados”. Isso, para reavivar na memória de todos que o Filho de Deus sofreu, morreu, mas ressuscitou. Suas chagas são o sinal da redenção, do perdão e da reconciliação, uma prova para a fé de todos os discípulos. O Papa dirige-se aos doentes e sofredores relembrando que “é justamente através das chagas de Cristo que podemos ver, com olhos de esperança, todos os males que afligem a humanidade. Ressuscitando, o Senhor não tirou o sofrimento e o mal do mundo, mas os extirpou pela raiz. À prepotência do mal opôs a onipotência do seu amor”.

Nesta semana que antecede o Dia Mundial do Doente vale acolher o convite para olhar os enfermos nos hospitais, em casa, nos asilos, casas de repouso ou nas clínicas e abrigos. Que crianças, jovens, adultos e velhos, com reverência traduzida em gestos de solidariedade, ofertas e presença consoladora, sejam um apelo para que haja mais investimentos em saúde, com boas estruturas médicas para todos, em especial os mais pobres e sofredores. Vale lembrar as palavras de Cristo para o juízo final, ao falar da garantia para a participação no Reino de Deus: “Estive doente e me visitastes”. 

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

 

 

    

 

 

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