O trabalho pastoral e social não tem limite nem fim em um país como o nosso, onde nem todos têm a oportunidade de usufrir ao menos do que é básico para sobrevivência ou essencial para alimentar o espírito. Na realidade da paróquia onde atuo com alguns movimentos sociais, como deve ocorrer em outras tantas comunidades de fé, convivemos, ainda, com a necessidade de aperfeiçoar nosso trabalho. Faço questão de ressaltar as características positivas de nossas ações sem, no entanto, ficar indiferente a outras tantas que precisamos melhorar, e com urgência.
Não se trata, contudo, de se ter a pretensão de solucionar os problemas todos, de uma só vez. O mais importante, nesta caminhada, é torná-los visíveis, para que possamos aprender com eles e colaborar com quem vive desafios semelhantes, a aperfeiçoar a ação evangelizadora na família, no bairro, na sociedade, na Igreja e, enfim, no mundo.
Temos e abrigamos em nossa Paróquia diversas ações sociais visando atender às necessidades materiais, psicológicas, físicas, espirituais e de convivência social da sociedade. Somos um povo carente de ações benéficas e da presença de Deus. Embora Ele esteja sempre conosco e nós o busquemos incessantemente, convivemos com o desalento de não encontrá-lo como gostaríamos ou queremos, como o idealizamos dentro de nossas limitações. Um processo que nos faz andar por caminhos tortuosos.
Dos diversos movimentos e ações que desenvolvemos, citarei alguns, e ao invés de desprezar os que não citarei, ressaltarei o bem, feito pelos citados.
Nossa sociedade tem a necessidade de ver o rosto de Deus em seus irmãos |
Temos o grupo ‘Mãos Amigas’, onde senhoras disponibilizam seu tempo para ensinar a quem deseja aprender a bordar, pintar e trabalhar sua energia com arte, criando artesanato. Uma atividade que, além ajudar na socialização, funciona como geradora de renda, reforçando o orçamento doméstico. Iniciativa que se traduz na prática do conselho de Jesus, quando se acolhe e apoia as pessoas carentes de atenção e de amor.
Aos jovens, oferecemos lazer seguro e educação ética e moral, através da ‘Capoeira de Angola’, oportunidade para crianças e adolescentes educarem o corpo e a mente, direcionando a enorme energia que possuem para a convivência social pacífica e benéfica à sociedade.
O grupo dos ‘Alcoólicos Anônimos’ atua de maneira silenciosa, mas efetiva na reeducação e na reabilitação das pessoas com dependência, o que pode ser uma fuga psicológica aos desgostos da vida.
Já o grupo ‘Neuróticos Anônimos’ escuta as dores e sofrimentos que cada um tem para partilhar. Todos aprendem que, mutuamente, podem se ajudar. A partilha faz crescer.
Ainda atendendo às necessidades físicas, a ação voluntária do projeto ‘EquoVida’ – uma espécie de fisioterapia com utilização de cavalos – permite às pessoas com alguma necessidade física, psicológica ou motora melhorarem o desempenho nas tarefas cotidianas. O trabalho entre animais e pessoas causa um bem sem tamanho para esses pequeninos do Reino.
Há o projeto de ressocialização da ‘APAC – Santa Luzia’, que ao devolver a dignidade ao encarcerado, tratando-o com respeito e dedicando-se a que ele se recupere de seu delito, propõe uma reabilitação espiritual, social, ética e moral. Nesse projeto, os detentos estudam, oram, trabalham e aprendem, novamente, um significado para a palavra vida e liberdade.
Com a Pastoral da Saúde, voluntários trabalham atendendo as necessidades físicas das pessoas com atenção, carinho e respeito, oferecendo alternativas à automedicaçao e ao uso de produtos químicos muitas vezes consumidos, indiscriminadamente.
O bem está presente em cada filho de Deus como a semente dentro da terra, pulsando em potência, esperando a chuva para brotar, crescer e, assim, rendermos frutos 100, 60 ou 30 por 1 |
Nesses movimentos e em outros, encontramos a face de Deus que nos diz: “Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’… Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’ Mt 25,35-36.40
Temos todos a necessidade de ver o rosto de Deus nos irmãos. Para isso, é preciso viver em conformidade com o Coração de Jesus e dar-lhe voz e vez em nossa vida, agindo como Ele agiu. Por quê? Porque somos todos pobres de Deus e, juntos, desejamos construir um Reino de amor e felicidade.
Nossa Igreja é muito rica de movimentos e pastorais que atuam para o bem das pessoas, mas uma ferida deve ser curada. Nosso sentimento, em muitos casos, ainda é de pertença ao grupo pelo qual lutamos e nos entregamos de ‘corpo e alma’, vestimos a camisa, porém, nos equecemos de que nosso sentimento deve ser de pertença a Deus. Os grupos dos quais participamos devem nos unir, nos fazer trabalhar juntos, pois, nesse caso, somando se cresce, mas nosso olhar deve estar fixo em Cristo.
Quando se perde essa perspectiva, infelizmente, o que vemos são alguns grupos se engalfinhando, brigando por espaço, por sua vez. Devemos brigar sim, mas em outro sentido, no de combater, juntos, a injustiça, a falta de ética e de educação, a imoralidade e a perda de valores tão caros à sociedade, que foi construída sobre eles.
É preciso lembrar, por vezes, que nossa sociedade se desenvolveu sobre o alicerce da Igreja mas, ao contrário, muitas vezes desvaloriza-se o conhecimento que ela construiu ao longo de dois milênios e nos repassou, sendo voz e presença de Deus na counidade. E é essa atuação pedagógica da Igreja que possibilitou a existência de faculdades, escolas e educandários. Os profissionais que atuam hoje em todas as áreas, têm direta ou indiretamente, a influência dessa ação.
Não importa sua área de atuação na sociedade, meu desejo é que cada um seja feliz no que faz e que transpareça o rosto de Deus em suas atitudes. Desejo a todos que esse texto crie uma reflexão em cada um a respeito de seu lugar na sociedade, seu “modus operandi”, sua atuação para que Deus aja no mundo através de nós. Isto se faz possível, pois o bem está presente em cada filho de Deus como a semente dentro da terra, pulsando em potência, esperando a chuva para brotar, crescer e, assim, render frutos 100, 60 ou 30 por 1.
Padre Gustavo Tadeu Vieira Lopes
Vigário da Paróquia São João Batista, Santa Luzia (MG)
“Sou apenas um homem.”At 10,26